O ministro da Fazenda, Guido Mantega, depois de comentar
sobre a sua satisfação com o resultado das urnas, afirmou categórico “que isso
mostra que a população está aprovando a política que estamos praticando”,
referindo-se à política econômica do atual governo, sob o seu comando e da
presidente Dilma Rousseff. Não é de admirar essa declaração do ministro, pois
ela é tal qual as suas previsões, sempre exageradas e muito distantes do que
comprova a realidade.
O que mostrou o resultado das urnas é justamente o contrário,
uma vez que quase a metade dos brasileiros votou no candidato da oposição. Mas
se acrescentarmos os eleitores que não tiveram interesse em escolher um
candidato, a insatisfação será maior ainda, já que mais de 60% dos 137,6
milhões de eleitores não votaram na presidente Dilma Rousseff. E no bojo dos
clamores por mudanças está implícito o descontentamento de muitos brasileiros
com os rumos da economia.
Uma das características singulares do governo petista é não
reconhecer a vulnerabilidade de seus feitos. Para eles tudo está perfeito, daí
a aversão às críticas. Entretanto, a situação real da nossa economia é muito
diferente do colorido pintado pelo marqueteiro João Santana durante a campanha
política e do que tem dito o ministro Mantega. É isto o que mostram os
indicadores.
Quando a questão é crescimento econômico, por exemplo, este
ano estaremos na rabeira do mundo. Segundo projeções do mercado financeiro e do
Fundo Monetário Internacional, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro não
crescerá mais que 0,3%. Isto acontecendo, a média do crescimento do PIB durante
o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff será inferior a 1,75% ao ano,
muito menor do que a média histórica do Brasil, que é de 4,4% ao ano. Portanto,
um fracasso!
Em nossa história republicana somente dois governos tiveram
desempenho pior em seu respectivo período de governo: Floriano Peixoto (de 1891
a 1894), com queda no PIB de 7,5%, e Fernando Collor de Mello (de 1990 a 1992),
com queda no PIB de 1,3%.
Outro indicador que demonstra a deterioração da nossa
economia é o resultado das contas externas. No último mês de setembro, o Brasil
registrou um déficit de US$ 7,9 bilhões, o maior da série histórica desde o ano
de 1947. Neste ano o déficit resultante das trocas comerciais e de serviços com
o exterior aumentou em 186%, com relação ao mesmo período do ano passado. Nos
últimos doze meses já representa um rombo de 3,7% do PIB.
Um dos problemas é a queda nos preços de nossas commodities
agrícolas e minerais, tal como tem dito o ministro Mantega. Porém, fatores tais
como a baixa produtividade e competitividade de nossas empresas, a precariedade
da educação e da infraestrutura, a alta carga tributária e a própria confiança
na economia - que amedronta os investimentos nas áreas produtivas - vão
deixando um rastro de estragos difíceis de serem apagados.
Temos ainda uma inflação acima do teto da meta (6,5%),
déficit nas contas correntes (estimado para este ano em US$ 81,5 bilhões),
dívidas interna e externa crescentes - que elevaram a dívida bruta do setor
público do Brasil no último mês de setembro, de acordo com o Banco Central,
para cerca de 60,2% do PIB, ou seja, R$ 3,03 trilhões – uma das maiores do
mundo. Com exceção das reservas de capital e do emprego, os demais indicadores
são péssimos, o que evidencia uma má condução da economia.
Também, o aparelhamento do Estado, a corrupção desenfreada
nos órgãos de governo, fundos de pensão e nas empresas públicas, a gestão
politizada dos bancos públicos e a malfadada contabilidade criativa continuam
suscitando enormes desconfianças no mercado.
Pelo conjunto da obra não faltam razões para a saída de
Mantega. Resta agora acompanhar o que fará a presidente Dilma Rousseff em seu
segundo mandato. Mas, de uma coisa é certa: a presidente não poderá continuar a
dizer “que não sabia de nada”, pois o presidente da República é sempre muito
bem informado e só não age quando não quer ou por incompetência.