sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O automóvel do Lacerda

A mesma fidelidade intransponível que Lacerda dedica aos tênis de marca Mizuno, bem como às sungas de praia e camisas da Nike – estas, usadas em todas as ocasiões - ele tem aos automóveis da Volkswagen. É como uma verdadeira paixão; quase nacional! Começou lá pelo final da adolescência, nos anos setenta, com o tradicional fusquinha. Naquela época, o fusca era o carro mais popular do Brasil, embora acessível a poucos, pois o automóvel não estava ainda tão popularizado como hoje.

Lacerda sempre nos conta que ao começar o namoro com a sua cara metade (nossa amiga de todas as horas, Olguinha), aconteceu de vir junto com ela um fusquinha. Este era muito mais novo e melhor do que o dele, de modo que ambos decidiram ficar com o dela. Vale esclarecer ao leitor, que desde então eles jamais se separam.

Não tenho qualquer dúvida de que no final foi a Olguinha quem saiu lucrando. Além de ganhar um excelente motorista, o destino também lhe reservou um exímio conservador de carros. Todo automóvel do Lacerda sempre está impecável, em perfeitíssimas condições: além de lavado, nunca deixa de estar encerado e cuidado com os mínimos detalhes, sem relaxar da manutenção preventiva. Não é exagero dizer, portanto, que todo o automóvel do Lacerda tem a aparência de novo, como se tivesse saído da loja.

O problema é que essa relação vai muito além do cuidado, pois também tem o lado afetivo. Cada automóvel de Lacerda é como se fosse um membro de sua própria família. É assim a lembrança de cada um dos seus fuscas, do Karmanguia e do TL. Entretanto, quando a lembrança é do Logus azul metálico, a saudade chega a dar um aperto por dentro do amigo. Foram mais de 250 mil quilômetros rodados de pura paixão! Vendê-lo foi uma tortura, pois estava novinho em folha, brilhando... Certamente a Volkswagen falhou em não classificar aquele Logus como série única e especial, nominando a sua cor de “azul metálico super cintilante”.

Enfim, não teve outro jeito! Olguinha exigia um carro com ar condicionado e mais conforto, para as idas e vindas de Vitória a Iriri e os passeios a Alto Caparaó, Porto Seguro, Friburgo e Mutum-MG. Foi quando veio o Polo preto, trocado pouco tempo depois por um outro Polo branco, para tentar esquecer o Logus. Segundo Lacerda, não houve troca de automóvel, pois como ele mesmo diz: - Foi a Olguinha quem mandou pintá-lo!

Há pouco tempo estávamos indo para Alto Caparaó-MG passar um feriado na acolhedora pousada Bezerra, do amigo Carlinho. Combinamos, então, fazer uma parada em Espera Feliz-MG. Assim que parei, Lacerda foi logo arrancando sem qualquer explicação. Quando chegamos ao destino final o amigo Luizinho (filho do Lacerda) deu-me a explicação do que havia  passado: - É que o chão do posto estava molhado e papai não quis sujar o carro. Luizinho, como sempre, deixou sair seu riso solto e emendou: - Esse é o Lacerda!

Em outra vez, estava eu e Cristina quase voltando para casa depois de jantar, quando a Olguinha nos telefonou pedindo que os aguardassem, que teria uma coisa muito divertida para mostrar. Lacerda e Olguinha haviam ido para a praça do Imigrante em Anchieta e o Polo branco, novinho, ficou estacionado sob uma árvore. Como Lacerda diz que só compra Polo quem conhece, dessa vez ele não fez o reconhecimento da área, pois a árvore estava lotada de garças, prontas para “por para fora” a comida devorada durante o dia. 

Quando Lacerda e Olguinha chegaram o Polo estava tal como uma pessoa com catapora; desde a dianteira à traseira ele estava todo pintado e lotado de bostas. Pior é que naquele mesmo dia ele havia brincado que devíamos limpar o nosso carro. Então, caímos na pele do Lacerda, com a complacência de Olguinha.

O resultado foi que Lacerda acabou por perder umas boas horas de sono. O troço estava ensebado, com dificuldade de ser retirado. Também não podia deixar de ser lavado, porque senão ficaria manchado, conforme ele próprio nos contou no dia seguinte. Esse é o Lacerda!

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Marketing político - entre a esperteza e a desinformação

As últimas pesquisas de avaliação do governo e de intenção de votos para presidente da República têm confirmado que grande parte dos eleitores ainda se guia pela propaganda política na escolha do candidato. Isto explica, de forma bastante clara e convincente, a razão da candidata-presidente Dilma Rousseff manter o alto índice de popularidade, como tem apontado as últimas pesquisas. Contudo, entre os eleitores de maior escolaridade, o índice de rejeição da presidente continua bem grande.

