sexta-feira, 29 de julho de 2011

Agora um romântico

Creio que não se pode mais chamar Marcão de pão-duro, pois o tratamento que ele anda fazendo, por indicação da esposa, parece estar dando certo. Eu mesmo comprovei com meus próprios olhos, que depois de meses de planejamento, utilizando fórmulas próprias de economia doméstica, Marcão finalmente comprou um par de tênis, novinho!
Foi ele mesmo quem me mostrou no final dos exercícios na academia. Só que agora, lembrando... Ele não calçava os tênis! Eles estavam embalados em uma sacola preta. Então me pergunto: - Será que era só para protegê-los contra os atritos na rua e as intempéries? Ou para não gastá-los? Ou será que Marcão teve alguma recaída?
Como ele está em tratamento, creio que esta última hipótese não é a mais plausível. Ah...! Também tem o testemunho de uma amiga, que diz ter visto Marcão cuidando das unhas, no mesmo salão de beleza que ela aprontava os cabelos. Cuidar das unhas em salão não é hábito peculiar aos pães-duros, que sempre abdicam da vaidade para guardar dinheiro, de modo que fico com a primeira hipótese.
Mas é que a dificuldade dele de gastar dinheiro era tanta, que a gente às vezes volta a ficar na dúvida! Que me perdoe Marcão, se por acaso fiz aqui um mau juízo, mas, afinal, como ele mesmo conta, a herança é tanto materna, como paterna; é fortíssima!
Para que não haja desconfiança e que alguém diga mais tarde que estou exagerando, vou abdicar de falar do medo que Marcão tem de elevador, para falar da sua mãe e do seu pai. Portanto, não falarei nada sobre o pavor que lhe dá só em ver um elevador. Nem do esforço que faz quando escala de escada do térreo ao décimo quarto andar, para ir direto ao assunto.
Quando Marcão e a esposa resolveram comprar um mobiliário novo para sala, decidiram que o velho seria presenteado à mãe, já que a sala dela estava quase vazia. Estava todo em perfeito estado!  
Montados os móveis, ficou tudo uma beleza! Depois de algumas semanas, no entanto, em visita à mãe, Marcão se espantou com a sala vazia, do mesmo modo de antes. Então perguntou: - Mamãe, onde foram parar os móveis que te demos? Ela respondeu: - Marcão, eu vendi...
Na verdade ela gosta tanto de guardar dinheiro, que sempre preferiu ir à janela perguntar a hora aos vizinhos ou aos transeuntes na rua a comprar um relógio. Por ser assim, encontrou o esposo certo!
O pai, quando Marcão e os irmãos ainda pequenos, juntava os jornais que lia e ia empilhando-os direitinho, para que ficassem bem arrumados. Depois passava um barbante bem amarrado nas pilhas e as transformava em fardos. Chegado o verão, quando todos iam passar férias em Marataízes, ele trocava os jornais por peroás, que naquela época ainda eram muito baratos.
Assim, do início ao final das férias, todo dia na casa de Marcão era peroá; tanto no almoço, como no jantar. Ele conta que não agüentava mais comer o peixe, mas na volta das férias tinha sobrado peroá para mais um mês...
O pai tinha tanta dificuldade para gastar dinheiro, que quando Marcão precisou usar óculos, mandou que fossem feitas apenas as lentes; aproveitou a armação herdada da mãe. Por isto Marcão usou os óculos da avó por muitos e muitos anos.
Todos os amigos do Marcão torcem para que o seu tratamento com a psicóloga seja exitoso, mas que ele nunca perca o bom humor que leva para todos os cantos; nem a sinceridade, quando diz: - Eu não sei o que teria sido de mim se não tivesse encontrado a Gina, minha esposa. 

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A " Herança Maldita"

