sexta-feira, 11 de maio de 2012

Como se a verdade pudesse evaporar

Aprovada a abertura de processo para investigação das denúncias contra o senador Demóstenes Torres (sem partido – GO), pelo Conselho de Ética, cumprem-se agora os ritos processuais para o julgamento final no plenário. A votação pelo Regimento Interno será secreta. Até lá muito pode acontecer, mas qualquer outro resultado que não seja a cassação do mandato será uma desmoralização a mais para o Senado.
O arauto da ética mostrou-se com duas faces: no escuro, usa o cargo público para os interesses privados; no claro, o cinismo para enganar a plateia - como fazem nossos piores políticos.
Lamentável! Acabamos de sair de um período de escândalos, com a demissão em série de ministros, e as instituições ora estão incisivamente desgastadas. Há ainda a iminência do julgamento do MENSALÃO pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) em andamento.
O caso Demóstenes Torres, neste momento, contribui efetivamente para ofuscar os escândalos do governo e corrobora com a estratégia lulopetista de abafar o julgamento do MENSALÃO. 
Tudo indica que a própria CPMI do Carlinhos Cachoeira foi instalada para cumprir essa missão. Não é à toa que a base aliada vem focando em Marconi Perillo, governador de Goiás, desafeto declarado de Lula da Silva, por ter dito em público que alertou o ex-presidente do maior escândalo de corrupção da nossa vida republicana.
Por isto, os governistas farão de tudo para não deixar a CPMI abranger as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e proteger os governos aliados. A exceção é apenas de Agnelo Queiroz (PT-DF), governador do Distrito Federal, já atolado em processo e denúncias de corrupção.
Na terça-feira vimos o vice-presidente Michel Temmer dizer que “não vê motivos para a convocação de Sérgio Cabral”, governador do Rio de janeiro, quando há evidências do envolvimento de Cabral com a empreiteira Delta, desde os pés à cabeça.
Todas as falas de Rui Falcão (PT-SP), presidente do PT, também vão nesse sentido. Depois de dizer que “agora vamos revelar a farsa do MENSALÃO”, como se a verdade pudesse evaporar, tenta agora desmoralizar a imprensa independente - maior salvaguarda dos valores democráticos - numa campanha cínica, sobretudo sobre a Revista “Veja”.
Perceptivelmente, essa estratégia tem o DNA do “chefe da quadrilha do MENSALÃO”: José Dirceu, o “guerreiro do povo brasileiro”, conforme jargão dos aloprados e apedeutas do partido.
Felizmente temos gente do porte de Roberto Gurgel, procurador-geral da República. Na quarta-feira Gurgel disse à nação, que a atuação de determinados petistas na CPMI do Cachoeira é no sentido de imobilizar “para que ele não possa atuar como deve, seja no caso que envolve Demóstenes e todos os seus desdobramentos, seja preparando-se para o julgamento do MENSALÃO”.
Roberto Gurgel sustenta que o MENSALÃO é “o mais grave atentado à democracia brasileira”; que todas as críticas contra ao STF e à PGR são de “pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do MENSALÃO”.
Enfim, esse é o preço que pagamos por um projeto político sem grandeza, que objetiva, sobretudo, a manutenção do poder político a qualquer preço.

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