sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Mentiras e muitas ilações

No último encontro nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), realizado em Fortaleza no final do mês passado, o presidente da legenda, Rui Falcão, disse que “foi durante os governos de Lula e Dilma que se estabeleceram como política de Estado as principais políticas de combate à Corrupção”. Para o delírio da galera presente, exclusivamente petista, também mencionou que o PT tem “o compromisso histórico de combater implacavelmente a corrupção”.

A tática petista é a de dissimular os fatos, para que os “cumpanheiros” os propaguem e os menos informados acreditem nas versões do partido. Daí, sempre são repetitivos em suas ilações. Assim fez Falcão em Fortaleza ao dizer que “hoje a corrupção aparece mais, ao contrário do passado, é porque ela, pela primeira vez na história do país, está sendo sistematicamente combatida”. Entretanto, para os que apreciam a boa informação, a mentira - por mais que seja repetida - nunca se transformará em verdade.

É verdade inquestionável que a Polícia Federal (PF), o Ministério Público (MP), as instituições da Justiça e de controle do governo são órgãos do Estado brasileiro, independentes da presidência da República e do partido político de ocasião no poder. Outra verdade, por mérito, é que a PF foi aparelhada no governo de Fernando Henrique Cardoso. Não devemos esquecer-nos da apreensão de R$ 1,34 milhão de dólares, em 1º de abril de 2002, na empresa Lunus Participações, da ex-governadora Roseane Sarney e seu ex-marido Jorge Murad Junior.

Outra verdade é que o PT se aliou ao que há de mais retrógrado e pior na política brasileira para governar o país. Estão aí, como testemunhas, José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá, Paulo Maluf, Alfredo Nascimento, Valdir Raupp, entre tantos outros. Além do mais, tem o próprio quadro do partido, que na maioria de santo não tem nada!

Portanto, ao contrário do que diz Rui Falcão, o PT não tem demonstrado compromisso em combater de fato a corrupção. Pelo contrário, não faltam exemplos da intenção de sempre escondê-la. Foi assim no MENSALÃO, quando propagaram a versão de que “o MENSALÃO não existiu”, como em cada um dos escândalos que surgiu em seus governos, quando sempre trabalhou para jogar a sujeira para debaixo do tapete.

Se o PT fosse exemplo, expulsaria de seus quadros os corruptos, e não os defenderia, a começar pelo secretário de Finanças e Planejamento do partido, o Sr. João Vaccari Netto, atolado de lama até o pescoço no recente escândalo do PETROLÃO. Este último escândalo de corrupção transformou o MENSALÃO, até então o maior da história republicana do Brasil, em café pequeno.

Entretanto, Vaccari Neto é também ovacionado no partido, mesmo com ficha suja, por réu no caso Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), onde responde por formação de quadrilha, estelionato e tentativa de estelionato, falsidade ideológica e crime de lavagem de dinheiro.

Segundo o promotor de Justiça de São Paulo, José Carlos Blant, “mais que uma empresa particular, a Bancoop é uma organização criminosa que visa dinheiro e poder à custa de muitas famílias que acreditaram num projeto habitacional e tiveram seus bens efetivamente dilapidados ao longo dos anos, inclusive para financiamento de campanhas eleitorais do PT”.

“Quando a Bancoop quebrou, em 2006, deixou mais de 3500 famílias na rua da amargura”, e “o rombo de 100 milhões de reais no caixa”, conforme reportagem veiculada no último número da revista “Veja”. Em um dos poucos prédios concluídos está um apartamento tríplex do ex-presidente e “bancário” Lula da Silva, no Guarujá (SP), entregue pela construtora OAS, cujos diretores se tornaram réus do PETROLÃO, pela participação na operação “Lava Jato”.


Certamente que a corrupção no Brasil não começou agora. No entanto, é inquestionável que na era petista ela foi sofisticada e indiscutivelmente ampliada.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Gestão desastrosa e corrupção desenfreada

No dia 9 de dezembro celebrou-se em todo o mundo o Dia Internacional de Combate à Corrupção. Este dia foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para marcar a data da assinatura da Convenção Internacional contra a Corrupção, no ano de 2003. Portanto, uma série de iniciativas para alertar a todos, sobre os efeitos nocivos da corrupção e proposições de medidas para combatê-la, deveriam ser tomadas, tanto pelos órgãos governamentais, como também pelos segmentos representativos da sociedade.

Entretanto, poucas iniciativas foram vistas entre nós para marcar esse dia. O que sobressaiu foram poucos eventos programados por alguns órgãos públicos ligados ao tema, tais como a Controladoria Geral da União (CGU), a Procuradoria Geral da União (PGU) e atos isolados pelos estados da Federação. Das Confederações Sindicais, tais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) ou dos movimentos sociais não se viu qualquer evento nesse sentido. Nada!

Todavia, se esse dia fosse um motivo para defender a corrupção e alguns corruptos e corruptores, com certeza não faltariam manifestações e atos de agravo, a começar pelo movimento dos sem terra (MST) e dos sem teto (MTST), bem como da própria CUT. Esses movimentos se tornaram especialistas em defender o malfeito, para o proveito próprio. Hoje os seus líderes aprenderam a enriquecer a custas do erário público e dos recursos transferidos dos trabalhadores para os sindicatos.

Parece um círculo sistêmico e vicioso: o governo da ocasião alimenta esses movimentos com recursos públicos, fortalecendo-os. Por outro lado, em retribuição, eles dão sustentação à corrupção do governo, em troca de suas mazelas.

Atualmente o Brasil ocupa o 69º lugar no ranking mundial da corrupção, segundo a ONG Transparência Internacional, recentemente divulgado. Em uma escala de 0 a 100, não conseguimos sequer chegar a 50 pontos, o que nos classifica como um país extremamente corrupto, não bastasse ocuparmos a primeira posição em número de homicídios, com quase 15% das ocorrências contabilizadas em todo o mundo.

No Brasil, o maior destaque do Dia Internacional de Combate à Corrupção foi a Conferência Internacional de Combate à Corrupção, realizada em Brasília – DF na última terça-feira. Nesse evento, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse em alto e bom som que “a corrupção envergonha nosso país”, defendendo de forma veemente a prisão dos corruptos e corruptores, com o confisco de bens e valores dos maus dirigentes públicos.

Um assunto em pauta daquela Conferência foi o escândalo do PETROLÃO, que vem ganhando as páginas dos principais jornais do mundo, pelo montante de valores desviados da maior empresa brasileira, a Petrobras. Por isto, Henrique Janot mencionou que “envergonha-nos estar onde estamos”, pedindo de forma clara a substituição de cada um dos diretores da empresa, devido ao que classifica como “gestão desastrosa”.

Porém, mais desastrosa foi a reação do governo, por meio do ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, ao dizer que “não há nenhuma razão objetiva para que os atuais gestores da Petrobras sejam afastados do comando”. Lembremos, então, apenas o teatro da CPI do Senado Federal, quando as perguntas e respostas foram ensaiadas com a aquiescência da direção da empresa e dos parlamentares governistas. Para que jogar a sujeira para debaixo do tapete?


Por fim, na questão de combate à corrupção temos muita coisa para fazer, e muito pouco a comemorar.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Refazendo o discurso para consertar os estragos

Por mais que o governo petista venha maquiando os acontecimentos à sua ótica, da forma como tem feito a chamada “contabilidade criativa”, para “melhorar” (Claro, apenas pela aparência!) o resultado das contas públicas, não dá para mudar a realidade. E os números demonstram que a situação macroeconômica do Brasil foi de mal a pior nos últimos quatro anos da gestão de Guido Mantega no Ministério da Fazenda, com intervenções diretas da presidente Dilma Rousseff.

