Do palacete
na Rua do Imperador - um dos mais luxuosos da capital do Império - avistava-se
a residência oficial de D. Pedro II: o Palácio de São Cristovão. O palacete era o
símbolo da ascensão de um menino nascido no Arroio Grande, na fronteira entre o
Rio Grande do Sul e o Uruguai, em 1813. Seu nome é Irineu Evangelista de Souza
– Barão e Visconde de Mauá.
Irineu
chegou ao Rio de Janeiro, aos nove anos, pelas mãos de um tio. Vinha com a
guarda transferida pela mãe, Mariana de Jesus, por rejeição do padrasto - aos
cinco anos havia perdido o pai, João Evangelista, assassinado por ladrões de
gado. É empregado, então, como caixeiro do comerciante português Pereira de
Almeida, em troca de comida e cama, como era comum à época. Aos 15 anos é
promovido à guarda-livros, pela aptidão e conhecimento minucioso dos negócios.
Em 1829 o
comércio de Pereira de Almeida é transferido ao escocês Ricardo Carruthers.
Irineu percebe novas oportunidades e passa a dedicar o tempo vago aos estudos,
inspirado nos conhecimentos do novo chefe. Carruthers, por sua vez, vê no jovem
talento a capacidade para torná-lo gerente da casa Carruthers & Cia em
1834. Um ano depois, faz de Irineu, aos 24 anos, seu sócio, quando resolve
retorna à Escócia.
A primeira
viagem de Irineu à Europa acontece em 1840, quando visita diversas indústrias e
conhece o mundo das finanças e das grandes corporações inglesas, em um momento
de superprodução e crise. Cheio de novas ideias, ainda em solo europeu, cria
com os amigos a empresa Carruthers, De Castro & Cia, para captar dinheiro
no mercado inglês e investir no Brasil.
Nesse
período, aqui predominava a crença escravocrata de que a riqueza só poderia ser
produzida pela agricultura e pelo comércio. O trabalho era desprezado: uma
atividade humilhante, destinada aos lacaios e escravos.
De volta ao
Brasil as ideias estavam consolidadas. Irineu trabalha para remover as
barreiras políticas e conceber e executar novos e ambiciosos projetos. Passo a
passo, com prudência e moderação, passa a empreender cada um deles, sempre
pensando em atender as expectativas dos sócios. Como aliado tem a motivação dos
colaboradores e “uma política administrativa fora dos padrões brasileiros”,
como diz Jorge Caldeira em “Mauá: Empresário do Império”.
Aos 40 anos
Irineu Evangelista já era um homem abastado. Possuía uma fundição com 700
operários; um estaleiro no Brasil e outro no Uruguai; uma companhia de
navegação no Amazonas; três estradas de ferro; bancos no Brasil, Inglaterra,
França, Estados Unidos, Argentina e Uruguai; fábricas diversas, fundições e
mineradoras; estâncias de criação de gado e empresas de comércio exterior. Era
ainda concessionário da Companhia de Iluminação à Gás e de linhas de
bonde.
O montante
dos negócios do Barão e Visconde de Mauá em 1867 chegava a 115 mil contos de
reais, só comparável ao orçamento do Império, que era da ordem de 97 mil contos
de reis.
Para
administrar tantas empresas usava a política de descentralização, atribuindo
responsabilidade de decisão aos gerentes e valorizando a remuneração do
trabalho. Por isto, limitava a utilização de escravo a apenas quando faltasse
alternativa. Neste caso, optava pelo aluguel, tratando igualitariamente o
escravo com o trabalhador livre.
Contudo,
para a sociedade escravocrata e a corte imperial brasileira, Mauá cometia a
heresia do lucro. Seu universo de negócios era incompreendido e invejado, em um
mundo em que os grandes empreendimentos estavam sob o controle do Estado, o que
o fazia também intolerante.
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