As últimas pesquisas de avaliação do governo e de intenção de
votos para presidente da República têm confirmado que grande parte dos
eleitores ainda se guia pela propaganda política na escolha do candidato. Isto
explica, de forma bastante clara e convincente, a razão da candidata-presidente
Dilma Rousseff manter o alto índice de popularidade, como tem apontado as
últimas pesquisas. Contudo, entre os eleitores de maior escolaridade, o índice
de rejeição da presidente continua bem grande.
Portanto, não foi em vão o esforço do governo - com destaque
para o tradicional toma lá dá cá de cargos e favores - no sentido de garantir o
tempo máximo possível para a propaganda da coligação da candidata-presidente
Dilma Rousseff. A pretensão era de que as eleições fossem decididas em primeiro
turno, com o uso da tática costumeira do “nós” contra “eles”, da forma como
gosta os marqueteiros e dirigentes petistas.
Entretanto, a cúpula do PT (e Planalto) não esperava a queda
do avião com Eduardo Campos, nem o retorno de Marina Silva ao campo da disputa
como cabeça de chapa do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Todos sabiam que
com Marina Silva no páreo as eleições só seriam decididas em segundo turno. Daí
o esforço para impedir a legalização do Rede Sustentabilidade, partido de
Marina, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Com relação à distribuição do tempo de propaganda de rádio e
televisão, o governo conseguiu atingir os objetivos planejados. Quase metade do
tempo, ou seja, 11 minutos e 48 segundos por dia, ficou para a candidata
petista. O segundo maior tempo, de 4 minutos e 31 segundos, foi para a
coligação de Aécio Neves. Sobrou para Eduardo Campos, e agora Marina, apenas 1
minuto e 49 segundos. O restante do tempo foi dividido entre os demais
candidatos. Uma desproporção que em nada
ajuda na consolidação de nossa Democracia.
Não obstante ao tempo, o que mais influencia o eleitor é a
capacidade de convencimento da propaganda. Neste aspecto, a candidata
governista também leva ampla vantagem, pois tem a máquina pública na mão, para
mostrar o que fez (e nunca o que deixou de fazer), sem qualquer aspecto
crítico, fantasiando, como é hábito no meio político, as suas realizações. O
governo é sempre mostrado como perfeito. Os problemas e defeitos são atributos
dos adversários, em nosso caso os da oposição.
Para incrementar tudo isto, há sempre as outras armas na mão.
Recentemente, em matéria publicada na imprensa nacional, o antropólogo Roberto
DaMatta, em seu artigo “Candidatos, pedintes e profetas”, disse muito bem que
“de saída, vale mencionar a mudança dos poderosos que — bem vestidos e
protegidos, os que sabem tudo sobre o Brasil — transformam-se em profetas e
pedintes. É com o coração na mão que nós os vemos fantasiados de gente simples,
ouvindo eleitores em locais insalubres e perigosos. Em botequins baratos, a
comer pastéis ou traçando com indisfarçável falta de jeito um bandejão”.
Neste enfoque, a transformação da candidata-presidente é
brutal. De carrancuda, transformou-se em santa e o seu governo é só perfeição.
O que a propaganda não faz?
Para agravar, infelizmente a desinformação no Brasil é muito
grande. E como a maioria da população não demonstra interesse em conhecer com
maior profundidade os bastidores da política, ela própria joga contra os seus
patrimônios ao ficar susceptível ao mundo de promessas e fantasias da
propaganda.
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