Depois do regime imposto pelos
militares por duas longas décadas, tornamos a viver um período sombrio, sem
paralelo nos anais da nossa política após o restabelecimento da democracia. As
ameaças são Propostas de Emendas à Constituição (PEC’s) e Projetos de Leis que
podem implicar em retrocessos inaceitáveis, por favorecer a impunidade e comprometer
o Estado de Direito, duramente conquistado pelo povo brasileiro nas ruas.
Uma dessas propostas é a PEC nº 33,
aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados na
última quarta-feira, por iniciativa do PT. Por ela, determinadas decisões do
Supremo Tribunal Federal (STF) devem ser submetidas à aprovação do Congresso Nacional.
Os deputados José Genoino e João Paulo Cunha (ambos do PT-SP) participaram do
conluio, como membros da CCJ.
Outra ameaça é a PEC nº 37, que visa tirar
dos Ministérios Públicos Estaduais e Federal o poder de investigar ações criminais.
Esse projeto é para inibir os promotores públicos em suas investidas contra a
corrupção, o crime organizado e os abusos cometidos contra o Estado, que sempre
envolve agentes públicos, sobretudo políticos.
Segundo o ministro Marco Aurélio
Mello, a PEC nº 37 “é uma vingança” do partido do governo (PT) contra a
condenação dos réus do MENSALÃO. Aliás, são fartas as evidências neste sentido,
pois nada basta ao chamado “núcleo duro do PT” para desmoralizar o STF, nem o próprio
aparelhamento da nossa Suprema Corte por apadrinhados muito mais comprometidos
com o partido, que com o país.
Este mesmo núcleo duro agora tenta
procrastinar as penalidades impostas aos réus do MENSALÃO. Usa de todos os
recursos para alterar as sentenças de seus mensaleiros e evitar a prisão de
José Dirceu e de João Paulo Cunha.
Além das investidas contra o STF e o
Ministério Público, em flagrantes desrespeitos à Constituição e às Leis, esse
grupo partidário não mede esforço para se perpetuar no poder. Falta-lhe apreço
aos princípios republicanos e zelo pela democracia.
Assim, essa facção também não tem
qualquer pudor para golpear por baixo todos os seus adversários. Esta semana
vimos correr a toque de caixa um pedido de urgência para a votação de um Projeto
de Lei que impossibilitaria a criação de novos partidos, com finalidade única
de impedir que a ex-ministra Marina Silva venha a se candidatar a presidente de
República.
Para eles é mais fácil a polarização
das próximas eleições presidenciais entre apenas dois candidatos. Com a máquina
pública e tempo de televisão quase exclusivo está sacramentada a disputa!
Felizmente tivemos a reação da
minguada oposição no Senado Federal e de alguns aliados do governo, que com
pudor resistiram ao golpe, obstruindo a votação.
Muito bem disse o Senador Pedro
Simon: “Hoje estamos numa democracia. O Brasil está livre. O Supremo está
livre. A presidente da República está livre. O povo está livre. Podemos fazer o
que quisermos dentro da democracia. Nós estamos nos entregando! E nós nos
entregando é ato de covardia”.
Felizmente, logo depois o ministro
Gilmar Mendes - um dos desafetos do PT por denunciar a tentativa do ex-presidente
Lula da Silva de aliciá-lo a inocentar os réus do MENSALÃO – concedeu liminar
suspendendo aquela proposta, que “afigura-se casuística e direciona-se a atores
políticos específicos”.
É pela reação a essas ameaças que podemos
dimensionar o valor da democracia.
Confesso que não acompanhei esse Projeto de Lei para impossibilitar a criação de novos partidos.
ResponderExcluirEngraçado que a própria Constutuição cita como princípio fundamental o pluralismo político e mais adiante discorre sobre a (livre) criação deles.
É como diz a famosa frase que tem circulado na internet: "A solução é devolver o Brasil aos índios e pedir desculpa"
Caríssima Lorena,
ResponderExcluirVocê não acompanhou porque fizeram tudo em tempo record. Da noite para o dia a PEC foi aprovada da Câmara e encaminhada ao Senado.