Não é por outro motivo que atualmente Guido Mantega seja um ex-ministro morto no cargo, mas com o prêmio de consolação de vir a ser indicado para representar o Brasil em algum organismo no estrangeiro, “pelos bons serviços prestados”. Quem sabe no novo Banco de Desenvolvimento, recentemente criado pelos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), onde o Brasil ocupará a presidência do Conselho de Administração?

Como “bons serviços”, lembremos de algumas pérolas de Guido Mantega: das previsões do crescimento econômico (do PIB), sempre muito aquém da realidade; da afirmação de que “a confiança externa no Brasil cresceu”, no momento em que a classificação de risco Brasil aumentava; de que “o resultado das eleições mostrou que o brasileiro está satisfeito com a política econômica”, enquanto mais de 60% dos eleitores votaram na oposição ou deixaram de votar no governo.

Entretanto, a passagem de Guido Mantega pelo Ministério da Fazenda deixa uma marca indelével e que não deve ser esquecida: o rumo ao caos em que a economia brasileira adernou ao seguir a cartilha econômica genuinamente petista, conforme empreendida no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.

Então, para consertar os estragos, a presidente Dilma Rousseff sinaliza em fazer o que no período eleitoral jurava que jamais faria. Assim, agora ela acerta ao sinalizar a nomeação de Joaquim Levy, para o Ministério da Fazenda, e de Nelson Barbosa, para o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Para a presidência do Banco Central a expectativa é da continuidade de Alexandre Tombini, mas com maior autonomia.

O doutor em economia Joaquim Levy vem das hastes tucanas, onde exerceu as funções de Secretário-Adjunto do Tesouro Nacional e de Assessor Especial do Ministro da Fazenda, no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois, já no período do ex-ministro Antônio Palocci, foi nomeado Secretário do Tesouro Nacional, onde ao lado do também economista Murilo Portugal alcançou expressivos resultados, no mais exitoso período da política econômica do ex-presidente Lula da Silva.

Mesmo assim, ambos eram duramente criticados (e muitas vezes até demonizados) pelas alas radicais do Partido dos Trabalhadores (PT), quer por não pertencerem aos quadros ou pela adoção de uma política econômica mais ortodoxa, com o controle mais rígido dos gastos do governo. Já o economista Nelson Barbosa é bem palatável no meio petista, por moderado. No entanto, também é respeitado pelo mercado.


Tudo indica, portanto, que o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff terá bons nomes para arrumar a casa, hoje, totalmente desmantelada. Tanto Joaquim Levy como Nelson Barbosa são profissionais preparados, que não aceitarão as manobras contábeis e a falta de transparência da política econômica atual. Pela credibilidade da equipe econômica que se anuncia, podemos esperar melhor relação e credibilidade com o mercado, tal como se fosse Armindo Fraga um dos ministros nomeados.  

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Apocalípse, agora

Fernando Gabeira – Publicado em “O Estado de São Paulo”.
Passada uma semana do juízo final, ainda me pergunto cadê a Dilma. Ela disse que as contas públicas estavam sob controle e elas aparecem com imenso rombo. Como superar essa traição da aritmética? Uma lei que altere as regras. A partir de hoje, dois e dois são cinco, revogam-se as disposições em contrário.
Os sonhos de hegemonia do PT invadem a matemática, como Lysenko invadiu a biologia nos anos 30 na Rússia, decretando que a genética era uma ciência burguesa. A diferença é que lá matavam os cientistas. Aqui tenho toda a liberdade para dizer que mentem.
Cadê você, Dilma? Disse que o desmatamento na Amazônia estava sob controle e desaba sobre nós o aumento de 122% no mês de outubro. Por mais cética que possa ser, você vai acabar encontrando um elo entre o desmatamento na Amazônia e a seca no Sudeste.
Cadê você, Dilma? Atacou Marina porque sua colaboradora em educação era da família de banqueiros; atacou Aécio porque indicou um homem do mercado, dos mais talentosos, para ministro da Fazenda. E hoje você procura com uma lanterna alguém do mercado que assuma o ministério.
Podia parar por aqui. Mas sua declaração na Austrália sobre a prisão dos empreiteiros foi fantástica. O Brasil vai mudar, não é mais como no passado, quando se fazia vista grossa para a corrupção. Não se lembrou de que seu governo bombardeou a CPI. Nem que a Petrobrás fez um inquérito vazio sobre corrupção na compra de plataformas. A SBM holandesa confessou que gastou US$ 139 milhões em propina.
E Pasadena, companheira?
O PT está aí há 12 anos. Lula vez vista grossa para a corrupção? Se você quer definir uma diferença, não se esqueça de que o homem do PT na Petrobrás foi preso. Ele é amigo do tesoureiro do PT. A cunhada do tesoureiro do PT foi levada a depor porque recebeu grana em seu apartamento em São Paulo.
De que passado você fala, Dilma? Como acha que vai conseguir se desvencilhar dele? A grana de suas campanhas foi um maná que caiu dos céus?
Um dos traços do PT é sempre criar uma versão vitoriosa para suas trapalhadas. José Dirceu ergueu o punho cerrado, entrando na prisão, como se fosse o herói de uma nobre resistência. Se Dilma e Lula, por acaso, um dia forem presos, certamente, dirão: nunca antes neste país um presidente determinou que prendessem a si próprio.
Embora fosse um fruto do movimento de arte moderna no Brasil, Macunaíma é um herói pós-moderno. Ele se move com desenvoltura num universo onde as versões predominam sobre as evidências. Nesta primeira semana do juízo final, pressinto a possibilidade de uma volta ao realismo. É muito aflitivo ver o País nessa situação, enquanto robôs pousam em cometas e EUA e China concordam em reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O realismo precisa chegar rápido para a equação, pelo menos, de dois problemas urgentes: água e energia. Lobão é o ministro da energia e foi citado no escândalo. Com perdão da rima, paira sobre o Lobão a espada do petrolão. Como é que um homem desses pode enfrentar os desafios modernos da energia, sobretudo a autoprodução por fontes renováveis?
Grandes obras ainda são necessárias. Mas enquanto houver gente querendo abarcar o mundo a partir das estatais, empreiteiras pautando os projetos, como foi o caso da Petrobrás, vamos patinar. O mesmo vale para o saneamento, que pode ser feito também por pequenas iniciativas e técnicas, adequadas ao lugar.
Os homens das empreiteiras foram presos no dia do juízo final. Este pode ser um caminho não apenas para mudar a política no Brasil, mas mudar também o planejamento. A crise hídrica mostra como o mundo girou e a gente ficou no mesmo lugar. Existe planejamento, mas baseado em regularidades que estão indo água abaixo com as mudanças climáticas.
O dia do juízo final não foi o último dia da vida. É preciso que isso avance rápido porque um ano de dificuldades nos espera. Não adianta Dilma dizer que toda a sua política foi para manter o emprego. Em outubro, tenho 30.283 razões para desmentir sua fala de campanha: postos de trabalho perdidos no período.
Não será derrubando a aritmética, driblando os fatos que o governo conseguirá sair do seu labirinto. O desejo de controlar a realidade se estende ao controle da própria oposição. O ministro da Justiça dá entrevista para dizer como a oposição se deve comportar diante do maior escândalo da História. Se depois de saquear a Petrobrás um governo adversário aconselhasse ao mais ingênuo dos petistas como se comportar, ele riria na cara do interlocutor. Só não rio mais porque ando preocupado. Essa mistura de preocupação e riso me faz sentir personagem de uma tragicomédia.
Em 2003, disse que o PT tinha morrido como símbolo de renovação. Me enganei. O PT morreu muitas vezes mais. Tenho de recorrer ao Livro Tibetano dos Mortos, que aconselha a seguir o caminho depois da morte, sem apego, em busca da reencarnação. Em termos políticos, seria render-se à evidência de que saqueou a Petrobrás, comprou, de novo, a base aliada e mergulhar numa profunda reflexão autocrítica. No momento, negam tudo, mas isso o Livro Tibetano também prevê: o apego à vida passada é muito comum. Certas almas não vão embora fácil.
A crise é um excelente psicodrama: o ceticismo político, a engrenagem que liga governo a empreiteiras, o desprezo pelas evidências, tudo isso vira material didático.
Dizem que Dilma vive uma tempestade perfeita com a conjunção de tantos fatores negativos. Navegar num tempo assim, só com o preciso conhecimento que o velho Zé do Peixe tinha da costa de Aracaju, pedra por pedra, corrente por corrente.
No mar revolto, sob a tempestade, os raios e trovões não obedecem aos marqueteiros. Por que obedeceriam?