Depois de uma enxurrada de denúncias, veiculadas nos principais órgãos de imprensa do nosso país, a presidenta Dilma Rousseff anunciou uma “limpeza” no Ministério dos Transportes (MT) e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – o Dnit, por gravíssimas evidências de superfaturamento nos preços das obras.
Somente nesta semana foi feita mais de uma dezena de demissões, a maioria de indicados do PR (Partido da República). Também foi anunciada que a “limpeza” será mais abrangente; chegará às superintendências do Dnit, espalhadas por todos os estados, de norte a sul do país, abarcando ainda algumas indicações do próprio PT, partido da presidenta.
Muitas das obras ora denunciadas já estavam sob suspeição há algum tempo, por irregularidades apontadas em auditoria do Tribunal de Contas de União – TCU. No entanto, o governo vinha relevando, inclusive de forma dissimulada, atribuindo a culpa das denúncias ora à “irresponsabilidade” da oposição, ora à imprensa “golpista”. 
Mas a verdade é que no governo de Lula da Silva a corrupção chegou a patamares insuportáveis e de maneira tão escancarada, que não restou ao governo da presidenta Dilma outra medida que não fosse essa “limpeza” no Ministério dos Transportes e no Dnit.
Há ainda muitas suspeições sobre outros ministérios: Sobre o dos Esportes (lote do PCdoB), o das Minas e Energia (um dos lotes do PMDB), o das Cidades (lote do PP), o da Integração Nacional (lote do PSB), os da Saúde, da Educação e das Ciências e Tecnologia (lotes do PT), bem como sobre outras esferas do governo e das empresas públicas.
Entre as empresas públicas a campeã de irregularidades é a Petrobrás. Mas as irregularidades não se resumem ao superfaturamento em obras; são incidentes também sobre os mais diversos tipos de serviços contratados, muitas vezes sem licitação.
Mediante à tantas denúncias, é perceptível, com absoluta nitidez, que no aspecto da probidade a herança deixada pelo ex-presidente Lula da Silva para presidenta Dilma é a verdadeira “herança maldita”.
Diante dessa “herança maldita” é cedo ainda para avaliar se as medidas agora tomadas serão suficientes para arrefecer, pelo menos um pouco, o monstro da corrupção entranhada no nosso país, que se alimenta do dinheiro público, absolutamente sem qualquer altruísmo e nobreza.
Esse monstro, no entanto, não será debelado apenas com demissões. São necessárias reestruturações, partindo da diminuição do número de ministérios. É imprescindível as realizações das reformas políticas e tributárias, de forma consistente, bem como mudanças no código penal, para conter a impunidade, principalmente no meio político.
Porém não devemos esperar que a presidenta Dilma tenha forças para empreender essas reformas, pois elas dependerão essencialmente dos políticos. Contudo, louva-se a presidenta pelas atitudes tomadas, que não são sem tempo.
A demissão dos indicados de seus aliados políticos, inclusive do senhor ora menos poderoso Lula da Silva é atitude que merece consideração de todos. Mas se ela quiser realmente caminhar na direção da moralização de seu governo, terá que avançar muito mais.
Neste ano, até a última quarta-feira o governo arrecadou R$ 800 bilhões em impostos. A arrecadação prevista é de R$ 1, 40 trilhão, para este ano; R$ 200 bilhões a mais do que em 2010. O esforço das empresas e da sociedade civil é enorme; não se pode deixar que todo esse esforço, comprimido por uma carga tributária estratosférica, seja jogado no ralo da corrupção e do desperdício.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Silêncio no subsolo da política

A reportagem da revista “Veja”, com denúncias de irregularidades no Ministério dos Transportes (MT), veiculada na semana passada, vem expandindo como uma bomba de largo espectro, com efeito retardado, que ainda se propaga no meio político de Brasília.


No primeiro estopim a presidenta Dilma agiu com rapidez. Demitiu a cúpula do ministério e entregou ao ex-ministro Alfredo Nascimento uma corda, apontando-lhe o caminho do patíbulo. Com a reportagem de “O Globo”, que expôs o crescimento exponencial do patrimônio do filho do ex-ministro, irrigado por empreiteiros com contrato no MT, só restou a Nascimento a alternativa de caminhar até cair.

Mas a reação dos partidos aliados, em solidariedade aos demitidos - indicados do PR (Partido da República) - é que em toda essa barafunda não há culpado, incluindo aí o PT - partido da própria presidenta. A culpa então sobra para Dilma que, por eles, “agiu de forma precipitada”.

Todavia, a probabilidade da presidenta ter agido por impulso é quase nula. Ela tem pleno conhecimento das heranças de seu governo, pela própria posição estratégica ocupada anteriormente no governo de Lula da Silva. Dizer que ela agiu por impulso é subestimá-la; certamente a presidenta não entraria na fumaça se não houvesse fogo.

Não é à toa que o senador Blairo Maggi, do PR de Mato Grosso, rejeitou ocupar a cadeira de ministro. Sua decisão é por conhecer as mazelas existentes e por cautela que por qualquer motivo mais nobre.

O diretor geral afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luis Antônio Pagot, anunciou abrir a boca sobre essas mazelas. Deu pista de que falaria sobre a participação de empreiteiros na última campanha e das intervenções de Paulo Bernardo, atual ministro da Comunicação, no Dnit. Mas depois se calou, tanto no depoimento no Senado, como na Câmara.

É preciso ser muito ingênuo para não saber que no Brasil, no subsolo da política impera a lei do silêncio. Assim, não é o silêncio que transformará Pagot em santo, como querem os parlamentares do PR, do PT e todos os demais aliados.

Outro fato que chamou a atenção durante o depoimento de Pagot na Câmara dos deputados foi a manifestação dos funcionários de carreira do Ministério dos Transportes. Eles reivindicam que os cargos de direção sejam ocupados por profissionais de carreira, como forma de combater a corrupção endêmica que há anos se enraizou no ministério.

Esses profissionais sabem muito bem o que acontece nos bastidores. A reivindicação é justa, mas infelizmente sem eco, pelo próprio modelo da política brasileira, que favorece a perpetuação da política inescrupulosa.

