Por Wagner Medeiros Junior
Mal começou a
desfraldar a bandeira alvianil que substituíra o pavilhão do Império no Forte de São Pedro, iniciou-se o êxodo de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, capital da província da Bahia. Primeiro foram as autoridades civis e
militares leais à Coroa. Logo depois os moradores contrários à separação da Bahia do Império do Brasil.
Cada um que emigrava levava tudo o que podia carregar, inclusive os estoques de víveres, aproveitando-se da inação do novo governo, que esperava a sublevação
do interior para consolidar o movimento.
A força
restauradora do Império, por sua vez, prontamente se organizava: Um governo provisório foi
instalado em Cachoeira e a Guarda Nacional recrutada, com o apoio logístico e
financeiro da aristocracia rural do Recôncavo. Assim, cada um dos levantes que iam surgindo fora da capital acabava por ser imediatamente sufocado, a começar pelo da
Ilha de Itaparica, o que fez com que os separatistas ficassem imperativamente isolados. E para dificultar-lhes ainda mais a situação, a capital foi sitiada através de um bloqueio por terra e mar.
A estratégia de
sitiar a capital fora bem sucedida durante a expulsão
dos holandeses de Salvador e na guerra de adesão da Bahia à Independência do
Brasil, quando o exército português foi posto em retirada. Naquelas ocasiões os inimigos foram levados à exaustão pelo cansaço e pela
fome.
No dia 30 de
novembro de 1837 as forças separatistas fizeram a primeira incursão para tentar romper
o bloqueio, com 800 homens em duas frentes de guerra, uma na Campina e a outra no Cabrito.
Em ambos os lados, entretanto, os separatistas foram rechaçados pelas tropas leais ao Rio de Janeiro. Então, para reforçar o exército "libertador", os líderes da revolta deliberaram pela libertação dos escravos nascidos no Brasil, mediante a
indenização dos proprietários. Formou-se, assim, um batalhão composto exclusivamente por negros, nominado batalhão dos “Libertos da Pátria”.
O revés da
derrota dos separatistas se daria no início de dezembro, quando a Guarda Nacional é rechaçada na
tentativa de desembarcar em Itapagipe. No dia 14 de janeiro de 1838, entretanto, os separatistas voltam a ser derrotados ao tentar desalojar a Guarda Nacional acampada em
Itapoã. Logo depois da derrota começam a sentir os efeitos do cerco e da fome, razão
pela qual resolvem investir ferozmente contra os comerciantes portugueses que permaneciam em Salvador, saqueando-os.
Outro combate
sangrento aconteceu entre os dias 17 e 18 de fevereiro. Pelos dados oficiais mais de 600 baixas dos separatistas foram contabilizadas, entre mortos e feridos, contra apenas 100
das forças restauradoras.
A batalha
derradeira, todavia, aconteceu na noite de 12 de março. Segundo Argolo Ferrão, comandante
da 2ª Brigada, o inimigo sofreu grande mortandade na tomada de suas primeiras
posições, os campos estavam cheio de sangue, assim como as estradas de
cadáveres. O fogo cessou à tarde do dia 15, quando os separatistas acuados no
Forte São Pedro brandiram a bandeira branca.
À noite desse mesmo dia, como
narra Paulo César de Souza, em seu livro “A Sabinada: A revolta separatista da
Bahia”, incêndios clareavam vários pontos da cidade. O fogo consumia cerca de
70 sobrados, a maioria em Conceição da Praia – provocado pelos vencidos, em
desespero e embriaguez, e pelos vencedores, para desentocar inimigos. Soldados
rebeldes foram atirados às chamas... O colapso nas normas de conduta, tão comum
nos tempos de guerra, manifestou-se em saques, estupros, assassínios. E a
cidade de Salvador amanheceu destruída.
Somente na noite do dia 22 de
março que Francisco Sabino foi encontrado. Segundo Gonçalves Martins, chefe da polícia, ele estava dentro de um armário “coberto de roupa suja, em camisa e descalço”. À noite desse mesmo dia o
presidente da República aniquilada, João Carneiro, também é feito prisioneiro. Ao final seriam contados 2989 separatistas capturados. Os mortos somaram: 1258 entre os separatistas; 594 entre os
restauradores - cifras expressivas para a população de Salvador na ápoca da Sabinada.
No dia 1º de
abril a cidade de Salvador comemorou a vitória. Este feito também seria
festejado no Rio de Janeiro e em outras localidades, pela manutenção da integridade do
território nacional. No extremo sul do Brasil, entretanto, os farroupilhas continuavam a impingir ao Império
pesadas derrotas.
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