Portanto, não foi em vão o esforço do governo - com destaque para o tradicional toma lá dá cá de cargos e favores - no sentido de garantir o tempo máximo possível para a propaganda da coligação da candidata-presidente Dilma Rousseff. A pretensão era de que as eleições fossem decididas em primeiro turno, com o uso da tática costumeira do “nós” contra “eles”, da forma como gosta os marqueteiros e dirigentes petistas.

Entretanto, a cúpula do PT (e Planalto) não esperava a queda do avião com Eduardo Campos, nem o retorno de Marina Silva ao campo da disputa como cabeça de chapa do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Todos sabiam que com Marina Silva no páreo as eleições só seriam decididas em segundo turno. Daí o esforço para impedir a legalização do Rede Sustentabilidade, partido de Marina, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Com relação à distribuição do tempo de propaganda de rádio e televisão, o governo conseguiu atingir os objetivos planejados. Quase metade do tempo, ou seja, 11 minutos e 48 segundos por dia, ficou para a candidata petista. O segundo maior tempo, de 4 minutos e 31 segundos, foi para a coligação de Aécio Neves. Sobrou para Eduardo Campos, e agora Marina, apenas 1 minuto e 49 segundos. O restante do tempo foi dividido entre os demais candidatos.  Uma desproporção que em nada ajuda na consolidação de nossa Democracia.

Não obstante ao tempo, o que mais influencia o eleitor é a capacidade de convencimento da propaganda. Neste aspecto, a candidata governista também leva ampla vantagem, pois tem a máquina pública na mão, para mostrar o que fez (e nunca o que deixou de fazer), sem qualquer aspecto crítico, fantasiando, como é hábito no meio político, as suas realizações. O governo é sempre mostrado como perfeito. Os problemas e defeitos são atributos dos adversários, em nosso caso os da oposição.

Para incrementar tudo isto, há sempre as outras armas na mão. Recentemente, em matéria publicada na imprensa nacional, o antropólogo Roberto DaMatta, em seu artigo “Candidatos, pedintes e profetas”, disse muito bem que “de saída, vale mencionar a mudança dos poderosos que — bem vestidos e protegidos, os que sabem tudo sobre o Brasil — transformam-se em profetas e pedintes. É com o coração na mão que nós os vemos fantasiados de gente simples, ouvindo eleitores em locais insalubres e perigosos. Em botequins baratos, a comer pastéis ou traçando com indisfarçável falta de jeito um bandejão”.

Neste enfoque, a transformação da candidata-presidente é brutal. De carrancuda, transformou-se em santa e o seu governo é só perfeição. O que a propaganda não faz?

Para agravar, infelizmente a desinformação no Brasil é muito grande. E como a maioria da população não demonstra interesse em conhecer com maior profundidade os bastidores da política, ela própria joga contra os seus patrimônios ao ficar susceptível ao mundo de promessas e fantasias da propaganda.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Fugindo pela tangente

Os que acompanham os acontecimentos políticos do Brasil nos últimos anos, certamente não acharão nada de novo no que tem dito Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, à Polícia Federal (PF), a título de delação premiada. Os nomes dos políticos e partidos envolvidos são os mesmo de malfeitos e escândalos anteriores, já largamente difundidos pela imprensa, como é o caso da corrupção que tomou conta da Petrobras.

O uso da máquina pública (de governo e das empresas estatais) em troca de apoio político é um fato sempre recorrente em nosso país. Nada parece ter mudado depois de exposto e julgado o MENSALÃO do PT. Lógico que essa prática favorece o enriquecimento ilícito, feito sem qualquer pudor e à revelia das Leis. Daí a falta de comprometimento desses maus políticos e seus afilhados com o próprio país, que deveriam ter o orgulho em servir.

Os recursos públicos oriundos da arrecadação de impostos e taxas, sejam eles materiais ou financeiros, constituem um patrimônio que é exclusivamente do povo. O político, bem como qualquer outro servidor público - seja do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário - tem a obrigação de utilizá-los da melhor forma possível, com maior zelo.

Por isto, não faz qualquer sentido a presidente Dilma Rousseff dizer que o escândalo da Petrobras não compromete a credibilidade de seu governo. Compromete sim! E Muito! Primeiro porque é a presidente quem indica os diretores da empresa, de maioria estatal. Segundo, porque ela mesma foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras, durante a maior parte do governo de seu antecessor. E foi durante esse período que ocorreram os maiores escândalos, inclusive a compra da Refinaria de Pasadena nos Estados Unidos.

No entanto, ao invés de assumir suas responsabilidades, a presidente-candidata Dilma Rousseff parte para atacar o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Um ato risível, mas costumeiro do PT e seus líderes, que se fiam na desinformação do povo. De lá prá cá, já se foram doze anos!

Dizer que “naquela época as denúncias não eram investigadas” nada mais é que pura ilação, para desviar a atenção do povo de tantos escândalos. Quem tem memória sabe muito bem que a autonomia da PF começou justamente no governo de FHC.

