sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Conluio com desfaçatez e cinismo


O decreto de indulto natalino beneficiando criminosos condenados por corrupção foi um tiro dado à queima-roupa nas costas do Brasil, na última semana, pelo presidente Michel Temer (PMDB-SP). O País encontra-se esfrangalhado e maltrapilho, com hematomas por todos os lados em “berço esplêndido”, pelas ações de verdadeiras máfias que se espalharam no seio do poder público. O decreto é a conivência com crime, como se o presidente da República, que deveria ser o maior magistrado da nação, dissesse a todos os brasileiros que aqui dentro o crime contra o Estado compensa.
Por isto, não faltaram apelos e recomendações em contrário do Ministério Público Federal (MPF), do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, da força-tarefa da Operação Lava-Jato, e até da Organização Não Governamental (ONG) Transparência Internacional. Todos esses órgãos em conjunto com os setores mais responsáveis da nossa sociedade eram contrários a qualquer anistia a crimes contra a administração pública, como é o caso dos condenados por corrupção que receberam o indulto.
Quem melhor expressou essa indignação foi o coordenador da agora minguada força-tarefa da Operação Lava-Jato, o procurador Deltan Dallagnol, ao afirmar que o decreto de indulto e comutação (perdão total) da pena concedida pelo presidente e o ministro da Justiça, Torquato Jardim, é “um feirão de natal para corruptos”. E, ainda, com uma fina ironia, parabenizou o presidente “pela ótima mensagem que o Planalto passa à população sobre sua atitude diante da corrupção”.
Assim, não resta a mínima dúvida - que determinantemente sempre deve lembrar aos brasileiros – de que o presidente não tem o mínimo pudor quando se trata de corrupção. Lá atrás a prova foi dada pelo empresário Joesly Batista, principal acionista do grupo J&F (proprietária da JBS) e agora presidiário. Usando o seu “nós vai”, ele afirmou com todas as letras que a mala apressada de dinheiro sujo carregada pelo ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) era para o presidente Michel Temer.
O presidente é tão grato aos seus amigos que não sente qualquer constrangimento em conceder-lhes indulto e comutação de penas. Quiçá amanhã, em dia festivo no Palácio do Planalto, ainda vá condecorá-los da mesma forma como fez com o amigo Rocha Loures, no dia 20 de abril do corrente ano, uma semana antes dele ser flagrado no crime, quando agraciou-lhe com a medalha da Ordem de Rio Branco, a mais alta condecoração diplomática brasileira. E não faltou quem aplaudi-lo!
É como exposto em editorial recente de “O Globo”, todos os crimes de colarinho branco, como corrupção e lavagem de dinheiro, que, coincidentemente, são os delitos por que Temer e quase toda a sua trupe estão denunciados ou já condenados. O referido decreto parece ter sido feito sob encomenda para os condenados da Lava-Jato e criminosos da elite...
Louva-se, então, a atitude da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, de ingressar ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contestando trechos do indulto concedido pelo presidente Temer. Também a ação da ministra Carmen Lúcia por suspender as partes despudoradas do decreto, por inconstitucionalidade. Ainda bem, pois se o caso caísse nas mãos do ministro petista Ricardo Lewandowisk ou do ministro libertador de corruptos Gilmar Mendes, com certeza teria outro desfecho. Não precisamos de maior desgraça, não é mesmo?

Nossa coluna deseja a todos os leitores um excelente ano de 2018. Com muita saúde!

Nenhum comentário:

Postar um comentário