sexta-feira, 15 de julho de 2011

Silêncio no subsolo da política

A reportagem da revista “Veja”, com denúncias de irregularidades no Ministério dos Transportes (MT), veiculada na semana passada, vem expandindo como uma bomba de largo espectro, com efeito retardado, que ainda se propaga no meio político de Brasília.


No primeiro estopim a presidenta Dilma agiu com rapidez. Demitiu a cúpula do ministério e entregou ao ex-ministro Alfredo Nascimento uma corda, apontando-lhe o caminho do patíbulo. Com a reportagem de “O Globo”, que expôs o crescimento exponencial do patrimônio do filho do ex-ministro, irrigado por empreiteiros com contrato no MT, só restou a Nascimento a alternativa de caminhar até cair.

Mas a reação dos partidos aliados, em solidariedade aos demitidos - indicados do PR (Partido da República) - é que em toda essa barafunda não há culpado, incluindo aí o PT - partido da própria presidenta. A culpa então sobra para Dilma que, por eles, “agiu de forma precipitada”.

Todavia, a probabilidade da presidenta ter agido por impulso é quase nula. Ela tem pleno conhecimento das heranças de seu governo, pela própria posição estratégica ocupada anteriormente no governo de Lula da Silva. Dizer que ela agiu por impulso é subestimá-la; certamente a presidenta não entraria na fumaça se não houvesse fogo.

Não é à toa que o senador Blairo Maggi, do PR de Mato Grosso, rejeitou ocupar a cadeira de ministro. Sua decisão é por conhecer as mazelas existentes e por cautela que por qualquer motivo mais nobre.

O diretor geral afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luis Antônio Pagot, anunciou abrir a boca sobre essas mazelas. Deu pista de que falaria sobre a participação de empreiteiros na última campanha e das intervenções de Paulo Bernardo, atual ministro da Comunicação, no Dnit. Mas depois se calou, tanto no depoimento no Senado, como na Câmara.

É preciso ser muito ingênuo para não saber que no Brasil, no subsolo da política impera a lei do silêncio. Assim, não é o silêncio que transformará Pagot em santo, como querem os parlamentares do PR, do PT e todos os demais aliados.

Outro fato que chamou a atenção durante o depoimento de Pagot na Câmara dos deputados foi a manifestação dos funcionários de carreira do Ministério dos Transportes. Eles reivindicam que os cargos de direção sejam ocupados por profissionais de carreira, como forma de combater a corrupção endêmica que há anos se enraizou no ministério.

Esses profissionais sabem muito bem o que acontece nos bastidores. A reivindicação é justa, mas infelizmente sem eco, pelo próprio modelo da política brasileira, que favorece a perpetuação da política inescrupulosa.

Assim, depois de seis meses de governo já se percebe uma postura diferente da presidenta Dilma. Lula da Silva em seu lugar teria os aplausos por atribuir a culpa de mais este escândalo no MT às “zelites”, não perderia mais uma oportunidade de demonizar a imprensa “tendenciosa” e tudo continuaria como estava antes.

Mas agora a presidenta Dilma sente na carne o peso de sua eleição, na forma como ela foi construída, e vê as amarras que a prende por todos os lugares, como se estivesse presa numa teia de aranha.

Um comentário:

  1. Essa teia tende a não suportar tantas moscas; quando vier a ceder, salve-se quem puder!
    Ótimo artigo.

    Abraço,

    Rodrigo Davel

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