O ministro da Justiça vê o incômodo de um terceiro turno. Não haverá terceiro turno, e, sim, terceiro ato. E ato final de uma peça de teatro é, quase sempre, aquele em que os personagens se revelam. Por que esses olhos tão grandes? Por que esse nariz tão grande, as mãos tão grandes, vovozinha?

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Prematuridade – Um trabalho dedicado e competente

Na última segunda-feira, dia 17 de novembro, foi o Dia Mundial da Prematuridade. Este dia no Brasil se estende na Semana Internacional de Sensibilização da Prematuridade. Esta data foi instituída em 2009, mas no Brasil começou a ser celebrada no ano de 2012, durante o XXI Congresso Brasileiro de Perinatologia, que aconteceu na cidade de Curitiba, com o objetivo de conscientizar sobre a importância da prevenção de partos prematuros. 

Atualmente, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a prematuridade é responsável por quase metade do número de mortes de recém-natos no mundo. No Brasil, em torno de 12% do total de nascimentos é de partos prematuros, que acontecem antes de 37 semanas de gestação, segundo o Ministério da Saúde - MS. Um percentual bastante elevado, uma vez que a prematuridade pode ser evitada, principalmente se realizado um pré-natal de qualidade.

De acordo com a OMS, o número de bebês nascidos de partos prematuros no mundo é de cerca de 15 milhões por ano. No Brasil este número chega à cifra de 280 mil, também no período de um ano. O custo do tratamento é enorme, pois além de cuidados especiais em Unidades de Terapia Intensiva (UTI’s) há necessidade de medicamentos extremamente onerosos, tais como os sulfactantes.

Pelos últimos indicadores disponibilizados pelo MS, relativos ao ano de 2011, a maior taxa de mortalidade por prematuridade no Brasil é a do estado do Amapá, com 17,0 mortes para cada 1.000 nascimentos; depois vem a do Piauí, com 15,4 mortes para cada 1.000. As menores são: Santa Catarina, com 7,4 para cada 1.000 nascimentos; seguida por São Paulo, com 7,6 mortes para cada 1.000.

No Espírito Santo, no mesmo período, a mortalidade por prematuridade foi de 8,4 mortes para cada mil nascimentos. Essa taxa é bem menor que a média nacional, de 10,0 mortes para cada 1.000.

Nos últimos anos, a média da mortalidade por prematuridade do Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (HECI) tem se mostrado menor que a média apurada para o Espírito Santo. Considerando que a maternidade do HECI é referência para o atendimento de gestantes com gravidez de risco e cardiopediatria, pode-se dizer que aquela unidade trabalha com indicadores excelentes, também bem menores que a média nacional.

Isto se deve ao trabalho profícuo desenvolvido na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) pela equipe médica liderada pela Dra. Andressa Mussi Soares e todo trabalhos multidisciplinar realizado no Serviço. Dra. Andressa é hoje uma referência nacional em cardiopediatria, e profissional de elevadíssima capacidade técnica. Por isto, conseguiu formar uma equipe de absoluta competência.

Antes da UTI Neonatal do HECI, os bebês prematuros da região sul do Espírito Santo, principalmente os de parto precoce (antes de 30 semanas), tinham pouquíssimas chances de vida. Hoje, depois de 11 anos de funcionamento, chega-se a conclusão que a UTI Neonatal do HECI vem tendo importância de caráter fundamental.

Um bom exemplo é o sucesso na reabilitação de prematuros com menos de 500 gramas. Isto é um fato raríssimo, considerando a realidade brasileira. Ressalta-se que a UTI Neonatal do HECI tem inovado na utilização de modernas tecnologias e terapêuticas, tal como o uso do óxido nítrico, que foi a primeira unidade a utilizá-lo no Espírito Santo, há cerca de 10 anos.


Então, fica uma constatação apenas: “Santos de casa” muitas vezes fazem milagres...

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Dilma, indevidamente

Por Dora Kramer – Publicado em “O Estado de São Paulo”
Partindo do pressuposto de que não lhe falha a memória e de que o Brasil não sofre epidemia de amnésia, a presidente Dilma Rousseff incorre em ato de deliberada apropriação indébita ao atribuir ao seu governo o marco histórico no combate à corrupção, devido ao desmonte do esquema de ilícitos em funcionamento na Petrobrás entre 2003 e 2012.
Da Austrália, a presidente se pronunciou dizendo que esse é um escândalo de características especiais. Segundo ela, "o primeiro a ser investigado". E por isso mesmo, um divisor, "capaz de mudar para sempre as relações entre a sociedade brasileira, o Estado brasileiro e as empresas privadas", em relação à impunidade. Avocou para si o mérito, quando ele se deve a instituições que funcionaram com independência: Congresso, Polícia Federal, Ministério Público e Supremo Tribuna Federal.
Em matéria de amplitude há, de fato, ineditismo, como demonstraram as prisões dos executivos de empreiteiras na última sexta-feira e já indicam as notícias sobre a próxima fase da Operação Lava Jato sobre o envolvimento de algumas dezenas de políticos. Nem de longe, porém, é possível dizer que esse seja o primeiro escândalo a ser investigado e muito menos que seja a causa de mudança de procedimentos.
Na realidade, é consequência de um escândalo produzido pelo PT, o mensalão: desde a denúncia de Roberto Jefferson, passando pela bem sucedida CPI dos Correios, o trabalho do Ministério Público, a denúncia do procurador-geral Antonio Fernando de Souza, o julgamento e as condenações no Supremo Tribunal Federal, até as prisões dos réus.
Enquanto os políticos estão quase todos cumprindo suas penas em prisão domiciliar, os operadores do esquema nos bancos e agências de publicidade continuam na cadeia. O principal deles, Marcos Valério ainda ficará por muito tempo em regime fechado. Confiou na influência dos donos do poder e calou-se na CPI e na Justiça. Quando quis fazer delação premiada era tarde.
Deu-se ali a mudança de paradigma que serviu de exemplo e, depois de alguma resistência, incentivou Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef a optarem pelos acordos de delação premiada. A eles recentemente juntaram-se outros, no que em breve talvez seja uma fila.
Com base nas informações prestadas em exaustivos depoimentos é que a polícia está conseguindo desmontar o que a PF já havia chamado de "organização criminosa" montada dentro da Petrobrás. Isso ao tempo em que o governo tratava o assunto em estado de total negação de que houvesse qualquer tipo de irregularidade na estatal - no máximo se admitia erros administrativos, nunca decorrentes de "má-fé", muito menos de intenções delituosas.
De onde não se pode aceitar como verossímil a versão de que foi a presidente quem "mandou" investigar. Inclusive porque o trabalho foi feito em conjunto pela Polícia Federal, Ministério Público e Justiça do Paraná, instâncias cuja autonomia é assegurada pela Constituição.
Até meados do ano, antes de aparecerem evidências mais consistentes, o governo só fez trabalhar intensamente para inviabilizar as comissões de inquérito no Congresso que pretendiam investigar os negócios na Petrobrás, tentar adiar decisões do Tribunal de Contas da União sobre a refinaria de Pasadena e por várias vezes ministros, políticos governistas e a própria presidente insistiam na versão de que quem lança suspeições sobre a empresa tinha como objetivo enfraquecer um patrimônio nacional e impor prejuízos políticos à candidatura da presidente.
Houve mesmo um momento em que Dilma pôs em dúvida a veracidade do conteúdo das delações premiadas e acusou a oposição de usar as "supostas denúncias" para dar "um golpe" no País.
Diante de tanta contradição e ambiguidade, é de puro exercício de ficção transformar o governo de agente a combatente da corrupção na Petrobrás.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Um grande Presidente



