A mesma fidelidade intransponível que Lacerda dedica aos
tênis de marca Mizuno, bem como às sungas de praia e camisas da Nike – estas,
usadas em todas as ocasiões - ele tem aos automóveis da Volkswagen. É como uma
verdadeira paixão; quase nacional! Começou lá pelo final da adolescência, nos
anos setenta, com o tradicional fusquinha. Naquela época, o fusca era o carro
mais popular do Brasil, embora acessível a poucos, pois o automóvel não estava ainda tão popularizado como hoje.
Lacerda sempre nos conta que ao começar o namoro com a sua
cara metade (nossa amiga de todas as horas, Olguinha), aconteceu de vir junto
com ela um fusquinha. Este era muito mais novo e melhor do que o dele, de modo
que ambos decidiram ficar com o dela. Vale esclarecer ao
leitor, que desde então eles jamais se separam.
Não tenho qualquer dúvida de que no final foi a Olguinha quem saiu lucrando. Além de ganhar um excelente motorista, o destino também lhe
reservou um exímio conservador de carros. Todo automóvel do Lacerda sempre está
impecável, em perfeitíssimas condições: além de lavado, nunca deixa de estar
encerado e cuidado com os mínimos detalhes, sem relaxar da manutenção
preventiva. Não é exagero dizer, portanto, que todo o automóvel do Lacerda tem
a aparência de novo, como se tivesse saído da loja.
O problema é que essa relação vai muito além do cuidado, pois também tem o lado afetivo. Cada automóvel de Lacerda é como se fosse um membro de sua própria família. É assim a
lembrança de cada um dos seus fuscas, do Karmanguia e do TL. Entretanto, quando
a lembrança é do Logus azul metálico, a saudade chega a dar um aperto por
dentro do amigo. Foram mais de 250 mil quilômetros rodados de pura paixão! Vendê-lo foi uma tortura, pois estava novinho em folha, brilhando... Certamente a Volkswagen falhou em não classificar aquele Logus como série única e especial, nominando a sua cor de “azul metálico super
cintilante”.
Enfim, não teve outro jeito! Olguinha exigia um carro com ar
condicionado e mais conforto, para as idas e vindas de Vitória a Iriri e os
passeios a Alto Caparaó, Porto Seguro, Friburgo e Mutum-MG. Foi quando veio o
Polo preto, trocado pouco tempo depois por um outro Polo branco, para tentar
esquecer o Logus. Segundo Lacerda, não houve troca de automóvel, pois como ele mesmo diz: - Foi a
Olguinha quem mandou pintá-lo!
Há pouco tempo estávamos indo para Alto Caparaó-MG passar um
feriado na acolhedora pousada Bezerra, do amigo Carlinho. Combinamos, então,
fazer uma parada em Espera Feliz-MG. Assim que parei, Lacerda foi logo
arrancando sem qualquer explicação. Quando chegamos ao destino final o amigo Luizinho (filho do
Lacerda) deu-me a explicação do que havia passado: - É que o chão do posto estava molhado e papai não quis sujar o carro.
Luizinho, como sempre, deixou sair seu riso solto e emendou: - Esse é o
Lacerda!
Em outra vez, estava eu e Cristina quase voltando para casa
depois de jantar, quando a Olguinha nos telefonou pedindo que os aguardassem,
que teria uma coisa muito divertida para mostrar. Lacerda e Olguinha haviam ido
para a praça do Imigrante em Anchieta e o Polo branco, novinho, ficou estacionado
sob uma árvore. Como Lacerda diz que só compra Polo quem conhece, dessa vez
ele não fez o reconhecimento da área, pois a árvore estava lotada de garças,
prontas para “por para fora” a comida devorada durante o dia.
Quando Lacerda e Olguinha chegaram o Polo estava tal como
uma pessoa com catapora; desde a dianteira à traseira ele estava todo pintado e
lotado de bostas. Pior é que naquele mesmo dia ele havia brincado que devíamos
limpar o nosso carro. Então, caímos na pele do Lacerda, com a complacência de
Olguinha.
O resultado foi que Lacerda acabou por perder umas boas horas
de sono. O troço estava ensebado, com dificuldade de ser retirado. Também não
podia deixar de ser lavado, porque senão ficaria manchado, conforme ele próprio nos contou no dia seguinte. Esse é o
Lacerda!
Nenhum comentário:
Postar um comentário