Quando a
família real desembarcou no Rio de Janeiro, em 1808, o futuro imperador do
Brasil, D. Pedro I, contava nove anos de idade. A estratégia de transmigração
da corte, aprovada pelo príncipe regente D. João, era de não deixar que a rica
colônia da América, o Brasil, viesse a ser dominada pelos britânicos. A viagem
para o Brasil evitaria também a humilhação do trono português pela França, pois
as tropas sob comando do general Junot já estavam na fronteira com a Espanha
para ocupar Portugal.
D. Pedro de
Alcântara nascera em Lisboa, no Palácio de Queluz. Com a morte de seu irmão
mais velho, D. Antônio, em 1801, tornara-se o legítimo herdeiro de D. João, que
já ocupava o trono devido à insanidade da rainha, D. Maria I, sua mãe. Embora
muito estimado pelo pai, D. Pedro era preterido por D. Carlota Joaquina, que
tinha predileção por D. Miguel, seu filho mais novo. Dela D. Pedro herdaria o
temperamento impulsivo e às vezes até mesquinho e grosseiro, mas também com
capacidade de externar grande bondade, conforme seu pai.
Desde
pequeno D. Pedro manifestava uma grande vocação para a carreira militar. Quando
adulto mostrou-se romântico e sedutor. A maioria de seus biógrafos concorda que
lhe faltava uma educação esmerada, conforme tradição das famílias reais
européias, o que não lhe significa que não tenha adquirido uma razoável
cultura. Além da língua pátria, dominava o latim e o francês, e compreendia bem
o alemão e o inglês. Gostava de compor músicas e poesias, bem como dos hábitos
simples, sem protocolos.
O ingresso
de D. Pedro na política sucedeu-se quando a família real é forçada pelas Cortes
portuguesas a regressar a Portugal, com a Revolução Liberal do Porto, em agosto
de 1820. No entanto, já adaptado ao Rio de Janeiro, D.João hesitava em voltar. Para
atenuar a pressão das Cortes, o ministro da Guerra e dos Negócios Estrangeiros,
conde de Palmela, aconselhou-o a mandar para Lisboa o príncipe herdeiro.
Todavia,
conforme relatam as historiadoras Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling, em
“Brasil: Uma Biografia”, D. João, por seu
lado, ia resistindo: nem consentia em voltar, nem lhe agradava a idéia de
mandar para Portugal o filho Pedro. Por sinal, sussurrada pelos cantos, essa
sugestão mais parecia um segredo de polichinelo: todos conheciam o projeto,
menos o príncipe. A essas alturas, já com mulher e filhos, ele era mantido na
maior ignorância dos planos que envolviam sua pessoa. D. Pedro, embora
casado, continuava a manter uma vida de boemia - típica da juventude.
Porém, por
intimação das Cortes, em abril de 1821 D. João VI é obrigado a retornar para
Portugal - após jurar obedecer à constituição – com toda família real, exceto
D. Pedro, que é declarado Príncipe Regente do Brasil. Além do tesouro real, D.
João levaria todo o ouro e demais riquezas depositadas no Banco do Brasil. Com
ele também regressou a Portugal uma comitiva de 4000 pessoas entre servidores
da casa imperial, ministros, burocratas, militares e membros do clero. D. Pedro,
entretanto, continuava a relutar em permanecer no Brasil.
As ações das
Cortes portuguesas, entretanto, se intensificavam. Várias capitanias são
transformadas em províncias, com juntas governativas subordinadas diretamente às
Cortes em Portugal. Os poderes de D. Pedro são reduzidos. Ficava cada vez mais
claro aos brasileiros do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, que a
intenção das Cortes era dividir o Brasil, submetendo-o, de novo, ao domínio de
Portugal.
Além dessas
pressões, foi fundamental a adesão de D. Leopoldina à causa dos brasileiros.
Sua tia Maria Antonieta tinha sido guilhotinada por uma revolução liberal na
França e ela temia pelas notícias que chegavam de Portugal.
Mesmo contra a vontade, D. Pedro foi obrigado a permanecer no Brasil, que clamava pela sua libertação de Portugal.
Mesmo contra a vontade, D. Pedro foi obrigado a permanecer no Brasil, que clamava pela sua libertação de Portugal.
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