O trabalho mais completo acerca de um clube de futebol foi escrito pelo jornalista e escritor Carlos Molinari. “Nós é que somos Banguenses” é fenomenal; enriquece muito a história do Bangu Atlético Clube e do futebol brasileiro, de forma profissionalizada, mas com um lado poético, pela singularidade e obstinação da paixão por um clube.
A história do futebol no Brasil na realidade começou no bairro de Bangu, no Rio de Janeiro. Carlos Molinari, após árdua pesquisa, relata com riqueza de detalhes, que foi o escocês Thomas Denohoe quem trouxe a primeira bola e organizou a primeira partida de futebol, com os seus companheiros da empresa inglesa Platt Brothers and Co.
O mês foi o de abril e o ano o de 1894. Denohoe e vários técnicos ingleses montavam no bairro uma fábrica de tecidos, e no domingo, dia de folga, passaram a jogar futebol.
Segundo Molinari, “se prefere creditar a Charles Miller a introdução do futebol no Brasil, em outubro de 1894, e a realização da primeira partida em abril de 1895, um ano após o primeiro jogo do Sr. Donohoe”, porque não houve anotação dos dados da partida realizada em Bangu.
É fato incontestável, no entanto, que o futebol no Brasil nasceu em Bangu, embora o clube só viesse a ser fundado em abril de 1904, por iniciativa dos empregados da fábrica de tecidos, já totalmente envolvidos pela iniciativa de Thomas Denohoe.
O antigo campo de futebol do Bangu, em frente à fábrica, na rua Ferrer, foi por muitos anos considerado o mais bonito do Brasil. Ali, apoiado pela torcida, o alvirrubro era imbatível.
O Bangu foi “o primeiro clube do Brasil a conquistar um título sob o regime profissional” (1933); o primeiro a ser campeão após a inauguração do Maracanã, sagrando-se vencedor do torneio início do campeonato de 1950. Em 1960 se tornou o primeiro clube brasileiro campeão mundial, ao vencer o Torneio Internacional de Nova York, derrotando os melhores clubes da Europa.
O Bangu também foi reconhecido por ser o primeiro clube brasileiro a enfrentar o preconceito e escalar um jogador negro, o atacante Francisco Carregal, no ano de 1905. Outras escalações culminaram inclusive com a autoafastamento da liga, em protesto contra o preconceito imposto na época, de não permitir a escalação de atletas negros.
Este fato valeu o reconhecimento e a honraria da medalha Tiradentes, em 2001, após a diretoria provar o erro da imprensa, que atribuía o mérito ao Vasco da Gama, que só utilizou atleta negro em 1923.
Mas para todo banguense é inesquecível a final do Carioca de 1966. Ocimar, Aladim e Paulo Borges marcaram os três gols que desesperaram o Flamengo, impondo-lhe a mais acachapante derrota em uma final. Na roda, vendo escapar o título, só restou ao urubu a briga, para acabar logo a partida. A goleada estava certa! Seria de mais de 5. Nem o juiz, Airton Vieira de Moraes, não pôde fazer nada; o Bangu estava impecável!
Outro marco foi a final do Campeonato Brasileiro de 1985, quando após lesado pelo árbitro da partida, o alvirrubro acabou perdendo nos pênaltis para o Coritiba, em pleno Maracanã. Mas ficou na memória o vice-campeonato e a prova de que Lamartine Babo ao compor o hino do clube estava certo: quem foi ao Maracanã viu que “a torcida reunida até parece a do Fla-Flu”.
Infelizmente o Bangu de craques como Ladislau, Moacyr Bueno, Domingos e Ademir da Guia, Zizinho, Paulo Borges, Marinho e tantos outros, foi vítima dos maus cartolas, tão nocivos quanto muitos dos políticos do nosso Brasil de hoje.
Porém, guarda ainda a riqueza da sua história, graças aos trabalhos de Carlos Molinari em seus livros “Nós é que somos banguenses” e no “Almanaque do Bangu”, como em seu site independente “Bangu Atlético Clube – Sua história e suas glorias”.
Para todo torcedor banguense ter Carlos Molinari é um orgulho muito grande. Certamente nenhum clube do Brasil tem um torcedor como ele. Essa é mais uma honraria exclusiva, que só o Bangu guarda entre as suas glórias.
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