No último dia 13 de outubro foi para perto de DEUS o nosso querido presidente, Dr. José Affonso Coelho. Dia 17 próximo, segunda-feira, ele completaria 82 anos. Pouco antes da sua morte, o Espírito Santo havia perdido o seu filho, Deputado Glauber Coelho. A dor havia sido bastante profunda, diríamos que imensurável. Dr. José Affonso a suportou em silêncio. Nós que convivíamos diretamente com ele tínhamos a dimensão do amor e admiração que sentia pelo filho. Glauber era a convergência da família.

Outro ponto de referência na vida do Dr. José Affonso era o Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (HECI), ao qual se dedicou como um verdadeiro BENEMÉRITO, por 25 anos de sua vida, sendo mais de 20 anos como presidente do Conselho Deliberativo. Durante todo esse tempo foi um exemplo de doação com altruísmo, honestidade (no mais amplo sentido) e companheirismo, valores tão raros nos dias de hoje.

Pouco antes de sua partida tivemos a oportunidade de conversar sobre o setor da saúde na nossa região. Assim, relembramos: a trajetória do HECI, desde a presidência de Anarim, quando reabrimos o hospital conseguindo recuperar a sua credibilidade; a melhoria dos serviços e os avanços conquistados nos últimos anos em benefício da região; a coragem do HECI em assumir o antigo Hospital e Maternidade “Santa Helena”, com uma dívida enorme, unicamente, para não deixar a população desassistida. 

Naquela ocasião também tivemos a oportunidade de lembrá-lo de que o trabalho realizado frutificara em função de que todos os recursos financeiros haviam sido aplicados da forma adequada e que assim cumprimos da melhor forma com nossas obrigações. Sua resposta veio através de um simples sorriso, demonstrando contentamento e aprovação.

No HECI, o Dr. José Affonso era queridíssimo por todos que tiveram o privilégio da sua convivência. E não foram poucos, haja vista a sua presença quase que diária ao hospital. O mesmo também aconteceu nos lugares pelos quais passou. Foi assim no Ateneu Cachoeirense, na Maçonaria, no Rotary Clube Cachoeiro Oeste, no CETEMAG (Centro Tecnológico do Mármore e Granito), no Sindirochas, na FINDES (Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo) e em suas empresas. Enfim, não é exagero dizer em cada lugar...

Destacou-se também por sua absoluta fé em DEUS, deixando o exímio exemplo de verdadeiro presbítero e cristão, como membro da Primeira Igreja Presbiteriana, da Rua Moreira, a qual representava com absoluto empenho nas Assembléias do HECI.

Mas, além da elevada fé nunca deixou de lado a preocupação com os amigos e colaboradores. Neste aspecto, não lhe faltavam palavras de incentivo, sempre com um enorme prazer, sentindo-se feliz com o sucesso e realização de cada um. Além disso, era um desenvolvimentista e gostava de acompanhar o progresso tanto do município, do Espírito Santo e do nosso país. Sobretudo porque sabia dessa condicionante para o desenvolvimento social e humano.
 

A partida de Dr. José Affonso Coelho nos deixou mais pobres em nossa convivência diária. No entanto, não podemos jamais esquecer que os grandes homens não morrem, porque deixam para os que ficam os seus exemplos.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Consolidando o Estado nacional.

Período Regencial

Após a independência do Brasil, os portugueses continuavam a dominar o império, a começar pelo círculo em volta do imperador D. Pedro I, que também nascera em Portugal. O mesmo acontecia em todas as províncias, onde os portugueses ocupavam os melhores cargos do governo, dominavam as atividades dos serviços e do comércio e detinham as melhores patentes das tropas de primeira linha. Tudo isso motivava enorme insatisfação dos brasileiros.
Ao término da Guerra da Cisplatina, em 1828, o Brasil entrou em um período de crise, devido ao endividamento com a guerra. O derrame de moedas falsas de cobre e o aumento no custo de vida avultaram ainda mais a impopularidade de D. Pedro I junto aos brasileiros. Estes culpavam os portugueses, que apoiavam o imperador, pela carestia e todos os males do império.
As rusgas entre brasileiros e lusitanos acabaram por deflagrar violentos conflitos de rua, principalmente no Rio de Janeiro, até que no dia 5 de abril de 1831 D. Pedro I decide destituir o “ministério de brasileiros”, nomeado pouco dias antes para amenizar a crise. A nomeação de ex-ministros impopulares da aristocracia lusa acende o estopim que faltava para tornar incontrolável os protestos.
Na manhã do dia 6 de abril, brasileiros de todas as classes começam a afluir pelas principais ruas do Rio de Janeiro em manifestações, concentrando-se depois no Campo de Sant’Anna, onde intensificaram os protestos contra D.Pedro I. Entretanto, o imperador, resoluto, não cede às pressões para restituir o ministério deposto. Por fim, a própria Guarda de Honra e o Batalhão do Imperador também se rebelam. Enfraquecido, na madrugada do dia 7 de abril D. Pedro renuncia em favor de seu filho, o príncipe Pedro de Alcântara, então com 5 anos de idade.
Inicia-se, assim, o período das Regências, que segundo Bóris Fausto foi “dos mais agitados da história política do país e também dos mais importantes”, porque contribuiu efetivamente para a formação de uma identidade nacional e garantiu a integridade territorial do Brasil.
O primeiro período da Regência é chamado de Regência Trina Provisória. Este período é de curta duração - se estende de 7 de abril a 17 de junho de 1831. Nele há a reintegração do “ministério dos brasileiros”  e a retirada dos estrangeiros não naturalizados do Exército. O segundo período é o da Regência Trina Permanente, que se estende até 12 de outubro de 1835. Inicia-se, então, as Regências Umas do padre Diogo Antônio Feijó, que irá até 19 de setembro de 1837, e a de Pedro de Araújo Lima, que se encerra em 23 de julho de 1840, quando é declarada a maioridade de D. Pedro II.
No campo político, a corrente hegemônica no período das Regências foi a dos liberais moderados, liderada pelo carioca Evaristo da Veiga, editor do mais influente jornal da época, o “Aurora Fluminense”. Os liberais moderados defendiam o cumprimento da Constituição. Ao lado de Evaristo da Veiga destacam-se o paulista padre Feijó e do mineiro Bernardo Pereira de Vasconcelos. Do lado oposto encontravam-se duas correntes: a dos liberais exaltados, que pretendiam reformas mais radicais, como  ampliar os poderes das províncias e limitar o poder do imperador, e a dos restauradores, que pregavam a volta de D. Pedro I.
No período regencial irrompeu uma série de levantes militares, rebeliões e insurreições populares por várias regiões do país, algumas delas com fins republicanos e separatistas. A Revolução Farroupilha, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul (1835-1845); a Cabanagem, na então província do Grão- Pará (1835-1840); a Sabinada, na Bahia (1837-1838); e a Balaiada, no Maranhão (1838-1840) chegaram a ameaçar a integridade do território nacional e o Império.
Estes movimentos foram sufocados pelas forças leais ao governo, com o apoio da Guarda Nacional (corporação armada de cidadãos), criada em 1831 para manutenção da ordem nas províncias. É dessa ebulição social que começa a construção da identidade nacional e a formação de nossa própria historiografia. Até então a história do Brasil era ainda a história de Portugal.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Há que dizer a verdade, para não continuar perdendo

