Por Jathir Moreira
Na história de Israel,
Gideão foi o protagonista que libertou o povo do jugo de sete anos de opressão
dos midianitas. Reconhecido como líder, ele foi convidado pelo povo para ser
seu rei; mas recusou, dizendo que somente o Senhor Deus reinaria sobre eles.
Foi então que Abimeleque, filho de Gideão, se aproveitou desse vácuo de
liderança para matar os próprios irmãos e se fazer rei. Porém, Jotão, o mais
moço, escapou.
Depois, o jovem Jotão, de um alto monte, proferiu uma
historieta que ilustra uma lição de sabedoria e cuja moralidade é expressa como
conclusão.
“Foram certa vez as árvores a ungir para si um rei, e
disseram à oliveira: Reina sobre nós. Porém a oliveira lhes respondeu: Deixaria
eu o meu óleo, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as
árvores? Então disseram as árvores à figueira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém
a figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, e iria
pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à videira: Vem tu, e reina
sobre nós. Porém a videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu vinho, que agrada
a Deus e aos homens, e iria pairar sobre as árvores. Então todas as árvores
disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós. Respondeu o espinheiro às
árvores: Se realmente me ungis rei sobre vós, vinde, e refugiai debaixo da
minha sombra” (Juízes 9.7-21).
A ilustração dos diversos tipos de árvores indica que cada
pessoa tem que ser fiel à sua vocação, pois disso depende o reconhecimento de
Deus e dos homens às obras de toda uma vida.
De modo oposto, quando isto não é observado, torna-se
necessário produzir enganos, como o do espinheiro oferecendo sombra, ele que
sombra não produz.
Esse é um dos maiores desafios da nossa sociedade: encontrar
a pessoa certa para cada posição. Em qualquer área que se pense, quer seja no
mundo corporativo empresarial ou no bojo da vida política, deslizes que
possibilitem colocar pessoas despreparadas em posições de comando produzirá
resultados desastrosos.
A nossa sociedade pragmática e voltada ao lucro pessoal, que
preza mais a performance que o caráter, tem perdido de vista essa
característica essencial de ver na vocação o elemento inicial de carreiras que
primem por servir a sociedade, e não por espoliá-la. Ao observarmos certos
fatos marcantes da vida nacional, percebe-se que há algo de muito torto neste
quesito.
Quando não poucos policiais se imiscuem em atividades
ilegais, matam e roubam, ao invés de promoverem a segurança e cumprirem as leis
que juraram defender; quando juízes são flagrados vendendo sentenças, em vez de
serem imparciais e justos; quando políticos são comprados para mudar de partido
ou recebem vantagens para aprovarem leis, ao invés de honrarem o mandato para o
qual foram eleitos; quando professores fingem ensinar e alunos fingem estudar, em
vez de ajudarem a mudar o país através da educação — apenas para citar alguns
exemplos mais notáveis e menos recomendáveis — isto mostra que algo precisa de
correção.
Estamos fartos de ver pessoas nos lugares errados, só porque
tiraram proveito de alguma situação. Por exemplo, quando um líder passa a vida
defendendo a justiça e o direito, apenas porque está em desvantagem; mas
depois, no poder, vive como se acima destes estivesse, ele só provou que é
oportunista e que, portanto, está no lugar errado.
Uma visão equivocada da vida, com pessoas ocupando espaços
que não lhes pertencem, por esperteza e não por vocação, gera uma sociedade
plena de ineficiência. Assim, quando algum membro da sociedade está no lugar
errado, obviamente fazendo as coisas com ineficiência e desonra ou somente não
agindo com a eficiência e honra que lhe são requeridas, isso gera um
desequilíbrio que facilmente pode resultar em tragédia. Basta olhar governantes
corruptos e as resultantes mazelas sociais como exemplo.
Essas distorções fazem jus ao que preconiza o dito popular:
“Quando se vê um jabuti numa árvore, ou foi enchente ou alguém o colocou lá”.
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