Em relatório
intitulado “Um Ajuste Justo”, apresentado pelo Banco Internacional para Reconstrução
e Desenvolvimento (BIRD), principal apêndice do Banco Mundial, foram apontadas várias
sugestões para melhoria na qualidade dos gastos públicos no Brasil. Entre elas
destacam-se a necessidade iminente de reforma da Previdência Social, a de
mudanças na forma de remuneração do funcionalismo público e a da revisão dos
programas e incentivos fiscais do Governo. Segundo o BIRD, a efetivação dessas
reformas poderia resultar em uma economia na ordem de 8,36 % de nosso Produto
Interno Bruto (PIB).
É evidente a
qualquer analista que o Brasil gasta muito e gasta mal. Isto se dá não apenas
em razão de mordomias, privilégios e da baixa produtividade dos serviços
públicos, com raríssimas exceções. Mas, também, pelos elevados níveis de
corrupção, do excesso de burocracia, do tamanho excessivo do Estado, entre
tantas outras mazelas que os gestores públicos sempre encontram dificuldades em
enfrentá-las. Outro problema é a falta de planejamento de médio e longo prazo,
que não se resumem a obras inacabadas e de baixíssima qualidade.
Em se tratando
estritamente da previdência social as distorções são enormes, em razão da
desproporção entre as aposentadorias de determinadas categorias de servidores
públicos e as dos trabalhadores da iniciativa privada. Segundo dados do próprio
Governo Federal, 980 mil aposentados do serviço público geram um déficit anual
de R$ 77,2 bilhões à previdência, enquanto o sistema de 29 milhões de
aposentados e pensionistas que recebem seus proventos pelo Instituto Nacional
de Seguridade Social (INSS) têm um déficit no montante de R$ 159,7 bilhões.
Deve-se considerar
que muitos servidores públicos ainda acumulam aposentarias do INSS pela
sobreposição de funções permitidas na Constituição Federal de 1988, como é o
caso de médicos e professores. O inverso, porém, não acontece. Mesmo assim, quando
se compara o déficit per capita entre ambos os setores a diferença é patente,
pois enquanto o regime público tem um déficit per capita de R$ 78,6 mil ao ano,
o dos aposentados do INSS é de R$ 5,2 mil - 15,4 vezes menor que o primeiro.
O BIRD também chama
a atenção para o fato de que 35% do déficit da previdência - diferença entre os
valores arrecadados e os benefícios pagos - beneficiam 20% da parcela mais rica
da população, enquanto 18% financiam os proventos de 40% da parcela mais pobre.
Como conclusão o relatório do BIRD destaca que a reforma proposta pelo governo “é socialmente justa,
pois reduziria principalmente os subsídios concedidos a trabalhadores que
recebem acima de três salários-mínimos”.
Por ironia são os
trabalhadores do setor privado os que recebem os menores salários, embora sejam
eles os que verdadeiramente produzem a riqueza do País. Além disso, são eles os
que têm menor expectativa de vida e que se aposentam com idades mais avançadas.
Nenhum trabalhador brasileiro tem direito à aposentadoria compulsória depois de
cometer malfeitos, nem de se aposentar após ser cassado tal como acontece com
suas excelências no Congresso Nacional.
O fato é que no
Brasil nem todos são iguais perante a lei. E ninguém quer perder seus privilégios,
mesmo que eles prejudiquem o futuro do País (como aconteceu na Grécia).
Protelar a reforma é travar o processo de desenvolvimento e comprometer a
criação de novos empregos. Assim, quem continuará perdendo é o trabalhador
brasileiro, bem como o próprio País por não promover uma melhor distribuição de
renda, em benefício da maioria.
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