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem constantemente repetido o que disse a ambientalista Marina Silva (Rede Sustentabilidade - AC) ao término do primeiro turno: que perdeu a eleição ganhando. Isto porque além de enfrentar a poderosa máquina aparelhada do governo petista, ambos saíram das urnas com milhões de votos, embora amargando a desconstrução de suas imagens, da forma desencadeada sem impor limites por João Santana, marqueteiro do Partido dos Trabalhadores (PT).

Parafraseando essa mesma afirmativa, pode-se dizer que a presidente Dilma Rousseff saiu do último pleito perdendo. Não só por fazer o “diabo” e usar de subterfúgios para ganhar a eleição. Mas, sobretudo, pelo tamanho dos problemas políticos e econômicos que ela herdará dela mesma, embora os tenha sempre negado, preferindo atribuí-los a “profecias pessimistas” dos adversários.  

A primeira amostra foi dada na semana passada logo após a eleição, quando a Câmara dos Deputados derrubou o decreto presidencial que vincula as decisões de política de governo à aprovação de Conselhos “Populares” (ou a movimentos da esquerda organizada?). Tais Conselhos “Populares” se emaranhariam com as funções do Parlamento, tal como acontece no regime bolivariano da Venezuela. Não se trata, portanto, de ação democrática, mas da concentração de poderes nas mãos de uma minoria atrelada ao governo.

Por isto, lideranças importantes do PMDB e dos demais partidos da base aliada hoje dão sinais claros de que não se renderão às pretensões de hegemonia do governo petista. Há no ar um elevado grau de desconfiança, que fortalece a candidatura do atual líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados, contra a vontade do governo. A principal bandeira de Eduardo Cunha é, como ele mesmo diz, “não entregar o comando do Congresso ao PT, para preservar o equilíbrio entre os Poderes”.

Outra questão é que o PT saiu enfraquecido das urnas, e na ausência de alianças programáticas o fisiologismo do toma lá dá cá poderá ganhar forças e sair muito caro a presidente Dilma Rousseff. Esta é uma prática que a sociedade não tem cansado de manifestar que repudia; que não é mais admissível!

A oposição, por sua vez, sai da eleição fortalecida por mais de 51 milhões de votos libertos do Bolsa Família, que sintetizam a insatisfação da metade da população.  Tudo indica que a oposição não dará trégua! Seu maior líder hoje, o senador Aécio Neves, ao retornar ao Senado já condicionou que qualquer conversa dependerá da disposição do governo em apurar os escândalos de corrupção que tomaram conta da Petrobras.

Contudo outros escândalos poderão vir à superfície, tal o loteamento e aparelhamento do governo e das empresas públicas. Denúncias de favorecimento de empréstimos no Banco do Brasil (BB) e no BNDES já levaram o atual presidente do BB, Aldemir Bendine, a pedir demissão nesta semana.

Para complicar, o próprio governo agora admite que a situação econômica do país é realmente grave. Não é a toa que comece a fazer o que disse na campanha que não faria. Lembremos que no último dia 29 o Banco Central aumentou a taxa de juros para 11,25%, para conter a inflação (não ia gerar desemprego?). Também não é sem motivos, que o ministro da Fazenda Guido Mantega hoje seja um ex-ministro no cargo.


Se realmente a presidente Dilma Rousseff acredita que saber ganhar é não ter “soberba nem pretensão de ser o último grito em matéria de visão política”,  tem que reconhecer os erros de seu primeiro mandato, para depois estender a mão com humildade. Caso contrário, conforme o seu partido, o PT, ela continuará perdendo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Buscando o rumo com a luneta

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, depois de comentar sobre a sua satisfação com o resultado das urnas, afirmou categórico “que isso mostra que a população está aprovando a política que estamos praticando”, referindo-se à política econômica do atual governo, sob o seu comando e da presidente Dilma Rousseff. Não é de admirar essa declaração do ministro, pois ela é tal qual as suas previsões, sempre exageradas e muito distantes do que comprova a realidade.

O que mostrou o resultado das urnas é justamente o contrário, uma vez que quase a metade dos brasileiros votou no candidato da oposição. Mas se acrescentarmos os eleitores que não tiveram interesse em escolher um candidato, a insatisfação será maior ainda, já que mais de 60% dos 137,6 milhões de eleitores não votaram na presidente Dilma Rousseff. E no bojo dos clamores por mudanças está implícito o descontentamento de muitos brasileiros com os rumos da economia.

Uma das características singulares do governo petista é não reconhecer a vulnerabilidade de seus feitos. Para eles tudo está perfeito, daí a aversão às críticas. Entretanto, a situação real da nossa economia é muito diferente do colorido pintado pelo marqueteiro João Santana durante a campanha política e do que tem dito o ministro Mantega. É isto o que mostram os indicadores.

Quando a questão é crescimento econômico, por exemplo, este ano estaremos na rabeira do mundo. Segundo projeções do mercado financeiro e do Fundo Monetário Internacional, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro não crescerá mais que 0,3%. Isto acontecendo, a média do crescimento do PIB durante o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff será inferior a 1,75% ao ano, muito menor do que a média histórica do Brasil, que é de 4,4% ao ano. Portanto, um fracasso!

Em nossa história republicana somente dois governos tiveram desempenho pior em seu respectivo período de governo: Floriano Peixoto (de 1891 a 1894), com queda no PIB de 7,5%, e Fernando Collor de Mello (de 1990 a 1992), com queda no PIB de 1,3%.

Outro indicador que demonstra a deterioração da nossa economia é o resultado das contas externas. No último mês de setembro, o Brasil registrou um déficit de US$ 7,9 bilhões, o maior da série histórica desde o ano de 1947. Neste ano o déficit resultante das trocas comerciais e de serviços com o exterior aumentou em 186%, com relação ao mesmo período do ano passado. Nos últimos doze meses já representa um rombo de 3,7% do PIB.

Um dos problemas é a queda nos preços de nossas commodities agrícolas e minerais, tal como tem dito o ministro Mantega. Porém, fatores tais como a baixa produtividade e competitividade de nossas empresas, a precariedade da educação e da infraestrutura, a alta carga tributária e a própria confiança na economia - que amedronta os investimentos nas áreas produtivas - vão deixando um rastro de estragos difíceis de serem apagados.

Temos ainda uma inflação acima do teto da meta (6,5%), déficit nas contas correntes (estimado para este ano em US$ 81,5 bilhões), dívidas interna e externa crescentes - que elevaram a dívida bruta do setor público do Brasil no último mês de setembro, de acordo com o Banco Central, para cerca de 60,2% do PIB, ou seja, R$ 3,03 trilhões – uma das maiores do mundo. Com exceção das reservas de capital e do emprego, os demais indicadores são péssimos, o que evidencia uma má condução da economia.

