sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Dissimulando a incompetência


Demorou um pouco mais de duas semanas, para o governo desistir de estender em mais dois anos o curso de medicina. A Constituinte, com poder específico para realizar a reforma política, proposta em rede nacional pela presidente Dilma Rousseff, já não havia resistido um dia. Mas as novas regras para mudança de sexo, publicadas por meio de portaria na quarta-feira, bateu todos os recordes do governo. Não chegaram a durar sequer um dia!

Os transexuais e travestis, que estão na fila do SUS, esperando para mudança de sexo, não tiveram tempo para comemorar as medidas, que seriam anunciadas durante entrevista coletiva do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e seus principais assessores. Sem maiores delongas e explicações, até mesmo a entrevista foi cancelada.

Os jornalistas que estavam esperando, passada meia hora, também saíram frustrados. A explicação de que houve um imprevisto na agenda do ministro, concomitantemente a outro imprevisto na agenda do secretário de Atenção à Saúde, Helvécio Miranda, deixou todos surpresos. Para amenizar, sobrou apenas a nota do ministério.

Por esta nota, o governo se justificou dizendo que “convidará representantes dos serviços de saúde que já realizam este processo e especialistas na matéria para definir os critérios de avaliação individual” dos transexuais e travestis. Informou, ainda, que a questão não voltará a ser tratada “até que sejam definidos os protocolos clínicos e de atendimento no âmbito do processo transexualizador”.

A principal dúvida estava em esclarecer as regras para o início da terapia hormonal de mudança do sexo aos 16 anos. Certamente eles querem ampliar os direitos do adolescente. Se antes já podiam votar, poderiam também realizar a mudança de sexo. Nesta idade, eles só não podem ter deveres, como responder por atos criminais, porque esta é uma questão decidida “tal qual uma cláusula pétrea da Constituição”, como disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso (PT-SP).

Assim, pela ótica do poder, não faltou competência. Houve apenas uma pequena falha na cronologia entre os estudos e a publicação da portaria. Talvez, por lapso de memória de algum burocrata, publicou-se primeiro a portaria, antes de aprofundados os estudos.

Mas sob essa ótica, esta é uma questão secundária. A principal é viabilizar a mudança de sexo. Por isto, uma coletiva com a presença do ministro e seus principais assessores. 

Se a questão fosse de ordem econômica, haveria incompetência e culpados. Sempre há os “propagadores do pessimismo”, da forma como diz a presidente Dilma Rousseff. Estes nunca sabem interpretar os fatos!   

Louva-se sempre a “competência” do ministro da Fazenda, Guido Mantega, pelos méritos de manter o perfeito equilíbrio das contas públicas e a inflação dentro das metas fixadas. Execrado tem que ser o mercado, por induzir a desconfiança nos números apresentados. 

Não existe crescimento pífio do PIB, nem desempenho fraco da balança comercial. Muito menos manipulação das contas públicas, para fabricar resultados. A dívida bruta do Brasil está sob controle, embora tenha triplicado nos dez últimos anos do PT. Não há problema se ela chega a quase R$ 3,0 trilhões ou a 60% do PIB, pelos números do governo. E ainda acabaram com a dívida externa...

Em último plano fica a capacidade para reconhecer os próprios erros ou os fracassos. Vale muito mais governar dissimulando a incompetência, que encarar a realidade de frente. Assim, é muito mais fácil!  

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