Era por volta das 9h da manhã, quando a esquadra
portuguesa despontou do Tejo. O esquadrão britânico que fazia o bloqueio à
costa, sob o comando de sir Sidney Smith, estava preparado para a batalha, até que
surge o Príncipe Real com o pavilhão da coroa portuguesa. A rainha D. Maria I e
o príncipe regente D. João estavam a bordo. Dissipava-se, assim, qualquer intenção
hostil de Portugal. A corte partia para o Brasil e a Convenção seria cumprida.
No mesmo dia 29 de novembro de 1807 o sir Sidney deixa
a nau Hibernia e é recebido por D. João no Príncipe Real. Por seu relato “o
príncipe disse tudo o que os sentimentos mais cordiais de gratidão para com a
Grã-Bretanha e confiança nesta poderiam suscitar”, ao agradecer a escolta
inglesa para a viagem.
D. João relutara em deixar seus servos. Se partia era para
evitar a guerra e não ver o império luso humilhado. As tropas de Napoleão, sob o
comando do General Junot, já avizinhavam Lisboa. Ali chegariam ao amanhecer do
dia 30, ocupando de imediato os fortes da barra, para impedir a saída de outros
navios.
A esquadra portuguesa, com 8 naus de linha, 3 brigues,
4 fragatas e 31 navios mercantes deixou o porto superlotada, com cerca de 15
mil pessoas: metade tripulante; a outra metade de fidalgos, funcionários da
coroa e criados da casa real. Somente o Príncipe Real levava 1054 pessoas. Além
disso, cada um dos navios levava tudo que foi possível carregar.
Os primeiros dias da viagem foram excessivamente extenuantes
pelas tempestades, que dispersavam os navios. Daí o medo, o incômodo dos movimentos
e da superlotação, o enjôo. Tudo isto fazia cada momento parecer eterno e
infernal.
No dia 3 de dezembro o sir Sidney destaca 4 naus para
escoltar a frota portuguesa, retornando à batalha na costa contra os franceses,
enquanto a fragata Medusa vai à frente, por ordem de D. João, para avisar no
Rio de Janeiro que a corte estava a caminho.
Porém, no dia 9, o Príncipe Real, o Afonso de
Albuquerque, que transportava D. Carlota Joaquina, e as fragatas Minerva e Urânia,
se separaram da nau inglesa Bedford, devido a pouca visibilidade. O reencontro só
aconteceria no dia 15, quando o capitão Walker relata ter visitado D. João,
prestando “toda atenção possível”, pois naquele momento recaia sobre ele a
responsabilidade da Convenção.
No dia 17 comemorou-se o aniversário de D. Maria I. Salvas
de canhão romperam a madrugada, sendo repetidas ao meio-dia e à tarde. O
capitão WalKer, comandante da Bedford, manda carregar as velas e os fuzileiros
apresentarem armas, enquanto dispara uma salva de tiros em homenagem à rainha.
D. Maria I relutara em ir a bordo, com problemas
mentais e extrema melancolia, agravadas pelas
mortes do marido, D. Pedro III (1786), e do filho, o príncipe herdeiro D. José
(1788), aos 27 anos. Dizia ver seu pai, D. José I, calcinado e cumprindo pena
no inferno, por permitir o Marques de Pombal expulsar os jesuítas do território
português.
Na proximidade do natal os cinco navios agrupados
chegaram à região do equador e entram na zona de calmaria, onde romperam 1808.
Nesta etapa, os navios bastante castigados pelas tempestades e insalubres, pelo
excesso de pessoas, mal conseguiam avançar. Então, D. João decide aportar em
Salvador, pela exaustão.
O alento chega no dia 17 de janeiro, quando o brigue
Trez-Corações, carregado de frutas, verduras e legumes, encontra a frota real.
O Medusa informara da passagem da família real pela costa de Recife.
No dia 22, após 54 dias no mar, D. João aporta em
Salvador onde assina a Carta Régia abrindo os portos às nações amigas. Iniciava-se
ali o grito que decretaria a independência do Brasil.
Os demais navios aportarem em pontos distintos da
costa brasileira, mas depois todos singraram rumo ao Rio de Janeiro.
Maravilha Wagner. Lindo texto, profunda pesquisa!Parabéns. Texto gostoso de ler e com gostinho de quero mais.
ResponderExcluirAgradeço ao comentário anônimo, porque o que foi escrito saiu com sinceridade e com o coração.
ExcluirMuito obrigado!
Da próxima vez não deixe de se identificar no blog. É um prazer recebe-la.