sexta-feira, 28 de março de 2014

Estragos anunciados

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, criticaram com veemência o rebaixamento do Brasil pela agência classificadora Standard & Poor’s. Para eles, os fundamentos da economia brasileira andam às mil maravilhas. Entretanto, o aumento do “risco Brasil” há tempo era esperado pelo mercado, por um conjunto de fatores claramente expostos, mas que o governo insiste em não aceitar por pura conveniência política.

A própria agência Standard& Poor’s já havia assinalado no ano passado, a possibilidade de rebaixar a classificação do Brasil. Desde então, a equipe econômica não tomou qualquer medida eficaz, no sentido de redirecionar a política econômica. Pelo contrário, deu continuidade a sua velha política, como se fosse dona exclusiva da “verdade”, enquanto os indicadores apontavam para a necessidade de mudanças.

Para o governo petista, quase tudo está resolvido pela âncora da reserva cambial brasileira, conquistada na década passada. Não devemos esquecer, todavia, que a reserva atual é resultado do aumento exponencial do valor das nossas commodities no mercado externo, no momento em que o mundo crescia como nunca.

Nos anos de bonança, nossas exportações aumentaram acentuadamente e obtivemos superávits comerciais históricos. Porém, ambos os fatos decorrem muito mais da evolução do agronegócio brasileiro - sempre muito criticado pelo PT - e pela eficiência da Cia Vale do Rio Doce privatizada, que pela “competência” do governo.

Por justiça, no entanto, não podemos deixar de reconhecer a importância da política econômica empreendida no primeiro mandato do ex-presidente Lula da Silva. Mas, por outro lado, seria também injusto não atribuir o mérito desta política à continuidade dos fundamentos econômicos herdados do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP).

Aliás, durante o mandato de Lula da Silva o Banco Central foi presidido pelo economista Henrique Meirelles, eleito deputado Federal pelo PSDB de Goiás, em 2002; no primeiro mandato, a Secretaria de Política Econômica foi comandada pelo brilhante economista Murilo Portugal, também egresso da ala tucana. Ambos só deixaram de ser demonizados pela haste petista, quando deixaram o governo.

De lá para cá o cenário da economia mundial mudou e a situação econômica brasileira piorou muito, justamente no momento em que precisávamos de maior competência. Pior ainda, gradativamente a situação do país vai se complicando, sem que sejam tomadas as medidas cabíveis para mudança de rumo.

São várias as evidências deste cenário: baixo crescimento do país nos últimos anos; processo de desindustrialização de vários segmentos industriais; deterioração das contas externas, inclusive com risco de comprometer as reservas do país; inflação crescente, de forma lenta, mas contínua; represamento dos preços dos combustíveis e da energia elétrica, para conter artificialmente a inflação; aumento dos gastos do governo e diminuição progressiva do superávit primário. Etc... Etc...


E o governo com arrogância, esnoba ainda a chamada “contabilidade criativa”, que nada mais é que a manipulação de numerários, de modo a fechar o Balanço de Pagamentos de forma equilibrada. A agência Standard & Poor’s enxerga tudo isto. A surpresa é só para os desavisados. Os estragos continuam sendo anunciados.  

sexta-feira, 21 de março de 2014

Nem com luneta enxerga os fracassos

A Copa do Mundo de 2014 está batendo às portas, mobilizando os vários estados brasileiros onde será realizado o evento. A oficialização do Brasil como sede foi feita pela Federação Internacional de Futebol Associados (FIFA), em Zurique - Suíça, no dia 30 de outubro de 2007. As cidades sedes definidas em 31 de maio de 2009, nas Bahamas.

Desde 2006, entretanto, sabíamos que o país escolhido seria o Brasil. O próprio presidente da FIFA, Joseph S. Blatter, havia manifestado esta intenção, depois de obter o sinal verde do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira. O aval partiu do Palácio do Planalto, após reunião com o então ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz (PT-DF) - atual governador do Distrito Federal - e o ex-presidente Lula da Silva.

Até então, tudo parecia andar às mil maravilhas, não fosse o Secretário Geral da FIFA, o francês Jérôme Valcke, em março de 2012 dizer ao mundo que “o Brasil precisava levar um pontapé no traseiro”, depois de constatar a morosidade na construção dos estádios. Daí para frente nossas autoridades, após contestarem de cabeça baixa esta declaração, resolveram se mexer. Mas, mesmo assim, as obras não foram devidamente aceleradas.

Para a Copa das Confederações, que é um evento teste para a Copa do Mundo, dos seis estádios prometidos, somente as arenas de Fortaleza e de Belo-Horizonte foram concluídas dentro do prazo. Os demais entregues a toque de caixa, inclusive com obras inacabadas.