Também, o aparelhamento do Estado, a corrupção desenfreada nos órgãos de governo, fundos de pensão e nas empresas públicas, a gestão politizada dos bancos públicos e a malfadada contabilidade criativa continuam suscitando enormes desconfianças no mercado.


Pelo conjunto da obra não faltam razões para a saída de Mantega. Resta agora acompanhar o que fará a presidente Dilma Rousseff em seu segundo mandato. Mas, de uma coisa é certa: a presidente não poderá continuar a dizer “que não sabia de nada”, pois o presidente da República é sempre muito bem informado e só não age quando não quer ou por incompetência.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Da prata e o couro às charqueadas


O lucrativo comércio estabelecido pelos portugueses na bacia do rio da Prata durante a União Ibérica (1580-1640) despertou na Coroa Lusa o desejo de consolidar uma posição estratégica naquela região. Por ali escoava a prata de Potosí, que tornara Buenos Aires um porto atraente e local de intenso comércio. Daí a presença de holandeses, ingleses e portugueses, que em busca da prata exploravam o contrabando, burlando o exclusivismo comercial da Espanha.

O entreposto do comércio português no Prata localizava-se na Capitania Real do Rio de Janeiro. Para atender aos interesses dos comerciantes locais e da Coroa, o Infante D. Pedro, rei de Portugal, determinou a D. Manuel Lobo, governador daquela Capitania Real, que construísse uma fortificação à margem esquerda do rio da Prata, em frente à cidade de Buenos Aires. D. Manuel Lobo alcança aquele estuário em janeiro de 1680, quando inicia a construção de um forte e do povoamento que viria a chamar-se Colônia do Santíssimo Sacramento.

A partir de então começaria um longo período de disputas militares e arranjos diplomáticos em defesa daquela posição e das fronteiras meridionais lusas com a colônia espanhola. A Espanha defendia a linha imaginária de Tordesilhas, enquanto Portugal não se dispunha a aceitá-la. Por isto, a Coroa portuguesa procurava sustentar a sua presença desde a Vila de Santo Antônio dos Anjos de Laguna – Atual Laguna (SC) – até a Colônia do Sacramento, no atual Uruguai.

Há então um grande afluxo de comerciantes e militares oriundos do Rio de Janeiro e de São Vicente, para reforçar a defesa ou retomar dos espanhóis a Colônia do Sacramento. É durante essas jornadas que em incursões à bacia do rio Uruguai os militares e comerciantes portugueses constatam a abundância de gado à solta, desde a banda oriental ao atual estado do Rio Grande do Sul.

O gado descoberto havia sido abandonado pelos jesuítas, depois que suas reduções foram arrasadas pelos paulistas na preia do índio guarani catequisado, para escravizá-los. À deriva, o gado se reproduzira, tornando-se bravio e formando imensos rebanhos, que vieram a chamar-se por “Vacaria Del Mar”.

A Vacaria Del Mar logo passou a ser disputada por espanhóis, portugueses e índios das reduções dos jesuítas. Do gado era retirado o couro e o sebo, para exportação em larga escala para Europa. Uma atividade extremamente predatória. Conforme nos conta Caio Prado Junior, em “Formação do Brasil Contemporâneo”, a carne era desprezada, pois não havia quem a consumisse; a parca população local e o pequeno mercado catarinense não davam conta dos imensos rebanhos.

Entretanto, com a descoberta do ouro nas Minas Gerais e a decadência da pecuária nordestina, esse gado passou a ser levado em pé para o abate na região mineradora. E com o aumento da demanda do consumo de carne, ainda na primeira metade do século XVIII, mesmo à solta o gado passa a ser engordado em invernadas. Surgem assim as primeiras estâncias, com as sesmarias concedidas pela Coroa a militares e tropeiros bem sucedidos, que passam a ocupar definitivamente a terra. A atividade da pecuária começa a ser organizada.

Em 1779 é iniciada a construção da primeira charqueada, na localidade que viria a chamar-se Freguesia de São Francisco de Paula, atual Pelotas (RS). Na charqueada o gado era abatido e a carne salgada, depois exportada para ser consumida como comida da população pobre e de escravos. A atividade expande-se rapidamente, a ponto de transformar a cidade de Pelotas em um centro rico e próspero, de grande importância social e cultural.


No ano de 1807 o atual Rio Grande do Sul é elevado à condição de Capitania-Geral, com o nome de São Pedro do Rio Grande do Sul. Nessa época a Capitania contava com mais de 550 estâncias e uma população de aproximadamente 30 mil habitantes, dos quais cerca de um terço era de escravos - a energia motora das Charqueadas.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Estelionato eleitoral

No primeiro turno começou com a desconstrução da candidatura de Eduardo Campos (PSB-PE). Com a sua morte, no início da campanha, foi a vez de Marina Silva (PSB-AC).  Depois, já no segundo turno, restou para Aécio Neves, que não se intimidou, contestar cada uma das mentiras e dissimulações apresentadas. Mesmo assim, surtiu o efeito desejado pelo marqueteiro do PT, João Santana, de desgastar a candidatura tucana. Agora, no final da campanha, a candidata-presidente é apresentada como a “boazinha”, depois de passá-la por vítima.

Foi assim que a campanha política destas eleições transformou-se na de maior baixaria. Mas nenhuma novidade para quem acompanha o dia a dia da nossa política. Este filme apenas se repete agora! Mas, na realidade, a cúpula do Partido dos Trabalhadores (PT), aliada ao marqueteiro João Santana, há tempo não tem demonstrado limites quando a questão é esconder as sujeiras que tomou conta do Brasil nos últimos anos.

A impressão que fica às pessoas de bem e aos cidadãos informados é a de que para eles o que vale é só a manutenção do poder, custe o que custar. Não importa os meios utilizados, nem que seja colocar os ricos contra os pobres, ou forjar uma luta de classes.

Como seria impossível citar todos os casos sórdidos dessa campanha, ficamos no exemplo de um fato ocorrido no debate do último domingo, na TV Record. Lá, a presidente-candidata Dilma Rousseff, com ironia e cinismo, criticou o ex-governador de Minas Gerais (MG), afirmando que “é duro engolir que vacina para cavalo seja contabilizada como gasto em saúde”. Mencionou também o parecer do ex-conselheiro do Tribunal de Contas de MG, Dr. Sylo Costa, para desacreditar o governo de Aécio Neves perante a opinião pública.

Na última quarta-feira, porém, o Dr. Sylo Costa esclareceu a questão, em sua coluna no jornal mineiro “O Tempo”. Disse que a “vacina de cavalo” referida por Dilma Rousseff se tratava de inoculação de veneno de animais peçonhentos, para produção de soro usado em seres humanos, fabricado pela Fundação Ezequiel Dias em parceria com o Ministério da Saúde.

Mencionou também, ao contrário do que disse a presidente candidata, que aprovou as contas do governo de MG, sem restrição. Por fim, afirmou que “foi esse pequeno erro material que dona Dilma citou como se fosse assunto tão grave como os assaltos do seu governo na Petrobras e em quase tudo que o governo federal mete o nariz... O Brasil vai ter que trabalhar uns 20 anos para pagar a conta desses governos do PT”.

Mais grave foi a acusação ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra (morto com câncer no último mês de março), de que teria recebido dinheiro do “propinoduto” da Petrobras. Além de denegrir a imagem do morto, sem direito de defesa, o caso foi desmentido pelo advogado de um dos réus. Lembremos que o acusador, o doleiro Leonardo Meirelles, responde a inquérito por desvio de recursos do Ministério da Saúde, no caso Laborgen, que envolve ainda o ex-ministro Alexandre Padilha (PT-SP) e o ex-deputado petista André Vargas (PR).


