Depois de abandonar a base de apoio
ao governo e assumir a candidatura à presidência da República, não tem faltado
rótulos pejorativos para definir Eduardo Campos (PSB-PE). Talvez o mais leve
deles seja o de “traidor”, haja vista que a cúpula e a militância petista não
se conformam com o advento de uma terceira via saída das próprias hastes do
governo.
A filiação de Marina da Silva ao PSB,
unindo-se a Eduardo Campos, contribuiu ainda mais para esse acirramento de
ânimos. Marina era uma das maiores estrelas petista até ser preterida no
ministério do Meio Ambiente. Decidiu, então, alçar vôo próprio, por discordar
das novas práticas políticas do antigo partido. Assim, despontou-se como uma liderança emergente,
após obter quase 20 milhões de votos nas eleições de 2010.
A candidatura de Eduardo Campos e a
união à Marina Silva, entretanto, além de legítimas são salutares à democracia.
Uma eleição plebiscitária, nos moldes pretendidos pelo governo, seria um
retrocesso, pela desproporção de forças entre a situação e a oposição. Também limitaria
as possibilidades de escolha do eleitor, o que assemelharia a eleição presidencial
no Brasil à dos nossos vizinhos venezuelanos.
Sem dúvidas de que a democracia aqui
está muito mais consolidada. Temos liberdade de expressão e a imprensa livre,
não obstante as imperfeições que permeiam nossas instituições, nos três âmbitos
dos poderes.
O grande problema do Partido dos
Trabalhadores (PT) é a presunção da eterna hegemonia. Nessa escalada, todos que
discordam ou venha discordar de suas práticas políticas são tratados como
inimigos. Não importa se no passado tenham dado o sangue em benefício da
constituição e do crescimento do partido, conforme hoje é exemplo a própria
Marina Silva.
Por incoerência, os aliados -
partidários do fisiologismo da velha política do toma lá dá cá e do atraso -
são tratados da melhor forma possível, com direito inclusive de transitar em
tapetes vermelhos. Estão aí: José Sarney, Fernando Collor de Mello, Renan
Calheiros, Paulo Maluf, Delfin Neto e Jader Barbalho, entre dezenas e dezenas
de outros políticos.
Isto são fatos que apequenam ainda
mais a nossa política e comprometem o futuro.
Aliás, a própria presidente Dilma
Rousseff, preocupada com a reeleição, tem deixado de dar bons exemplos na
construção de uma política maiúscula. Recentemente vimos uma série de reuniões
com a cúpula de seu partido e o marqueteiro João Santana serem realizadas em
recintos públicos, o que é um ato nada republicano.
A importância e o decoro do cargo
também são quebrados em inaugurações de casas populares inacabadas e de bicos
de água em praça pública. A presidente, em seus atos, vai dando razão ao que
dizem seus principais opositores, representados por Aécio Neves e Eduardo
Campos, este último unido à Marina Silva. Em muitos aspectos realmente o Brasil
está “retrocedendo” e sendo “negligenciado”.
A perda da credibilidade alcançada
pelo país no exterior; o inchaço e a inoperância da máquina pública, para
manter aliados; a fragilização dos fundamentos da economia; o descaso com a
qualidade da educação; a politização da saúde, entre tantos outros fatos comprovam
essa realidade.
Mesmo assim, a presidente afirma que
seus opositores “têm de estudar muito e ver quais são os problemas do Brasil”.
Por sua vez, talvez seja a vaidade do cargo, ou a própria arrogância, que não
permite que ela os veja.
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