Por Jathir Gomes Moreira
A miopia é uma deficiência da visão, quando os raios
luminosos que entram nos olhos são levados a um foco aquém da retina, causando
borrões nas imagens, principalmente as mais distantes. Mas, filosoficamente
falando, miopia moral identifica uma estreiteza de visão que não consegue ver o
mal que o mal faz, assim como a falta de perspicácia para identificar e
condenar esse mesmo mal.
O fascínio humano por notícias ruins explorados pela mídia,
assim como por filmes, novelas e programas que expõem as mazelas humanas, serve
para revelar, essa miopia moral de que está acometida a nossa sociedade.
Certamente, em razão dessa fascinação, por exemplo, a mídia
televisiva ofereça os mais variados “cardápios”, desde as indigestas baboseiras
explícitas dos reality shows até as apelativas novelas e filmes, tudo recheado
dos mais variados exemplos de imoralidades. Para obter a nossa atenção, as
chamadas desses programas geralmente invocam o que de mais vil existe na
natureza humana, o que inclui: violência, intriga, prostituição, incesto, ódio,
traição, imoralidade de toda sorte e desvios de conduta no seio da família,
pelo simples fato de possibilitarem enormes picos de audiência.
As pessoas, sem se darem conta acabam torcendo para que uma
garota de programa destrua um casamento, torcem para que o bandido não seja
pego pelas malhas da lei, desejam a morte de uma pessoa correta só porque
parece “careta”, almejam estar na posição de um político corrupto ou de um rico
mau-caráter, admiram o poder sedutor de um irresponsável, louvam a coragem de
um canalha, almejam o sucesso de um belo e irresistível criminoso que costuma
se dar bem, entre outros desejos.
No entanto, nossa capacidade de dissimulação em relação ao
mal tem o seu preço. Primeiro, pode nos tolher a capacidade de indignação.
Quando não esboçarmos sequer o menor sinal de tédio ou de revolta quando o mal
está aparentemente fora do nosso alcance, só porque não nos atinge diretamente,
corremos o risco de deixar de desejar e buscar o que é certo. Assim, passamos
involuntariamente a aplaudir o que é errado, quando o espectro do mal sai do
terreno da ficção e invade o campo da realidade em nossa volta.
Segundo, pode nos tornar egoístas, prisioneiros de nós
mesmos, envolvendo-nos em um casulo existencial que nos conforma com os nossos
interesses pessoais em detrimento do bem público. Possivelmente advém dessa
vertente moralmente míope a nossa cultura do “jeitinho brasileiro” com toda a
sua ética de “levar vantagem” em tudo.
Terceiro, pode nos tornar reféns da desesperança, pois o mal
é banalizado e a injustiça reduz a vida a estereótipos de esperteza e
sagacidade.
Logicamente, o problema não é primariamente a mídia e sua
produção “cultural” apodrecida, pois esta tão somente se alimenta do nosso
latente desejo de consumi-la.
O problema principal é a nossa natureza essencialmente
comprometida com o mal e a injustiça que
dele resulta.
A maioria de nós sabe o que é certo e como proceder
corretamente. Mas prefere a opção de menor resistência, como refém da lei do
menor esforço, fazendo o mínimo necessário e não o máximo possível.
É claro que o mal não vai prevalecer sempre. É óbvio também
que ainda há uma reserva moral que não deixa este país apodrecer.
Todavia, enquanto isso não vem, cada um de nós precisa
corrigir sua miopia moral, tomando uma inequívoca posição de fazer o bem.
Vamos viver uma boa vida, mas sem Miopia Moral.
O artigo do amigo Jathir Moreira merece uma boa reflexão.
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