Por fim, o governo petista impede a divulgação de dados desfavoráveis, tais como os relativos ao aumento do desmatamento da Amazônia, o estudo do IPEA sobre a situação da pobreza e da miséria no país, o desempenho dos alunos em português e matemática e também sobre a diminuição da arrecadação tributária. O negócio é vender a eficiência do governo e o êxito inexistente da gestão de nossa economia. Não será tudo isso um estelionato eleitoral? Que o eleitor dê a resposta nas urnas...

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Dissimulando para ocultar a verdade

O governo petista e seus aliados mais próximos davam como certo que o teatro armado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal jogaria para debaixo do tapete os malfeitos do balcão de negócios que fizeram da Petrobrás. Estava fora do script, portanto, que o ex-diretor de Abastecimento da Empresa, Paulo Roberto Costa, e os doleiros Alberto Youssef e Leonardo Meirelles viessem a contribuir com a Justiça Federal através da delação premiada.
É de supor, pela reação, que os depoimentos que vieram a público estão tirando o sono da presidente-candidata Dilma Rousseff e da “cumpanheirada”. As evidências das maracutaias até aqui divulgadas da operação “Lava Jato” são consistentes e gravíssimas. Por isto, tudo deve ser apurado, até as últimas conseqüências, sem qualquer constrangimento ou interferência política, com toda publicidade, pois “se trata de um processo público”, no dizer da Justiça.
No entanto, ao contrário do que diz a presidente-candidata Dilma Rousseff nos debates e em suas propagandas políticas, o governo e o PT vêm condenando a divulgação do processo, inclusive tentando desqualificar o juiz Sérgio Moro, pois preferiam que tudo corresse em surdina. O que alegam é o “caráter eleitoral”, que inexiste no caso, conforme contestação da própria Procuradoria da República no Paraná e dos demais órgãos da Justiça, na defesa do andamento normal do processo.
Segundo a Procuradoria da República “a atuação da Polícia Federal, do Ministério Público e do Poder Judiciário, nos processos decorrentes da Operação Lava Jato que tramita perante a 13ª Vara Federal Criminal, é estritamente técnica, imparcial e apartidária”. Também não poderia ser diferente, pois cada uma dessas instituições é um órgão de Estado, e assim deve cumprir na integridade as suas funções, na defesa dos interesses maiores da Nação.
Com certeza, se o processo fosse contra qualquer partido ou político de oposição, o governo e o PT estariam em regozijo, como é hábito e costumeiro. Pimenta nos olhos dos outros, quando não se reza princípios, sempre é refresco.
Então, em vez de reconhecer os fatos, já que as evidências do assalto à Petrobrás são absolutamente robustas, o presidente do PT, Rui Falcão (PT-SP), parte para o ataque, como sempre procurando confundir a opinião pública. Para ele a “divulgação é uma forma transversa de violar o sigilo da colaboração premiada”, e o processo resulta de “declarações graves e levianas desacompanhadas até agora de qualquer prova”.
A própria presidente-candidata Dilma Rousseff também deixa de prestar um bom serviço, quando contesta as ações da Justiça e atribui a divulgação dos fatos como se fosse um “golpe”. Foram essas as suas palavras, em discurso diante da platéia petista em Canoas (RS): “Agora, na véspera eleitoral, sempre querem dar um golpe. Estão dando um golpe. Esse golpe, nós não podemos concordar”.

Porém, o golpe real e de fato é o universo de corrupção, que há tempo vem assolando o Brasil. É também o desrespeito ao Judiciário, no mesmo modus operandi como agiram no processo do MENSALÃO. O PT não é dono do Estado brasileiro e não tem o direito de impor ao Brasil as suas vontades.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

No ataque para continuar reinando

Já se vão quase doze anos desde o final do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC/PSDB-SP) - um tempo enorme em política. No entanto, os estrategistas da campanha da presidente-candidata Dilma Rousseff (PT-RS), neste segundo turno, continuam a insistir na comparação dos oito anos do governo de FHC com os doze anos petistas. Claro! E ainda tentam desconstruir a imagem de Aécio Neves (PSDB-MH), da mesma forma como fizeram com Marina Silva no primeiro turno destas eleições.

Vale lembrar que essa tática vem lá de longe, pois assim que se instalou no poder o PT não tardou a mostrar para o que veio. Um dos primeiros gestos do então presidente Lula da Silva, logo no início de 2003, foi plantar uma estrela petista nos jardins do Palácio Alvorada. Aquele era o prenúncio de que começava ali um governo que não observaria os limites entre o público e o privado; que o partido estava acima de tudo e de todos; que tudo seria feito para a manutenção do poder, independente dos princípios éticos, democráticos e republicanos.

O ex-presidente FHC se preocupara em passar o governo ao presidente petista da forma mais limpa e transparente possível. Então, organizara um período de transição muito elogiado pelos observadores políticos. Antes, contudo, Lula da Silva provocara uma enorme turbulência no mercado, que ocasionara a fuga de capitais e o aumento estratosférico da taxa de juros e da inflação.

A crise só seria estancada após Lula da Silva firmar a “Carta ao Povo Brasileiro”, de 22 de junho de 2002, comprometendo-se a respeitar os contratos e realizar uma política econômica sóbria, de modo a sustentar a estabilidade econômica. Por este motivo, Lula da Silva nomeou Henrique Meireles, eleito deputado Federal pelo PSDB de Goiás, para o Banco Centra. Para a Secretaria de Política Econômica foi nomeado o economista tucano Murilo Portugal, como principal assessor do ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Observa-se, a partir de então, um período exitoso, de grande sucesso, marcado por uma política econômica séria, que nadava em céu de brigadeiro, aproveitando do crescimento do mundo. Mas, em vez de surfar na sua própria onda, o ex-presidente Lula da Silva instrumentalizou o poder e imprimiu um esforço pessoal e partidário para destruir a imagem de FHC e de cada um de seus opositores, como forma de manter a hegemonia do poder.

Por outro lado, em vez de tomar conta de sua própria casa, do modo como manda os manuais de boas condutas, o ex-presidente focou a sua ira na casa dos outros. Assim, cada escândalo de corrupção e malfeito que surgia (e não são poucos) foram sendo colocados e acumulados debaixo do tapete, enquanto a economia se degringolava em seu segundo mandato, já sob o comando do incompetente ministro da Fazenda Guido Mantega.

Como conseqüência o Brasil viveu os seus piores dias durante o governo de Dilma Rousseff: Escândalos sucessivos, o Estado aparelhado - servindo a um partido político - e a economia estagnada. Taxas de juros e inflação altas, com um descontrole generalizado das contas públicas, o que vem colocando em risco todas as conquistas alcançadas no passado, inclusive durante o governo do ex-presidente Lula da Silva.


Então, não tendo o que mostrar a candidata-presidente Dilma Rousseff e seus aliados partem para o ataque, com objetivo nítido de amedrontar os eleitores e denegrir a imagem dos adversários. Não importa se o método utilizado faz parte da difamação e da mentira, pois o que conta é a manutenção do poder, a qualquer preço.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A força da ignorância e da falta de informação

Em todo o mundo democrático os cientistas políticos têm atribuído o maior peso na continuidade dos governos ao desempenho da economia. No Brasil não tem sido diferente. Assim, nas últimas eleições, a primeira vitória de Fernando Henrique Cardoso (FHC) deveu-se ao Plano Real; a reeleição, à estabilidade da economia. Já Lula da Silva teria sido beneficiado em sua primeira vitória, pelas crises externas que fragilizaram os últimos anos do segundo governo de FHC.

