Quando o príncipe regente D. João chegou
à Bahia em janeiro de 1808, José da Silva Lisboa contava 52 anos. Desde 1797
fora nomeado Deputado e Secretário da Mesa de Inspeção da Agricultura e
Comércio da Bahia, após ser jubilado, a pedido, da cátedra de filosofia em
Salvador. Pelo cargo, Silva Lisboa vivenciava a crise que se abatia sobre os
negócios da colônia. O bloqueio continental imposto por Napoleão à Europa paralisara
o comércio e os portos brasileiros estavam abarrotados de mercadorias.
Nessa época, Silva Lisboa já gozava de
considerável reconhecimento junto à corte. Em 1798 publicara em Portugal o Direito Mercantil e Leis
de Marinha, reeditado em 1801; em 1804, Princípios de Economia
Política. Tornara-se, desde então, o
maior publicista no império português do liberalismo econômico - doutrina em
ascensão na Europa desde a publicação em 1776 de Uma investigação sobre a natureza e a
causa da riqueza das nações, do escocês
Adam Smith.
Coube, então, a Silva Lisboa, como
burocrata graduado da Coroa, relatar ao príncipe regente a realidade da vida econômica
e política da colônia, durante sua curta passagem por Salvador.
Consecutivamente é chamado a participar da elaboração da Carta Régia de 24 de
janeiro, que abriria os portos brasileiros às nações amigas.
A abertura dos portos à Grã-Bretanha era
uma questão imperativa, pois constava na Convenção Secreta de Londres. Além disso, a Inglaterra já havia cumprido sua
parte ao escoltar a família real e a corte portuguesa na viagem para o Brasil. Contudo,
Silva Lisboa corroborou para que a decisão da coroa fosse mais abrangente, ao
estender a liberação do comércio a todos os portos do Brasil e às demais nações
amigas de Portugal.
Em reconhecimento à competência e ao
saber de Silva Lisboa, em 23 de fevereiro de 1808 D. João decreta um ato instituindo
uma “aula de economia política”, e o nomeia para lente da disciplina - fato
inédito na época. Todavia, Silva Lisboa só chegaria ao Rio de Janeiro em 7 de
março, quando passa a difundir as mudanças ocorridas após a liberalização do
comércio.
Neste mesmo ano, em abril, é nomeado
desembargador da Mesa do Desembargo e da Consciência e Ordens, como Censor
Régio; em agosto, deputado da Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e
Navegação do Estado do Brasil. Também publicou o primeiro volume do primeiro
livro impresso no Brasil: Observações sobre o comércio franco do Brasil.
Até a chegada da família real, Silva
Lisboa havia saído poucas vezes da sua cidade natal, Salvador. O maior período
de ausência foi para completar os estudos na Universidade de Coimbra
(1774-1778), por mérito, onde se graduou em Direito Canônico e Filosofia e
dedicou-se ao estudo de línguas mortas.
Uma grande conquista para quem viveu a pobreza até a idade adulta, o
atraso do modelo escravista agroexportador e as limitações de toda ordem impostas
pela metrópole.
Além de dezenas de trabalhos publicados,
Silva Lisboa participou intensamente da vida política e econômica do Brasil
durante o período Joanino e do Primeiro Reinado, sempre com extrema lealdade à
monarquia. Suas iniciativas contribuíram para a organização e a melhoria do
funcionamento do Estado, adquirindo imensa importância por fomentar as
condições para elevar o Brasil a Reino Unido de Portugal (1815) e, depois, para
a independência (1822).
A dedicação ao Brasil e a extensão da
sua obra, valeram a José da Silva Lisboa a mercê do hábito de Cristo (1810) e
os títulos honoríferos de Barão (1825) e Visconde de Cairu (1826), estes últimos
concedidos por D. Pedro I, que também o nomeou Senador do Império, cargo que
exerceu até a sua morte, em 20 de agosto de 1835, aos 79 anos de idade.
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