Diz o “Conto do Vigário” que dois padres - nos meados do século XVIII em Ouro Preto (MG) - disputavam uma imagem de Nossa Senhora, ricamente cravada em madeira de lei, com detalhes em ouro e diamante. A disputa estava quase chegando às vias de fato de tão acirrada, quando um dos padres teve a idéia para encerrar a pendenga.
Então, convocou o outro vigário, na presença das famílias mais representativas dos dois lados, como testemunhas, e propôs: A imagem de Nossa Senhora seria amarrada no lombo de um burro, entre as igrejas envolvidas; a direção e a proximidade da igreja que o burro tomasse depois de solto, determinariam quem ficaria com a imagem.
Como todos concordaram, assim foi feito! Ao final do dia, com a imagem no lombo, o burro caminhou justamente na direção da igreja do vigário patrocinador da proposta.
A história conta que depois de algum tempo foi descoberto que o burro estava acostumado a caminhar por aquele percurso, já que era de propriedade do próprio padre autor da proposta. Mas de nada adiantaram os protestos veementes da outra parte, pois durante o acordo ninguém havia pensado na idoneidade do burro.
Se realmente esse fato aconteceu da maneira contada, não se sabe. Contudo, que o vocábulo “vigarista” vem desde essa época, não há dúvida! É isto que nos diz o historiador e antropólogo potiguar, dos mais estudiosos da cultura brasileira, Luís da Câmara Cascudo.
De lá para cá o “Conto do Vigário” e os vigaristas foram se aperfeiçoando. É claro que para o vigarista há que ter os incautos. Se não fosse a boa fé o vigarista não existia.
Agora, o que deixa toda boa alma perplexa é a capacidade de alguns vigaristas em executar suas investidas. Veja o leitor que não há escola técnica, faculdade ou qualquer outro curso, mesmo que um curso livre, para especializar àqueles com aptidão à vigarice. Mesmo assim muitos conseguem chegar à expertise, tal como se tivessem passado por cursos de mestrado, doutorado ou pós-doutorado.
Ah! Será que é por isso que muitos vigaristas vêm sendo laureados com o título de doutor honoris causa?
Convenhamos: para o sucesso na carreira de vigarista é preciso muita expertise! Enganar um e outro, aqui e ali pode ser fácil. Mas, enganar multidões é muito difícil! São poucos com capacidade para realizar tal façanha. Essa minoria é tão “esperta” que engana a primeira vez e depois consegue continuar enganando...
Quem ainda não foi vítima de um “Conto do Vigário”? Talvez muito pouca gente! Também, ninguém pode dizer que “dessa água não beberei”, pelo próprio perigo que é a expertise do vigarista, não é mesmo? Então, vale o máximo cuidado: os vigaristas estão soltos! Depois que o fato acontece não adianta lamentar; no Brasil não há um só vigarista profissional na cadeia!
Mudando de tema, vamos às coisas boas, afinal: “O Brasil agora é um país desenvolvido”; somos “o país que mais cresce no mundo”; “pagamos toda nossa dívida externa”; o “MENSALÃO não existiu”; “nunca na história deste país foram criadas tantas universidades” (como também nunca desmembramos tantas); não temos problemas na área da saúde, porque aqui “a saúde está perfeita”.
Como tudo aqui anda às mil maravilhas, vamos aplaudir o abraço fraterno entre Lula da Silva e Paulo Maluf. Para que estender alguma coisa a mais sobre o conto do “Conto do Vigário”?
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