O que não se via naquela época com tanta freqüência eram as farsas, as dissimulações, bem como tantos casos recorrentes de corrupção. É lógico que a corrupção sempre existiu no Brasil, porém nunca em uma escala tão grande, tão sem limites.

Recentemente vimos a farsa da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federal, criada para apurar irregularidades na compra de Refinaria de Pasadena. A falta de vergonha chegou a tal ponto, que não houve escrúpulo dos governistas em combinarem e ensaiarem as perguntas e respostas. E lá estava o Palácio do Planalto na figura do assessor direto da candidata-presidente, Ricardo Berzoine, Secretário das Relações Institucionais da Presidência da República.

Outro DNA do governo, também mencionado pelo delator Paulo Roberto Costa, é o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Roseto, ex-presidente da Petrobras Biocombustível. Vale lembrar que Roseto recentemente se afastou do governo para assumir uma das coordenadorias da campanha da presidente-candidata Dilma Rousseff.


Usando de todos os meios, imagináveis e não imagináveis, para a manutenção do poder, a presidente e seu partido fogem sempre pela tangente, quando o tema é corrupção e malfeito. É muito mais fácil se fiar na desinformação do povo e dizer “que nada sai” a um gesto de grandeza.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Mordido pelo próprio veneno

Não havendo novidade no cenário político até as eleições, podemos crer que a ambientalista Marina Silva (PSB-AC) terá grandes chances de alçar ao Palácio do Planalto no colo do povo. Algo bem semelhante ao que aconteceu com o metalúrgico Lula da Silva (PT-SP) no alvorecer de 2003, quando venceu com larga margem de votos, em segundo turno, o oponente José Serra (PSDB-SP), depois de três tentativas frustradas de chegar à presidência da República.

O principal trunfo de Marina Silva no momento é o de representar uma terceira via, ou uma alternativa nova de poder. Pode até ser que, caso eleita, Marina não consiga promover as mudanças esperadas, pois são notórias as dificuldades que terá, pela própria resistência do meio político. Mas, a realidade é que hoje a candidata traduz esta esperança, antes bandeira exclusiva de Lula da Silva e do seu partido, o PT (Partido dos Trabalhadores).

Uma das razões do crescimento da candidatura de Marina Silva é a resistência do eleitor a Aécio Neves (PSDB–MG), que não tem conseguido decolar. Isto se deve muito mais às campanhas sistemáticas que a cúpula petista tem efetivado contra o PSDB, que ao próprio candidato. Aliás, Aécio Neves tem grandes méritos como gestor. Tanto é assim que deixou o governo de Minas Gerais com larga margem de aprovação.

A campanha engendrada pelo PT contra o PSDB, e particularmente contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC/PSDB-SP), tem sido tão sistemática, que acabou por desgastar a imagem dos sociais democratas, ofuscando suas realizações. Recordemos apenas os avanços da telefonia celular, das privatizações, da criação das agências reguladoras (agora aparelhadas pelo PT), a introdução da política de aumento real do salário mínimo, o controle eficaz da inflação e o Bolsa Escola, cujo cadastro possibilitou a criação do Bolsa Família.

Essa campanha foi tão perversa que não poupou sequer D. Ruth Cardoso, esposa de FHC, uma intelectual brilhante e honesta, mentora e executora do projeto “Comunidade Solidária”, desativado pelo PT. E diga-se, com todas as letras maiúsculas: SEM QUALQUER ÔNUS PARA O HERÁRIO PÚBLICO.

Durante a campanha contra D. Ruth Cardoso – de supostos gastos exagerados com cartão de crédito, vazando propositadamente para a imprensa - a atual presidente Dilma Rousseff era ministra-chefe da Casa Civil, no governo de Lula da Silva. Os dados vazados mostraram-se falsos e o malfeito da “investigação” foi atribuído à Erenice Guerra, na época principal assessora de Dilma Rousseff. Erenice logo depois foi demitida por tráfico de influência.  Mais um caso de “aloprados”!

O ex-presidente Lula da Silva, a atual presidente e a cúpula do seu partido acabaram por instituir a política do “nós” contra “eles”, sem qualquer pudor e autocrítica. Por isto, uniram-se ao que há de mais atrasado e retrógrado na nossa política. São testemunhas disto Paulo Maluf, José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Fernando Collor de Melo, Valdemar Costa Neto, entre tantos.


Deu no que deu! Os malfeitos e a corrupção eclodiram “como nunca antes na história deste país”. E as inverdades, as dissimulações e as sujeiras sempre jogadas para debaixo do tapete. A desindustrialização do país e o crescimento perto de zero, com inflação próxima de sete por cento. Como falar de competência? Então criaram o país dos sonhos, que não existe, para perpetuar no poder. Mas o tempo mostra que eles estão sendo mordidos pelo próprio veneno. Falta-lhes competência!