sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Baixa qualidade da educação – um problema crônico a ser resolvido

Recentemente, o ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho (DEM-PE), em entrevista ao portal da revista “Veja”, quando perguntado o que pensava sobre a evolução do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) foi bastante enfático ao dizer que sentia-se com “frustação e vergonha”, porque “com esse desastre não há o que comemorar”. E, com muito realismo, reconheceu que sem a melhoria do ensino básico é muito difícil ao Brasil dar um salto de qualidade, da forma como fizeram outros países que hoje apresentam desenvolvimento humano e econômico mais avançados.
Nos últimos anos não se viu nenhum ministro tratar com tanto realismo uma situação adversa e reconhecer um problema de tal magnitude, como é o caso da deficiência do sistema educacional brasileiro. É realmente “vergonhoso”, como disse o ministro Mendonça Filho, que a educação brasileira tenha chegado a esse ponto. Mas, por outro lado, é um alento que um ministro venha a público, de frente, para reconhecer um problema gravíssimo, ao invés de comemorar ínfimos avanços ou tergiversas em respostas evasivas com fins midiáticos, conforme aconteceu nos últimos anos.
No âmbito da educação fundamental, segundo a última edição do “Relatório sobre Capital Humano” divulgado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa o 118º lugar entre 130 países analisados. Isto comprova o baixo preparo dos brasileiros no primeiro ciclo do ensino, que considera as idades entre 0 e 14 anos. É em contingência desses indicadores que nosso país apresenta baixa disponibilidade de mão de obra qualificada, conforme percepção dos empresários. No âmbito dessa percepção o Brasil ocupa a 114º lugar, o que possibilita comparar a amplitude desse problema entre o mesmo grupo de nações.
Quando se trata do ensino médio, a situação é ainda mais desalentadora, pois segundo os últimos estudos realizados pelo movimento Todos pela Educação, relativos ao ano de 2013, mais de 90,7% dos alunos terminam o ciclo de estudos sem a aprendizagem adequada em matemática. Tal indicador vem piorando desde o ano de 2005. Em português, os indicadores também são bastante adversos, haja vista que comparando 2011 a 2013 os que apresentavam aprendizagem adequada decresceu de 29,2% para 27,2%. Cientificamente comprova-se, portanto, que em vez de evoluirmos ora enfrentamos um processo de involução.
Segundo o ministro “um ponto estratégico é transformar o ensino médio, hoje engessado e ineficiente”, para torna-lo “mais flexível e atraente ao aluno”. A flexibilização dos currículos é uma questão que há anos vem sendo discutida por diversas entidades e educadores, não só para melhorar a qualidade e tornar mais atrativo o ensino, mas também para diminuir a evasão escolar, que é enorme, principalmente do primeiro para o segundo ano. Portanto, ela não nasce do vento ou é apenas um devaneio da cabeça do ministro, como alguns agora querem fazer crer.
Discutir se o plano de reforma do ensino médio deveria, ou não, ser encaminhado ao Congresso Nacional através de Medida Provisória, e politizar a questão, não contribui em nada com a construção de uma nova ordem na educação. O que importa é que a reforma seja eficaz e que tenha ampla adesão dos alunos e educadores. Neste aspecto, reorientar o ensino médio é uma necessidade que tem amplo amparo do setor, que não mais concebe um currículo engessado sem resultado prático algum.
Muitos dos que hoje criticam a reforma do ensino médio em discussão, quando no governo a reivindicavam e aplaudiam. Também aplaudiam, como exemplo, o Ciências sem Fronteiras, que custou ao país mais de R$ 3,0 bilhões com ínfimo retorno e estratégia, sem contar a criação de novas universidades simplesmente pelo desdobramento dos antigos campus avançados, entre tantas outras demagogias. Educação não é apenas quantidade para maquiagem do marketing político, mas ante de tudo qualidade como meio de transformação das pessoas e do país.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Tempestade perfeita.

Com o fim da era lulopetista no último dia 31 de agosto, quando o Senado Federal sacramentou o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT-RS), o Brasil acordou do pesadelo que jogou a nação na mais profunda crise econômica, ética e política. Na esfera do poder Executivo, o problema mais grave é a desarrumação da economia, que necessita de medidas urgentes para reversão do atual quadro que afeta diretamente a vida de todos os brasileiros.
Entre as adversidades mais graves a serem enfrentadas pela equipe econômica sob o comando do ministro Henrique Meireles está o desemprego. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no encerramento do mês de agosto, o Brasil contava com mais de 12 milhões de desempregados, o que é o pior resultado desde que a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua) foi iniciada no ano de 2012, pelo IBGE.
No período de um ano, na comparação do trimestre encerrado em agosto último com o do ano passado, houve um aumento de 36,6% no desemprego, o que equivale a 3,22 milhões a mais de pessoas buscando emprego no mercado de trabalho. E a perspectiva para os próximos meses é de que o desemprego continue crescendo, enquanto a renda média real do trabalhador a diminuir. No mesmo trimestre encerrado em agosto a renda média real diminuiu em 1,7% com relação ao mesmo período ano anterior.
A questão do desemprego só será revertida quando melhorarem as perspectivas do equilíbrio fiscal, pelo menos a médio prazo. Todavia, a dívida bruta do setor público brasileiro continua avançando. No encerramento de agosto ela alcançou R$ 4,272 trilhões, o que corresponde a 70,1% do nosso Produto Interno Bruto (PIB), novo recorde da série histórica, conforme relatório do Banco Central (BC). A previsão do BC é de que a dívida bruta ao final de dezembro do corrente ano alcance o montante de 73,0% do PIB.
O aumento da dívida pública expressa de forma clara e transparente a falta de zelo do governo deposto com a Lei de Responsabilidade Fiscal – Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000. Tal lei, até então, constituía uma das principais âncoras para a manutenção da estabilidade da economia brasileira, da forma como vivenciada na década passada.
Mas, ainda no derradeiro agosto da ex-presidente Dilma Rousseff, o Brasil teve uma das piores arrecadações de impostos e contribuições, que somaram apenas R$ 91,81 bilhões, insuficiente para cobrir sequer as despesas correntes do governo. Isto elevou o déficit primário (não consideradas as despesas com pagamento de juros) acumulado no ano, de janeiro a agosto, para R$ 71,42 bilhões. Este é o maior déficit primário em toda série histórica, quando iniciada em janeiro de1997.
Entretanto, a tomada das medidas necessárias, que imperativamente serão duras para os trabalhadores, vêm sendo proteladas pelo Legislativo, em função das eleições municipais. Lamentavelmente, os políticos adoram privilégios e gastança, mas, por falta grandeza (ou covardia?), sempre resistem às deliberações mais duras, mesmo quando absolutamente necessárias, para livrarem-se de possíveis impopularidades. A desgraça pode valer-se para a nação, nunca para eles!
No âmbito do Judiciário continuarão as operações relativas à Operação Lava-Jato, que vão desvendando a roubalheira instalada pelo crime organizado em Brasília, sem precedente em nossa história. Oxalá depois da Lava-Jato o Brasil também possa avançar no aspecto ético, inibindo a impunidade? Mas, de uma coisa podemos ter certeza: a dimensão da crise brasileira é enorme e demandará muito trabalho e tempo para alcançarmos um novo ciclo de prosperidade.