Mal terminou
o barulho das manifestações de 15 de março e de 12 de abril, quando milhares de
brasileiros foram às ruas expressar o descontentamento com a corrupção e os
rumos da política, o parlamento e o governo dão sinais claros de que continuam
com as costas viradas ao povo brasileiro, que clama por mudanças. E não são
poucas as evidências no curso dos últimos dias, que denotam o afastamento dos
políticos à vontade da maioria, que ainda sonha com um país mais descente e
mais justo.
Um sinal
claro deste despautério foi a derrocada simultânea de duas Comissões
Parlamentares de Inquéritos (CPI’s) no Senado Federal: a do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a dos Fundos de Pensão. A retirada
das assinaturas de cinco senadores do Partido Socialista Brasileiro (PSB), por
interferência do senador João Capiberibe (PSB-AP), e uma do Partido
Progressista (PP), inviabilizou a instalação das duas CPI’s que investigariam possível
desvio de recursos, também em ordem bilionária.
Fez-se,
assim, a vontade do governo, que atordoado pela operação Lava-Jato, e com a
reação pública aos malfeitos realizados pelo PT e aliados na Petrobras, tudo
tem feito para evitar uma nova CPI.
Segundo nota
dos socialistas, o principal motivo para a retirada das assinaturas é que um
número grande de CPI’s “dispersa o
trabalho do Senado Federal, enfraquece a investigação,
desviando as atenções do debate das grandes questões nacionais, como a reforma
política e a construção de um novo pacto federativo”. Uma história assemelhada aos contos da carochinha, ou, se
preferirem, uma história para boi dormir.
A questão é
que depois da morte do ex-governador Eduardo Campos (PSB-PE) uma corrente dos
socialistas, liderada pela facção do senador Capiberibe, queria a adesão à
candidatura da presidente Dilma Rousseff, contra a de Marina Silva (PSB-AC).
Agora essa mesma corrente negocia o retorno do PSB à base do governo, em favor
da obtenção das benesses e do fisiologismo. E a hora mostra-se oportuna, porque
o PSB poderá evitar um possível pedido de impeachment
da presidente Dilma Rousseff.
Com relação
à CPI da Petrobras, em curso na Câmara dos Deputados, há também claros sinais
de que tudo acabará em pizza. A nomeação do ex-deputado Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN) para o Ministério do Turismo mostrou-se a gosto do deputado dito
“rebelde” Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, e de Michel Temer
(PMDB-SP), vice-presidente da República, acumulando a coordenação política do
governo.
O presidente
do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), por seu turno, roga-se de
descontente, aproveitando-se da vulnerabilidade atual da presidente Dilma
Rousseff. Com a saída de seu apadrinhado Vinícius Lages do Ministério do
Turismo, Renan agora faz-se de estadista dizendo não “aceitar barganha” e que “é
fundamental a reforma do Estado para que essas coisas deixem de acontecer”. Observa-se, todavia, que lá na frente a
situação política poderá aumentar o valor de troca.
Entretanto,
as denúncias contra o PT e governo não param. A prisão de João Vaccari Neto,
secretário de Finanças e Planejamento do partido, pela Polícia Federal, foi um
banho de água fria. E por mais que a presidente se esforce será quase impossível
descolar o seu governo deste fato. A proeminência de Vaccari e a defesa empreendida
em seu favor pelas lideranças petistas não serão facilmente esquecidas.
Mas o
governo não medirá esforços para impedir o pedido de impeachment da presidente, acreditando que as manifestações
populares serão arrefecidas. Contudo, a crise política está instalada.
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