Durante o primeiro mandato de Lula da Silva a economia brasileira começou a navegar em céu de brigadeiro. Os preços de nossas commodities aumentaram como nunca, favorecendo as exportações e a acumulação de expressiva reserva cambial. É lógico que o sucesso se deve muito mais à eficiência do agronegócio e dos resultados da Cia Vale do Rio Doce (depois de privatizada), do que das políticas empreendidas pelo governo.

Nas últimas eleições, quando a presidente Dilma Rousseff venceu José Serra, o Brasil ainda vivia à sombra da euforia do “sucesso”, propagado “como nunca antes na história deste país”, com toda ênfase midiática. No entanto, em vez de poupar para os tempos de vacas magras, da forma como manda a prudência, o governo continuou com a gastança.

Então, a marolinha não tardou a se mostrar um tsunami, que desaguou no governo de Dilma Rousseff. Hoje, por mais que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a presidente Dilma digam que a situação econômica do Brasil está estabilizada e controlada, os números dizem justamente o contrário. E o ditado popular diz o seguinte: os números não mentem.

Quando a questão é desenvolvimento econômico, é quase unanimidade entre os especialistas que este ano o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil não chegará a crescer 1%. Nossa média histórica de crescimento é de 4,4% ao ano. Deste modo, o governo de Dilma Rousseff será marcado pelo terceiro menor PIB da história, só perdendo para os governos de Floriano Peixoto, na Velha República, e o de Fernando Collor de Mello, quando o país amargou uma queda no PIB de 7,5% e 1,3%, respectivamente.

Outro ponto importante é o descontrole das contas públicas. Esta semana o Banco Central (BC) divulgou que em agosto o déficit primário das contas públicas foi de R$ 14,260 bilhões, o pior resultado para o mês da série histórica, desde que o indicador foi criado em 2001. De acordo com o BC “esta também é a primeira vez que se registra déficit no resultado do setor público por quatro meses consecutivos”.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), em seu relatório trimestral “Panorama da Economia Mundial”, em 2013 o Brasil tornou-se o país emergente com o maior déficit externo do mundo, ao apresentar um rombo de US$ 81,0 bilhões nas transações com o resto do mundo, o que equivale a 3,6% do PIB. Também é o terceiro país com o maior nível de endividamento externo (US$ 750 bilhões), perdendo apenas para os Estados Unidos e a Espanha.

Quanto à dívida interna bruta, esta mais que triplicou durante o governo petista, atingindo no último mês de agosto o montante de R$ 3,03 trilhões, ou 60% do PIB. Para piorar, a inflação ultrapassou o limite máximo da meta fixada pelo BC (de 6,5% ao ano) e já alcança quase 7%, nos últimos 12 meses.

Com tantos dados negativos chega-se à conclusão de que os cientistas políticos deverão repensar as suas teses, haja vista o alto índice de aprovação do governo e a manutenção do primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto da candidata-presidente Dilma Rousseff, não obstante à desastrosa gestão da economia em seu mandato.


Talvez os cientistas políticos devessem considerar como variáveis, pelo menos para os países com baixo nível e qualidade da educação, a força do marketing político e da desinformação. Só assim seria justificado o resultado tão bom para um governo tão pífio.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O automóvel do Lacerda

A mesma fidelidade intransponível que Lacerda dedica aos tênis de marca Mizuno, bem como às sungas de praia e camisas da Nike – estas, usadas em todas as ocasiões - ele tem aos automóveis da Volkswagen. É como uma verdadeira paixão; quase nacional! Começou lá pelo final da adolescência, nos anos setenta, com o tradicional fusquinha. Naquela época, o fusca era o carro mais popular do Brasil, embora acessível a poucos, pois o automóvel não estava ainda tão popularizado como hoje.

Lacerda sempre nos conta que ao começar o namoro com a sua cara metade (nossa amiga de todas as horas, Olguinha), aconteceu de vir junto com ela um fusquinha. Este era muito mais novo e melhor do que o dele, de modo que ambos decidiram ficar com o dela. Vale esclarecer ao leitor, que desde então eles jamais se separam.

Não tenho qualquer dúvida de que no final foi a Olguinha quem saiu lucrando. Além de ganhar um excelente motorista, o destino também lhe reservou um exímio conservador de carros. Todo automóvel do Lacerda sempre está impecável, em perfeitíssimas condições: além de lavado, nunca deixa de estar encerado e cuidado com os mínimos detalhes, sem relaxar da manutenção preventiva. Não é exagero dizer, portanto, que todo o automóvel do Lacerda tem a aparência de novo, como se tivesse saído da loja.

O problema é que essa relação vai muito além do cuidado, pois também tem o lado afetivo. Cada automóvel de Lacerda é como se fosse um membro de sua própria família. É assim a lembrança de cada um dos seus fuscas, do Karmanguia e do TL. Entretanto, quando a lembrança é do Logus azul metálico, a saudade chega a dar um aperto por dentro do amigo. Foram mais de 250 mil quilômetros rodados de pura paixão! Vendê-lo foi uma tortura, pois estava novinho em folha, brilhando... Certamente a Volkswagen falhou em não classificar aquele Logus como série única e especial, nominando a sua cor de “azul metálico super cintilante”.

Enfim, não teve outro jeito! Olguinha exigia um carro com ar condicionado e mais conforto, para as idas e vindas de Vitória a Iriri e os passeios a Alto Caparaó, Porto Seguro, Friburgo e Mutum-MG. Foi quando veio o Polo preto, trocado pouco tempo depois por um outro Polo branco, para tentar esquecer o Logus. Segundo Lacerda, não houve troca de automóvel, pois como ele mesmo diz: - Foi a Olguinha quem mandou pintá-lo!

Há pouco tempo estávamos indo para Alto Caparaó-MG passar um feriado na acolhedora pousada Bezerra, do amigo Carlinho. Combinamos, então, fazer uma parada em Espera Feliz-MG. Assim que parei, Lacerda foi logo arrancando sem qualquer explicação. Quando chegamos ao destino final o amigo Luizinho (filho do Lacerda) deu-me a explicação do que havia  passado: - É que o chão do posto estava molhado e papai não quis sujar o carro. Luizinho, como sempre, deixou sair seu riso solto e emendou: - Esse é o Lacerda!

Em outra vez, estava eu e Cristina quase voltando para casa depois de jantar, quando a Olguinha nos telefonou pedindo que os aguardassem, que teria uma coisa muito divertida para mostrar. Lacerda e Olguinha haviam ido para a praça do Imigrante em Anchieta e o Polo branco, novinho, ficou estacionado sob uma árvore. Como Lacerda diz que só compra Polo quem conhece, dessa vez ele não fez o reconhecimento da área, pois a árvore estava lotada de garças, prontas para “por para fora” a comida devorada durante o dia. 

Quando Lacerda e Olguinha chegaram o Polo estava tal como uma pessoa com catapora; desde a dianteira à traseira ele estava todo pintado e lotado de bostas. Pior é que naquele mesmo dia ele havia brincado que devíamos limpar o nosso carro. Então, caímos na pele do Lacerda, com a complacência de Olguinha.

O resultado foi que Lacerda acabou por perder umas boas horas de sono. O troço estava ensebado, com dificuldade de ser retirado. Também não podia deixar de ser lavado, porque senão ficaria manchado, conforme ele próprio nos contou no dia seguinte. Esse é o Lacerda!