O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco
Central do Brasil, Alexandre Tombini, criticaram com veemência o rebaixamento
do Brasil pela agência classificadora Standard & Poor’s. Para eles, os
fundamentos da economia brasileira andam às mil maravilhas. Entretanto, o
aumento do “risco Brasil” há tempo era esperado pelo mercado, por um conjunto
de fatores claramente expostos, mas que o governo insiste em não aceitar por
pura conveniência política.
A própria agência Standard& Poor’s já havia assinalado no
ano passado, a possibilidade de rebaixar a classificação do Brasil. Desde
então, a equipe econômica não tomou qualquer medida eficaz, no sentido de
redirecionar a política econômica. Pelo contrário, deu continuidade a sua velha
política, como se fosse dona exclusiva da “verdade”, enquanto os indicadores
apontavam para a necessidade de mudanças.
Para o governo petista, quase tudo está resolvido pela âncora
da reserva cambial brasileira, conquistada na década passada. Não devemos
esquecer, todavia, que a reserva atual é resultado do aumento exponencial do
valor das nossas commodities no mercado externo, no momento em que o mundo
crescia como nunca.
Nos anos de bonança, nossas exportações aumentaram
acentuadamente e obtivemos superávits comerciais históricos. Porém, ambos os
fatos decorrem muito mais da evolução do agronegócio brasileiro - sempre muito
criticado pelo PT - e pela eficiência da Cia Vale do Rio Doce privatizada, que
pela “competência” do governo.
Por justiça, no entanto, não podemos deixar de reconhecer a
importância da política econômica empreendida no primeiro mandato do
ex-presidente Lula da Silva. Mas, por outro lado, seria também injusto não
atribuir o mérito desta política à continuidade dos fundamentos econômicos
herdados do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP).
Aliás, durante o mandato de Lula da Silva o Banco Central foi
presidido pelo economista Henrique Meirelles, eleito deputado Federal pelo PSDB
de Goiás, em 2002; no primeiro mandato, a Secretaria de Política Econômica foi
comandada pelo brilhante economista Murilo Portugal, também egresso da ala
tucana. Ambos só deixaram de ser demonizados pela haste petista, quando
deixaram o governo.
De lá para cá o cenário da economia mundial mudou e a
situação econômica brasileira piorou muito, justamente no momento em que
precisávamos de maior competência. Pior ainda, gradativamente a situação do
país vai se complicando, sem que sejam tomadas as medidas cabíveis para mudança
de rumo.
São várias as evidências deste cenário: baixo crescimento do
país nos últimos anos; processo de desindustrialização de vários segmentos
industriais; deterioração das contas externas, inclusive com risco de
comprometer as reservas do país; inflação crescente, de forma lenta, mas
contínua; represamento dos preços dos combustíveis e da energia elétrica, para
conter artificialmente a inflação; aumento dos gastos do governo e diminuição
progressiva do superávit primário. Etc... Etc...
E o governo com arrogância, esnoba ainda a chamada
“contabilidade criativa”, que nada mais é que a manipulação de numerários, de
modo a fechar o Balanço de Pagamentos de forma equilibrada. A agência Standard
& Poor’s enxerga tudo isto. A surpresa é só para os desavisados. Os
estragos continuam sendo anunciados.
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