Faltando agora apenas 82 dias para o jogo inaugural, os mesmos problemas se repetem. Parece que estamos fadados a não aprendermos com os nossos erros. Temos, portanto, que escutar calados Joseph Blatter dizer ao mundo que “nesta mesma época o Brasil está muito mais atrasado do que a África do Sul”, em sua preparação para a Copa de 2010.

Recentemente, Rodrigo Prada, jornalista e diretor do Portal 2014, comparando a África do Sul de 2010 com o Brasil observou o seguinte: As ruas limpas, os aeroportos modernos e as estradas bem sinalizadas, mostravam um país muito mais preparado que o nosso. Mas ainda tínhamos 4 anos, uma matriz de responsabilidades que havia acabado de sair do papel com obras de mobilidade urbana que incluíam até um trem de alta velocidade entre o Rio e S. Paulo, despoluição de mananciais, monotrilhos, BRT’s, aeroportos modernos, melhorias no saneamento, além de tantas outras promessas que faziam parecer que sediar a Copa valeria a pena.

A verdade é que o ex-presidente Lula da Silva em suas bravatas prometeu o que não poderia entregar. Da matriz de responsabilidades, a qual se refere Rodrigo Prada, muitas obras tiveram que ser canceladas; outras adiadas para entrega depois da Copa, sem tempo ainda determinado. Em suma, das obras restantes, poucas serão entregues em tempo hábil.

Para piorar a situação, a previsão de custo das obras subiu estratosfericamente. A arena de Brasília, por exemplo, foi orçada em R$ 700 milhões. Segundo as últimas estimativas, seu custo final poderá chegar a R$ 1,6 bilhão.

Outro ponto de vulnerabilidade são as estruturas temporárias exigidas pela FIFA. Cada uma delas custará em torno de R$ 40 milhões. E quando os estados assinaram o contrato com a FIFA, com aval do Governo Federal, sabiam disso.


Para a presidente Dilma Rousseff a Copa do Mundo é só benefícios e “o Brasil fará a Copa das Copas”. Só, que nem com luneta, ela reconhecerá alguns dos seus fracassos. A conjuntura econômica do mundo é outra, bem diferente do céu de brigadeiro em que navegou o ex-presidente Lula da Silva.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Esperteza em berço esplêndido

Logo após a eleição da presidente Dilma Rousseff o ex-ministro José Dirceu alardeou em uníssono com o seu partido, que era chegada a hora do PT assumir na plenitude o governo. Desde então ficou claro para os demais partidos da base aliada, inclusive ao PMDB, maior sócio do PT no governo, que no mandato de Dilma Rousseff eles teriam menos espaço, embora necessários para composição da maioria.
Mesmo assim, o governo formou uma base aliada com quase trinta partidos, a maioria sem identidade com a bandeira petista. Esta composição é tão heterogênea, que vai desde a extrema esquerda à extrema direita; de ex-guerrilheiros a fiéis partidários da ditadura militar. Construiu-se, então, um balaio de gatos, onde o princípio mais nobre é controlar a maior soma de cargos e de recursos públicos. Um fisiologismo sem igual em nossa história política.
Para acomodar toda esta trupe a presidente Dilma Rousseff ampliou para 39 o número de ministérios e secretarias com status de ministério, batendo todos os recordes dos governos anteriores. O inchaço da maquina pública foi tão grande, que a estrutura e o quadro de funcionários das 39 pastas já não comportam na Esplanada dos Ministérios, que oneram os cofres públicos em mais de R$ 65 bilhões ao ano.
Para o seu feudo, o governo petista reservou 17 ministérios. Claro, os mais importantes e de maior visibilidade. Os aliados também não receberam o seu quinhão de “porteiras fechadas”, conforme é dito no jargão político. Ou seja, no segundo escalão o governo não abriu mão de nomear o pessoal do partido. Portanto, o racha que ora acontece na base aliada é fato plenamente previsível. Porém, de caráter essencialmente oportunista.
Podemos ter a certeza de que logo-logo o fisiologismo volta e toma conta. No modelo político de troca-troca adotado pelo governo petista prevalece os interesses individuais e de grupos sobre o coletivo. E assim os problemas reais do Brasil vão ficando sempre para segundo plano.
Seria muito bom para o país se o racha da base aliada fosse por convicção política; se os ministros fossem normalmente convocados para informar ao parlamento como está a condução de sua pasta. Anormal é que não obstante a tantas suspeições de irregularidades os órgãos a quem cabe fiscalizar façam vistas grossa, pelo apoio incondicional em troca dos favores.
Já não é sem tempo, por exemplo, que a presidente da Petrobrás, a Sra. Graça Foster, seja convocada, pois desde o governo do ex-presidente Lula da Silva, paira sobre aquela estatal a suspeição de inúmeras irregularidades. A última denúncia é a de pagamento de propinas a funcionários do alto escalão, pela offshore holandesa SBM. Além disso, há necessidade de maior transparência, inclusive para explicar o crescimento da dívida, que no último mês chegou à casa dos US$ 100 bilhões.
Os prejuízos que a Petrobrás tem gerado aos acionistas e ao país são enormes.

