terça-feira, 16 de julho de 2013

Decisão audaciosa e inteligente

A vitória da Grã – Bretanha na batalha naval de Trafalgar (1805) deu a Napoleão Bonaparte a dimensão das dificuldades que teria para alcançar a Costa da Inglaterra e atacar Londres. O lendário almirante Nelson, morto na batalha, ousara uma estratégia que impôs às esquadras francesas e espanholas, mesmo com uma frota mais numerosa, pesadíssimas baixas. A derrota fora clamorosa!

Então, para ferir a economia britânica, Napoleão decreta o Bloqueio Continental impedindo que os navios da Grã - Bretanha aportassem em qualquer parte do Império francês ou aliado; a paz estabelecida com a Rússia consolida esta estratégia. Todavia, não obstante as pressões da França, Dinamarca e Portugal insistiam pela neutralidade.

O primeiro a ceder e cerrar seus portos à Grã- Bretanha é a Dinamarca. Porém, a reação britânica é imediata e tenaz: uma esquadra com 27 mil homens sai em julho de 1807 da Inglaterra e bombardeia Copenhague; após cinco dias a cidade de rende e 13 naus, 14 fragatas e 42 navios são capturados.

Portugal, por sua vez, persiste em não entrar no conflito, pois a aliança à França implicaria perder o domínio das colônias de ultramar, de onde provinha 70 por cento de suas riquezas, já que a supremacia britânica nos mares era patente. A aliança à Grã-Bretanha, por outro lado, ensejaria a invasão pela França, através da Espanha, aliada de Napoleão.

Neste dilema, o Conselho de Estado português, presidido pelo príncipe regente D. João, ganhava tempo em complicadas gestões diplomáticas, na esperança de que a Grã- Bretanha e a França firmassem um tratado de paz. Se isto acontecesse Portugal passaria incólume, sem prejuízo de seu território ou de suas colônias.

Napoleão, entretanto, incomodado com a presença britânica em Portugal, determina a D. João que: decretasse a imediata adesão ao Bloqueio Continental; declarasse guerra a Grã- Bretanha; mandasse prender e seqüestrar os bens de todos os cidadãos britânicos em solo luso. Concomitantemente, Napoleão firma um tratado com a Espanha repartindo o território de Portugal e passa a concentrar forças na fronteira, para realizar a invasão.

O Conselho de Estado português ainda se esforça em persuadir Napoleão, declarando guerra à Grã Bretanha, em 28 de outubro de 1807, mais uma invasão de Portugal já estava selada. Uma semana antes, porém, a diplomacia lusa havia firmado a chamada Convenção Secreta com a Grã Bretanha, concedendo privilégios comerciais, inclusive a abertura de portos nas colônias, em troca de escolta que garantiria a transferência da corte para o Brasil.

Quando a esquadra lusa parte em 29 de novembro de 1807, com a escolta da armada britânica, que bloqueava a entrada do Rio Tejo, as tropas napoleônicas iniciavam o cerco a Lisboa.

A invasão de Portugal pela França era uma ameaça prevista pelo Conselho de Estado, que articulava a transferência da Corte em segredo, dissimulando-a em enviar o príncipe D. Pedro ao Brasil. Por esta razão, toda esquadra portuguesa, dissipada estrategicamente pelo mundo, se encontrava reunida em Lisboa. Outra medida foi manter no Brasil os navios mercantes, para reter na colônia as riquezas que seriam enviadas a Portugal.

A guarnição da frota, a seleção dos documentos do arquivo real e o armazenamento dos milhares de livros das bibliotecas, do tesouro real e das obras de arte demandaram muito tempo. Portanto, não se pode supor uma “fuga apressada”, por subtrai a competência do experiente Conselho de Estado de Portugal.

O que era inimaginável é que a tropas napoleônicas chegassem a farrapos, fatigada e faminta, pelas dificuldades encontradas. Nem que Napoleão viesse a lamentar no exílio a decisão de invadir de Portugal.





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