Recentemente,
o ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho (DEM-PE), em entrevista ao
portal da revista “Veja”, quando perguntado o que pensava sobre a evolução do
Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) foi bastante enfático ao
dizer que sentia-se com “frustação e vergonha”, porque “com esse desastre não
há o que comemorar”. E, com muito realismo, reconheceu que sem a melhoria do
ensino básico é muito difícil ao Brasil dar um salto de qualidade, da forma
como fizeram outros países que hoje apresentam desenvolvimento humano e
econômico mais avançados.
Nos últimos
anos não se viu nenhum ministro tratar com tanto realismo uma situação adversa
e reconhecer um problema de tal magnitude, como é o caso da deficiência do
sistema educacional brasileiro. É realmente “vergonhoso”, como disse o ministro
Mendonça Filho, que a educação brasileira tenha chegado a esse ponto. Mas, por
outro lado, é um alento que um ministro venha a público, de frente, para
reconhecer um problema gravíssimo, ao invés de comemorar ínfimos avanços ou
tergiversas em respostas evasivas com fins midiáticos, conforme aconteceu nos
últimos anos.
No âmbito da
educação fundamental, segundo a última edição do “Relatório sobre Capital
Humano” divulgado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa o
118º lugar entre 130 países analisados. Isto comprova o baixo preparo dos
brasileiros no primeiro ciclo do ensino, que considera as idades entre 0 e 14
anos. É em contingência desses indicadores que nosso país apresenta baixa
disponibilidade de mão de obra qualificada, conforme percepção dos empresários.
No âmbito dessa percepção o Brasil ocupa a 114º lugar, o que possibilita
comparar a amplitude desse problema entre o mesmo grupo de nações.
Quando se
trata do ensino médio, a situação é ainda mais desalentadora, pois segundo os
últimos estudos realizados pelo movimento Todos pela Educação, relativos ao ano
de 2013, mais de 90,7% dos alunos terminam o ciclo de estudos sem a
aprendizagem adequada em matemática. Tal indicador vem piorando desde o ano de
2005. Em português, os indicadores também são bastante adversos, haja vista que
comparando 2011 a 2013 os que apresentavam aprendizagem adequada decresceu de
29,2% para 27,2%. Cientificamente comprova-se, portanto, que em vez de
evoluirmos ora enfrentamos um processo de involução.
Segundo o
ministro “um ponto estratégico é transformar o ensino médio, hoje engessado e
ineficiente”, para torna-lo “mais flexível e atraente ao aluno”. A
flexibilização dos currículos é uma questão que há anos vem sendo discutida por
diversas entidades e educadores, não só para melhorar a qualidade e tornar mais
atrativo o ensino, mas também para diminuir a evasão escolar, que é enorme,
principalmente do primeiro para o segundo ano. Portanto, ela não nasce do vento
ou é apenas um devaneio da cabeça do ministro, como alguns agora querem fazer
crer.
Discutir se
o plano de reforma do ensino médio deveria, ou não, ser encaminhado ao
Congresso Nacional através de Medida Provisória, e politizar a questão, não
contribui em nada com a construção de uma nova ordem na educação. O que importa
é que a reforma seja eficaz e que tenha ampla adesão dos alunos e educadores.
Neste aspecto, reorientar o ensino médio é uma necessidade que tem amplo amparo
do setor, que não mais concebe um currículo engessado sem resultado prático
algum.
Muitos dos
que hoje criticam a reforma do ensino médio em discussão, quando no governo a
reivindicavam e aplaudiam. Também aplaudiam, como exemplo, o Ciências sem
Fronteiras, que custou ao país mais de R$ 3,0 bilhões com ínfimo retorno e
estratégia, sem contar a criação de novas universidades simplesmente pelo
desdobramento dos antigos campus avançados, entre tantas outras demagogias.
Educação não é apenas quantidade para maquiagem do marketing político, mas ante
de tudo qualidade como meio de transformação das pessoas e do país.
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