Infelizmente, o modelo de coalizão da democracia brasileira tem sido um terreno fértil para o fisiologismo. E assim as faxinas do governo vão ficando para história como contos da carochinha. 

sexta-feira, 7 de março de 2014

A tragédia de estar no lugar errado

Por Jathir Moreira

Na história de  Israel, Gideão foi o protagonista que libertou o povo do jugo de sete anos de opressão dos midianitas. Reconhecido como líder, ele foi convidado pelo povo para ser seu rei; mas recusou, dizendo que somente o Senhor Deus reinaria sobre eles. Foi então que Abimeleque, filho de Gideão, se aproveitou desse vácuo de liderança para matar os próprios irmãos e se fazer rei. Porém, Jotão, o mais moço, escapou.

Depois, o jovem Jotão, de um alto monte, proferiu uma historieta que ilustra uma lição de sabedoria e cuja moralidade é expressa como conclusão.

“Foram certa vez as árvores a ungir para si um rei, e disseram à oliveira: Reina sobre nós. Porém a oliveira lhes respondeu: Deixaria eu o meu óleo, que Deus e os homens em mim prezam, e iria pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à figueira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém a figueira lhes respondeu: Deixaria eu a minha doçura, o meu bom fruto, e iria pairar sobre as árvores? Então disseram as árvores à videira: Vem tu, e reina sobre nós. Porém a videira lhes respondeu: Deixaria eu o meu vinho, que agrada a Deus e aos homens, e iria pairar sobre as árvores. Então todas as árvores disseram ao espinheiro: Vem tu, e reina sobre nós. Respondeu o espinheiro às árvores: Se realmente me ungis rei sobre vós, vinde, e refugiai debaixo da minha sombra” (Juízes 9.7-21).

A ilustração dos diversos tipos de árvores indica que cada pessoa tem que ser fiel à sua vocação, pois disso depende o reconhecimento de Deus e dos homens às obras de toda uma vida.

De modo oposto, quando isto não é observado, torna-se necessário produzir enganos, como o do espinheiro oferecendo sombra, ele que sombra não produz.

Esse é um dos maiores desafios da nossa sociedade: encontrar a pessoa certa para cada posição. Em qualquer área que se pense, quer seja no mundo corporativo empresarial ou no bojo da vida política, deslizes que possibilitem colocar pessoas despreparadas em posições de comando produzirá resultados desastrosos.

A nossa sociedade pragmática e voltada ao lucro pessoal, que preza mais a performance que o caráter, tem perdido de vista essa característica essencial de ver na vocação o elemento inicial de carreiras que primem por servir a sociedade, e não por espoliá-la. Ao observarmos certos fatos marcantes da vida nacional, percebe-se que há algo de muito torto neste quesito.

Quando não poucos policiais se imiscuem em atividades ilegais, matam e roubam, ao invés de promoverem a segurança e cumprirem as leis que juraram defender; quando juízes são flagrados vendendo sentenças, em vez de serem imparciais e justos; quando políticos são comprados para mudar de partido ou recebem vantagens para aprovarem leis, ao invés de honrarem o mandato para o qual foram eleitos; quando professores fingem ensinar e alunos fingem estudar, em vez de ajudarem a mudar o país através da educação — apenas para citar alguns exemplos mais notáveis e menos recomendáveis — isto mostra que algo precisa de correção.

Estamos fartos de ver pessoas nos lugares errados, só porque tiraram proveito de alguma situação. Por exemplo, quando um líder passa a vida defendendo a justiça e o direito, apenas porque está em desvantagem; mas depois, no poder, vive como se acima destes estivesse, ele só provou que é oportunista e que, portanto, está no lugar errado.

Uma visão equivocada da vida, com pessoas ocupando espaços que não lhes pertencem, por esperteza e não por vocação, gera uma sociedade plena de ineficiência. Assim, quando algum membro da sociedade está no lugar errado, obviamente fazendo as coisas com ineficiência e desonra ou somente não agindo com a eficiência e honra que lhe são requeridas, isso gera um desequilíbrio que facilmente pode resultar em tragédia. Basta olhar governantes corruptos e as resultantes mazelas sociais como exemplo.


Essas distorções fazem jus ao que preconiza o dito popular: “Quando se vê um jabuti numa árvore, ou foi enchente ou alguém o colocou lá”.