Há algumas semanas publicamos neste
mesmo espaço o artigo que titulamos “O que é isso, companheiro?”, inspirado no
título do livro de Fernando Gabeira. Naquela ocasião, contrapomos a forma pela
qual o governo brasileiro buscava a contratação de médicos estrangeiros
defendendo a validação dos diplomas para habilitação profissional, como também
criticando a contratação de médicos cubanos.
Com relação à contração dos seis mil
médicos cubanos prometidos pelo ministro Alexandre Padilha, afirmamos que era
uma forma do governo brasileiro “subsidiar o governo cubano, com milhões de
dólares ao mês”. Todo trabalhador em Cuba, inclusive os médicos, é servidor do
governo, sem autonomia profissional. O próprio direito de escolha do local de
trabalho é restrito. As exceções são prioridades limitadas aos membros do
partido.
Os contratos para cessão de médico por
Cuba, a exemplo do que é feito com a Venezuela, são firmados entre governos. O
médico cubano, portanto, não tem qualquer liberdade para escolher e firmar
contrato com nenhuma instituição, muito menos se ela estiver em um país
estrangeiro. Mencionamos isto, com absoluta convicção, por conhecer in loco a
realidade do trabalho médico em Cuba.
É estranho que somente agora o governo
brasileiro tenha se dado conta desse fato, para informar que desistiu da
contratação dos cubanos. Nossa embaixada em Cuba é extremamente atuante e
conhece com detalhes o funcionamento burocrático da Ilha.
Vejam o que não faz “a voz rouca das
ruas”. Ficaria muito difícil sustentar mais essa ajuda para Cuba. Já não bastam
as obras de infraestrutura realizadas com recursos do BNDES, subsidiados pelo
povo brasileiro?
Nos últimos dez anos deixamos que a
nossa Petrobras fosse expropriada pela Bolívia; que empresas brasileiras fossem
expulsas e perdessem recursos no Equador; abrimos mão do Tratado de Itaipu com
o Paraguai; perdemos estradas de ferro e continuamos a ser tripudiados pela
Argentina; liberamos dívidas de bilhões de dólares com países africanos.
Até parece que todos os nossos
problemas foram resolvidos e que “agora somos um país desenvolvido”, da forma
com que muitas vezes nos querem fazer crer. O que não faz o oportunismo? O que
deixa acontecer a ignorância?
O principal problema da saúde no
Brasil é a falta de financiamento. Gastamos muito pouco ainda com o setor.
Muito aquém do que gastam os nossos próprios vizinhos, tais como Argentina,
Chile e Colômbia. Esse problema ainda é agravado pela insipiência da gestão
pública e pela corrupção.
A contratação de médicos estrangeiros,
portanto, não é nenhuma solução para resolver os maiores problemas da saúde.
Alexandre Padilha ao afirmar “que o programa não vai tirar vagas de médicos
brasileiros, pelo contrário, vai gerar mais empregos para esses profissionais”,
na realidade comete mais um equívoco. O que não necessitamos é emprego para
médicos estrangeiros, mas melhorar os serviços já existentes.
Nos últimos anos as Santas Casas de
Misericórdia e os Hospitais Filantrópicos acumularam uma dívida de R$ 10
bilhões, pelo descaso do governo com a saúde. Essas entidades são responsáveis
por cerca de 50% dos atendimentos do SUS.
O que estão anunciando para a saúde
não é nada mais que outras balelas. Por isto as medidas anunciadas não têm
encontrado apoio das entidades sérias do nosso país.
Infelizmente, tudo indica que o que
estamos assistindo é a campanha antecipada para governador de São Paulo.
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