O Instituto Paulo Montenegro (IPAM) e a ONG Ação Educativa publicaram nesta semana os resultados de pesquisa que avalia a situação do analfabetismo funcional no Brasil na última década. Dois fatos chamam muito a atenção: O primeiro é o indicador que mede a alfabetização funcional plena, que se manteve inalterado em 26% da população.
Isto quer dizer, de acordo com as classificações e os conceitos atribuídos às categorias consideradas pelo IPAM, que somente 1 em cada 4 brasileiros tem habilidade plena, no grupo daqueles que “não mais impõem restrições para compreender e interpretar textos usuais: lêem textos mais longos, analisam e relacionam suas partes, comparam e avaliam informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses...”.
O segundo ponto é que 38% dos estudantes do ensino superior – mais de um terço dos alunos do terceiro grau - apresentam dificuldades graves para escrever e realizar leitura.
Ambos indicadores revelam que a realidade brasileira, quando se considera a qualidade da educação, está muito distante de padrões aceitáveis. Também desmistificam o que tem anunciado os gestores públicos, muitas vezes de forma ufanista, de que temos evoluído na educação “como nunca antes na história deste país”.
É fato inquestionável, com uma simples interpretação dos dados da pesquisa em questão, que a última década pode ser considerada como uma década perdida, quando o enfoque é a qualidade da educação. Não cabe no mundo competitivo de hoje comemorar apenas a redução do analfabetismo absoluto! O avanço tecnológico exige pessoas qualificadas e com capacidade para execução de processos produtivos mais complexos e sofisticados.
Por isto, a ineficiência da mão de obra é considerada como uma das variáveis impactantes no chamado custo Brasil, haja vista o custo adicional que têm as empresas para melhoria da qualidade de seus quadros e a baixa produtividade em função disso.
E não estamos falando em alcançar o “pleno domínio de habilidades que hoje é condição imprescindível para a inserção plena na sociedade letrada”, conforme comentário do IPAM, por ser uma questão muito mais abrangente.
Para a doutora Vera Masagão Ribeiro, coordenadora da ONG Ação Educativa, “a chegada de novos estratos sociais às etapas educacionais mais elevadas vem, muitas vezes, acompanhada da falta de condições adequadas para que estes estratos alcancem níveis mais altos de alfabetismo, o que reforça a necessidade de uma nova qualidade para educação escolar”. Daí a necessidade de investimentos e inovações para transformar a realidade do nosso sistema de ensino, principalmente no âmbito público.
No Brasil existem muitas pessoas capacitadas a promover as mudanças necessárias. No entanto, “a educação não tem sido vista como uma prioridade”, da maneira como tem dito o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), reiteradamente. Contudo, indo ainda mais longe, a educação tem sido vista apenas como um instrumento para projeção e manipulação política, e não como uma política de estado.
Os países do grupo chamado “Tigres Asiáticos”, entre eles a Coréia do Sul, são exemplos da capacidade de transformação que tem a educação, quando direcionada como uma política prioritária.
Aqui no Brasil, continuada a atual política, estamos fadados a permanecer patinando. E continuaremos a comemorar apenas números, sem qualidade. Infelizmente, o último ministro que quis trabalhar seriamente em benefício da transformação brasileira - o próprio Cristovam Buarque - foi demitido pelo telefone.
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