Em recente trabalho realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o IPEA, a educação ficou em segundo lugar entre os fatores de geração de desigualdade; o primeiro ficou com a cultura. Como o acesso à cultura não está dissociado do nível de escolaridade, então é a educação o setor que tem maior capacidade de diminuir as formas de desigualdade.
No entanto, temos visto pelos indicadores das avaliações realizadas, tanto através do Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (IDEB), como do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que a educação pública do Brasil não é tratada como prioridade de governo.
Assim, condenamos nossas crianças matriculadas em escolas públicas, por antecipação, a um futuro menos promissor, que aquelas com acesso ao ensino de melhor qualidade. Este círculo vicioso inibe a mobilidade social e a evolução do país, de forma mais sustentada.
Quem sustenta esta engrenagem é a ineficiência dos governos, nos seus três níveis de gestão.
Estudos também recentes do Fórum Econômico Mundial (WEF) mostram que o Brasil é um país eficiente, com grande competitividade no que tange à iniciativa privada - inclusive ocupa um lugar confortável entre os emergentes. Porém, quando se trata dos parâmetros do setor público, sempre estamos entre os 40 piores países dos 142 analisados.
É a inépcia no desenvolvimento das políticas públicas, portanto, o fator principal que tem condenado gerações e gerações de brasileiros à miséria e à pobreza. Não faltam exemplos, no entanto, de algumas experiências bem sucedidas, quando se trata de educação.
Porém, essas experiências são quase sempre em função de iniciativas localizadas e pontuais - às vezes até por méritos pessoais -, que por políticas públicas. Contudo, raramente, são utilizadas como modelos.
Outra questão que tem inibido a evolução da melhoria da educação de forma mais rápida é a “ideologização” da política educacional do país. Assim, ficamos susceptíveis à ideologia de quem ocupa temporariamente o poder. O caso recente de admissão de erros na forma escrita de expressão, com a aquiescência do próprio ministro da educação, é um exemplo nítido deste despropósito.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) tem se mostrado incansável nesta luta, mas não tem encontrado eco entre seus pares. Nossos próprios representantes têm dificuldade em compreender (ou não querem) a importância que a educação tem para o país.
Essa dificuldade, entretanto, não se resume apenas aos políticos. Temos visto sindicatos e associações de professores com práticas extremamente ruins. A questão da melhoria da educação não pode ser resumida apenas ao salário; também não é crime que o professor possa vir a ser avaliado. Somos permissivos demais quando tratamos de educação.
O corporativismo, em qualquer segmento, não pode sobrepor aos interesses maiores do país. Principalmente quando se trata de educação, pois somente com escola pública de qualidade poderemos diminuir a miséria e a pobreza, como também as outras formas de desigualdade sociais.
Excelente artigo, Sr. Wagner. Realmente nossa política de educação de qualidade é vergonha. Mas, antes de quaisquer considerações ressalto, apenas, que as crianças que estão em escolas públicas não têm acesso a cultura: isso seria um crime, dizer! Elas possuem cultura; isto é intrínseco em todos. Porém, como nossa elite auto-denominou-se-cultura-padrão todos tendem a acompanhar.
ResponderExcluirPois, então, voltemos a política: é sim necessário um basta em toda a algazarra do descaso; mas, sem valorização no pessoal, não dá! Podem adquirir os mais modernos equipamentos eletrônicos, as mais luxuosas estruturas, enfim, "nada substitui o talento", nada substitui o professor.
Muito bom visitar este blogue; abração,
Rodrigo Davel