Cidade de
São Salvador da Bahia de Todos os Santos. Noite de quinta-feira do dia 6 de
novembro de 1837. O exaltado Francisco Sabino Vieira, ao lado de João Carneiro
da Silva Rego, Manoel Gomes Pereira e mais dois militares revoltosos, entra no
Forte de São Pedro. Todo o corpo da artilharia o esperava, inquieto. Chegara a
hora da Bahia declarar a sua autonomia política e o Federalismo, não
conquistados em tentativas anteriores.
A
mobilização já contava com o maciço apoio da camada média urbana, incluindo um grande contingente
de militares radicados na capital. A insatisfação era enorme e expandia-se por diversas parte do interior. A escassez de produtos básicos, a carestia e o
recrutamento forçado para combater os farroupilhas no sul do Brasil eram
problemas comuns de toda a Bahia. Daí a desilusão com a independência e com
a corte no Rio de Janeiro, que emanava a imagem de substituir Portugal - O Rio de janeiro agora era visto com um fardo, preocupada apenas em carrear cada vez mais recursos da
província, tal como se ela fosse agora sua colônia.
Todo esse
descontentamento favorecia a difusão do movimento, corroborando com que as
notícias da trama circulassem pela cidade sem qualquer parcimônia. O periódico
“Novo Diário da Bahia”, editado por Sabino, ajudava a inflamar ainda mais os
ânimos. As autoridades, todavia, teimavam em subestimar os acontecimentos. O
comandante das armas, Luiz de França Pinto, por benevolente, não se furtava em
defender cada uma das cabeças que conspiravam, dizendo confiar nelas. O
presidente da província, Francisco de Souza Paraíso, por sua vez, ficava sempre
solidário a ele.
Então,
quando essas autoridades tomam conhecimento da revolta, conforme nos conta o
historiador Antônio Risério, em "Uma História da Cidade da Bahia",
são obrigadas a passar a noite e madrugada concentrando soldados e
marinheiros, cerca de 300 homens armados, na Praça da Piedade. Na hora H são
pegas de surpresa. Em vez de obedecer ao comando de carregar armas, soldados
jogam balas no chão. Passavam para o outro lado.
Assim, na
impossibilidade de resistência, os partidários do império são compelidos a
refugiarem-se na região do Recôncavo, de onde passam a organizar a reação, com
o apoio da aristocracia rural baiana.
Com o
território livre, os revoltosos realizam na manhã do dia 7 uma sessão
extraordinária na Câmara de Vereadores, onde decretam o desligamento de toda
província “do governo denominado central do Rio de Janeiro”. A Bahia se
autodenominava livre e independente. Para presidente, Francisco Sabino indicou Inocêncio
da Rocha Galvão, refugiado nos Estados Unidos, depois de ser acusado de
assassinar o presidente das armas em 1824; para vice-presidente foi escolhido
João Carneiro da Silva Rego, que assumiu o governo provisório, pela ausência do
primeiro. Coube a Sabino a Secretaria Geral de Governo.
No entanto,
Francisco Sabino seria o líder de fato do movimento. A aparente função secundária decorria de
seu temperamento violento e radical, bem como da suposta prática do
homossexualismo, não aceito na época. Sabino ainda carregava nas costas o peso
da morte de sua mulher, Joaquina Gonçalves, quando ela contava com apenas 25
anos, bem como do assassinato de dois de seus desafetos.
Segundo o
inquérito policial sobre a morte de Joaquina, consta no depoimento de seis
testemunhas que Sabino a teria agredido, após ser encontrado por ela na rede
“servindo-se de um homem preto como se fora mulher”, nas palavras de uma delas.
Por outro lado, não deixava de ser um destacado intelectual da Cidade da Bahia,
onde exercia a cátedra de professor de medicina e o jornalismo.
O início da
Sabinada guardaria outra contradição: Na ata da assembléia realizada no dia 11
de novembro, acrescentou-se que a independência da Bahia seria até o príncipe
D. Pedro completar a maioridade, para satisfazer os monarquistas. Porém, outro
grupo dos líderes, entre eles Sabino, pregava a revolução Federalista e a
fundação da República Bahiense.
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