O manifesto petista divulgado na terça-feira, que classifica de "ilegal" a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, de mandar recolher à prisão 12 dos condenados no processo do mensalão, afirma que "uma parcela significativa da sociedade" teme "pelo futuro do Estado Democrático de Direito no Brasil". Têm razão os signatários do documento.
O Estado de Direito está real e gravemente ameaçado no Brasil, mas
pelos sectários, pelos oportunistas fisiológicos e pelos inocentes úteis
do PT que, por razões diversas, se empenham numa campanha nacional de
desmoralização do Poder Judiciário, ferindo fundo a estabilidade
institucional e colocando em risco, em benefício da hegemonia política
do partido, o futuro da democracia no País.
O tal manifesto não é um documento oficial do PT. Mero detalhe. As
posições "oficiais" do partido, ditadas pelo pragmatismo eleitoral, são
traduzidas pela linguagem melíflua das notas oficiais, hábeis em
camuflar o verdadeiro pensamento da elite petista. Mas esse pensamento
está explicitado no manifesto de terça-feira, que tenta em vão
dissimular seu caráter eminentemente político-partidário com a adesão de
"companheiros" intelectuais e juristas. Mas assinam a nota o presidente
Rui Falcão e todos os demais integrantes do Diretório Nacional do
partido. Está ali, portanto, o que pensa o PT.
Da mesma forma como ataca sistematicamente a imprensa, ao investir
contra o Poder Judiciário, lançando mão do recurso de demonizar a figura
do ministro Joaquim Barbosa, o PT deixa claro o modelo de "democracia"
que almeja: aquele em que ninguém ousa contrariar suas convicções e seus
interesses nos meios de comunicação, na aplicação da Justiça, na
atividade econômico-financeira. Em todas as atividades, enfim, em que
entendem que o Estado deve dar sempre a primeira e a última palavra,
para promover e proteger os interesses "do povo".
Para visualizar esse modelo dos sonhos dos petistas radicais sem ir
muito longe, basta olhar para a Venezuela e demais regimes
"bolivarianos" da América Latina, sem falar no clássico exemplo da ilha
dos Castros. Esses países, em que vigora o "socialismo do século 21",
são comandados pelos verdadeiros amigos do peito e de fé de Lula, Dilma e
companheirada.
Mas nem todo mundo no PT está preocupado com dogmatismo ideológico.
Ao longo de 10 anos, boa parte da militância petista aprendeu a
desfrutar das benesses do poder e hoje reage ferozmente a qualquer
ameaça de ter que largar o osso. São os oportunistas que tomaram conta
do aparelho estatal em todos os níveis e a ele dedicam todo seu
despreparo e incompetência gerencial.
E existem ainda os inocentes úteis, em geral mal informados e
despolitizados, que engrossam as fileiras de uma militância que comprou a
ideia-força lulopetista de que o mundo está dividido entre o Bem e o
Mal e quem está "do outro lado" é um "inimigo" a ser ferozmente
dizimado. As redes sociais na internet são o ambiente em que melhor
prospera esse maniqueísmo de esgoto.
O que pretende esse amplo e variado arco de dirigentes e militantes
petistas que, a pretexto de se solidarizarem com os condenados do
mensalão, se mostram cada vez mais ousados em suas investidas contra o
Poder Judiciário? O País tem estabilidade institucional suficiente para
impedir que, num golpe de mão ou num passe de mágica, a condenação dos
mensaleiros seja anulada. Mas os radicais sabem que para alcançar seus
objetivos precisam criar e explorar vulnerabilidades na estrutura
institucional de nossa democracia. Os oportunistas sabem que precisam
ficar bem com os donos do poder a que aderiram. E os inocentes úteis não
sabem nada. Agem por impulso, movidos por apelos emocionais. Acreditam
até no argumento falacioso de que é preciso ser tolerante com a
corrupção e os corruptos porque sem eles é impossível governar.
A quem não entra nessa lista resta comemorar, enquanto pode, uma
singela obviedade: feliz é o país em que a Justiça pode contrariar os
interesses dos poderosos de turno.
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