O senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem constantemente repetido o
que disse a ambientalista Marina Silva (Rede Sustentabilidade - AC) ao término
do primeiro turno: que perdeu a eleição ganhando. Isto porque além de enfrentar
a poderosa máquina aparelhada do governo petista, ambos saíram das urnas com
milhões de votos, embora amargando a desconstrução de suas imagens, da forma
desencadeada sem impor limites por João Santana, marqueteiro do Partido dos
Trabalhadores (PT).
Parafraseando essa mesma afirmativa, pode-se dizer que a
presidente Dilma Rousseff saiu do último pleito perdendo. Não só por fazer o
“diabo” e usar de subterfúgios para ganhar a eleição. Mas, sobretudo, pelo
tamanho dos problemas políticos e econômicos que ela herdará dela mesma, embora
os tenha sempre negado, preferindo atribuí-los a “profecias pessimistas” dos
adversários.
A primeira amostra foi dada na semana passada logo após a
eleição, quando a Câmara dos Deputados derrubou o decreto presidencial que
vincula as decisões de política de governo à aprovação de Conselhos “Populares”
(ou a movimentos da esquerda organizada?). Tais Conselhos “Populares” se
emaranhariam com as funções do Parlamento, tal como acontece no regime
bolivariano da Venezuela. Não se trata, portanto, de ação democrática, mas da
concentração de poderes nas mãos de uma minoria atrelada ao governo.
Por isto, lideranças importantes do PMDB e dos demais
partidos da base aliada hoje dão sinais claros de que não se renderão às
pretensões de hegemonia do governo petista. Há no ar um elevado grau de
desconfiança, que fortalece a candidatura do atual líder do PMDB, deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados, contra a vontade
do governo. A principal bandeira de Eduardo Cunha é, como ele mesmo diz, “não entregar
o comando do Congresso ao PT, para preservar o equilíbrio entre os Poderes”.
Outra questão é que o PT saiu enfraquecido das urnas, e na
ausência de alianças programáticas o fisiologismo do toma lá dá cá poderá
ganhar forças e sair muito caro a presidente Dilma Rousseff. Esta é uma prática
que a sociedade não tem cansado de manifestar que repudia; que não é mais
admissível!
A oposição, por sua vez, sai da eleição fortalecida por mais
de 51 milhões de votos libertos do Bolsa Família, que sintetizam a insatisfação
da metade da população. Tudo indica que
a oposição não dará trégua! Seu maior líder hoje, o senador Aécio Neves, ao
retornar ao Senado já condicionou que qualquer conversa dependerá da disposição
do governo em apurar os escândalos de corrupção que tomaram conta da Petrobras.
Contudo outros escândalos poderão vir à superfície, tal o
loteamento e aparelhamento do governo e das empresas públicas. Denúncias de
favorecimento de empréstimos no Banco do Brasil (BB) e no BNDES já levaram o
atual presidente do BB, Aldemir Bendine, a pedir demissão nesta semana.
Para complicar, o próprio governo agora admite que a situação
econômica do país é realmente grave. Não é a toa que comece a fazer o que disse
na campanha que não faria. Lembremos que no último dia 29 o Banco Central
aumentou a taxa de juros para 11,25%, para conter a inflação (não ia gerar
desemprego?). Também não é sem motivos, que o ministro da Fazenda Guido Mantega
hoje seja um ex-ministro no cargo.
Se realmente a presidente Dilma Rousseff acredita que saber
ganhar é não ter “soberba nem pretensão de ser o último grito em matéria de
visão política”, tem que reconhecer os
erros de seu primeiro mandato, para depois estender a mão com humildade. Caso
contrário, conforme o seu partido, o PT, ela continuará perdendo.
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