O augúrio de D. Leopoldina começou a ser traçado com a chegada de Domitila de Castro do Canto e Melo ao Rio de Janeiro. O príncipe D. Pedro a conhecera em São Paulo, através do irmão, alferes Francisco de Castro, durante viagem para debelar os conflitos que instabilizavam aquela província, dias antes da independência.
Domitila casara-se aos 15 anos, com o alferes Feliciano de
Mendonça, com quem teve três filhos. Aos 21 se separara, após ser espancada e
esfaqueada. Segundo Feliciano, por “violação da honra”, pois a encontrara
“resvalada aos pés de um fauno”, como dizia do coronel Francisco Lorena, que
viria a manter relação com Domitila até seus 24 anos, quando ela conhece D.
Pedro.
Domitila não tardou a seduzir o regente, pois o primeiro
encontro íntimo foi quase imediato, em 29 de agosto de 1822. Também não
tardaria a abalar o prestígio do imperador D. Pedro I e o Império nascente.
Mas, as feridas mais profundas seriam dilaceradas na Imperatriz, D. Leopoldina,
pela ascensão de Domitila sobre D. Pedro.
Ainda em julho de 1823 D. Pedro I demite José Bonifácio,
amigo e confidente de D. Leopoldina, que é forçado ao exílio. Compõe, então, um
governo de portugueses. A Imperatriz vai ficando isolada, o que é agravado
quando o imperador nomeia a concubina para Primeira Dama da Imperatriz, em
abril de 1825, dando-lhe lugar de honra e o direito de acompanhar D. Leopoldina
por toda parte.
Segundo Maria Graham, isto causou à Imperatriz “o mais odioso
dos incômodos”, pois permitia que Domitila a acompanhasse, desde que ela saía
dos seus aposentos. Mesmo assim, pelo amor a D. Pedro e aos filhos, a Imperatriz mantinha-se
altiva, por considerar um dever suportar situações adversas. Não raras vezes,
ainda era submetida a restrições financeiras e obrigada a recorrer a amigos,
enquanto Domitila e os seus eram contemplados por ricos presentes, cargos e
títulos honoríficos.
Em 12 de outubro de 1825, no aniversário do imperador,
Domitila é elevada à Viscondessa de Castro; no seguinte, à Marquesa de Santos.
Antes, porém, em maio de 1826, D. Pedro reconhece publicamente a paternidade de
Isabel Maria, filha com Domitila, impondo sua convivência com os filhos
legítimos. Um duro golpe, que deixa a imperatriz muitíssimo ressentida.
Outro golpe foi a viagem à Bahia, com o fim de arregimentar
tropas para a Guerra da Cisplatina, entre fevereiro e março de 1826. Para o povo
baiano foi um escândalo a forma de D. Pedro tratar a concubina, se
hospedando no mesmo lugar que ela, em detrimento de D. Leopoldina e da filha
Maria da Glória, que ficaram em local mais modesto.
Em decorrência de tantas adversidades a imperatriz entra em grande
crise depressiva, que só termina com sua morte, aos 29 anos, em 11 de dezembro
de 1826. Deixa cinco filhos: o mais novo, Pedro de Alcântara, com um ano, seria
Imperador do Brasil; a mais velha, Maria da Glória, com 7, seria Rainha de
Portugal.
Tudo começou no dia 20 de novembro, quando D. Pedro I lhe passaria a Regência, para uma viagem de inspeção às tropas, no sul do país. D. Leopoldina, grávida, se recusara a ser acompanhada por Domitila, o que deixou o imperador furioso, por não poder mostrar aos presentes a “normalidade” da sua vida conjugal.
Na carta derradeira à irmã Maria Luíza, ditada à Marquesa de
Aguiar no dia 8 de dezembro, D. Leopoldina diz que D. Pedro “acabou de dar-me
a última prova de seu total esquecimento, maltratando-me na presença daquela
que é a causa de todas as minhas desgraças. Muito e muito tinha a dizer-te, mas
faltam-me forças para me lembrar de tão horroroso atentado que será sem dúvida
a causa da minha morte”.
Se a Imperatriz morreu por septicemia puerperal após ser
agredida por D. Pedro, não há provas. Do que há é que Domitila ainda tentou adentrar
nos aposentos onde a Imperatriz agonizava, mas que foi impedida pela pronta
ação dos que acompanhavam D. Leopoldina em sua agonia mortal.
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