Assim, depois de seis meses de governo já se percebe uma postura diferente da presidenta Dilma. Lula da Silva em seu lugar teria os aplausos por atribuir a culpa de mais este escândalo no MT às “zelites”, não perderia mais uma oportunidade de demonizar a imprensa “tendenciosa” e tudo continuaria como estava antes.

Mas agora a presidenta Dilma sente na carne o peso de sua eleição, na forma como ela foi construída, e vê as amarras que a prende por todos os lugares, como se estivesse presa numa teia de aranha.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Certeza da impunidade

Mal deu tempo de esfriar o caso de enriquecimento do ex-ministro Antônio Palocci, aparece de novo mais um escândalo. Desta vez no lote concedido pelo governo, para afagar o Partido da República (PR): O Ministério dos Transportes - MT.
Pela denúncia da revista “Veja” formou-se uma verdadeira quadrilha naquele ministério. A propina seria de 4% sobre os contratos das obras e de 5% sobre as empresas de consultoria; o dinheiro arrecadado rateado entre o Partido e os parlamentares eleitos – uma nova forma de MENSALÃO.
Desta vez, entretanto, a presidenta Dilma ágil rápido. Determinou que o ministro Alfredo Nascimento afastasse todos os denunciados - seus “cumpanheiros” de partido - e que apurasse o caso.
Com este ato a presidenta quis preservar o ministro. Tanto por ser uma indicação pessoal do ex-presidente Lula da Silva, como para não perder o apoio do PR. Assim, mais uma vez errou, pois deveria tê-lo imediatamente demitido, pelo menos até que a denúncia fosse plenamente elucidada.
Pelas manifestações dos parlamentares do PR, o ministro contava com pleno apoio do partido. E, por lamentável, todos saíram em seu apoio, mostrando-se ainda ressentidos com a presidenta pelo afastamento dos aliados demitidos, sem qualquer preocupação com a probidade administrativa e com a ética.
Pelo visto, tanto o ministro, que se tornou insustentável e agora volta a ocupar a presidência do PR, como os demais “cumpanheiros” afastados têm importância estratégica para o partido; mas certamente nenhum deles tem o perfil de servidores dos quais o Brasil precisa. 
Prova disto é o que diz o governador do Ceará, Cid Gomes, que classifica o ex-ministro Alfredo Nascimento como “inepto, incompetente e desonesto”, conforme editorial do jornal “O Estado de São Paulo”, da última terça-feira. Cid Gomes não faria uma intervenção desta, tão séria, se não tivesse elementos para sustentá-la.
Pesou também contra o ministro o inquérito do Ministério Público Federal, que apura o aumento de capital da firma de seu filho, em 86.500 %, em apenas dois anos, conforme denunciado pelo jornal “Globo” na quarta-feira. Seria impossível que o governo do PT não soubesse disto.
Outro caso “desconhecido” do governo é o do Sr. Luiz Antônio Pagot, diretor afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit). Pagot quando nomeado já era réu, por improbidade administrativa, depois de acumular cargo público no Senado e a direção de empresa privada, simultaneamente. “Uma grave ofensa à Lei e ao princípio de moralidade”, conforme o Ministério Público Federal.
Mas não é só. O secretário - geral do PR, Valdemar da Costa Neto, réu no escândalo do MENSALÃO, emitiu nota dizendo que a cúpula da legenda tem reuniões sistemáticas no MT, que “buscam garantir benfeitorias federais para as regiões representadas por lideranças políticas do PR”. É o MT a serviço de um partido, em detrimento do interesse público e do país.
Pelas evidências o MT se transformou em um verdadeiro balcão de negócios. (Será que o mesmo não acontece em outros ministérios?). Somente neste ano, onze contratos de obras de estradas e ferrovias tiveram os valores aumentados, mesmo com irregularidades apontadas pelo Tribunal de Contas da União – TCU.
Enfim, o ministro caiu; mas não abre mão de continuar sua influência no MT. O PR, por sua vez, se acha proprietário do ministério.
Tudo isto demonstra que os políticos, com raras exceções, já não se importam com a ética, com a preservação dos valores morais e com a observância das leis, pela certeza da impunidade.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Hoje, nada de política!

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aluísio Mercadante, tergiversou de todas as formas em seu pronunciamento na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na última terça-feira. Não assume, determinantemente, qualquer participação no escândalo do dossiê dos “aloprados”.
Contudo, foi seu próprio “cumpanheiro” de partido, Expedito Veloso, em entrevista à revista “Veja”, quem disse que o ministro teria sido o responsável pela arrecadação de R$ 1,7 milhão para a compra de um dossiê contra José Serra – dinheiro vivo apreendido pela Polícia Federal antes da eleição em São Paulo, quando Mercadante era o principal adversário de Serra.
Hoje, no entanto, não entrarei nas minúcias deste tema; muito menos na questão de que são sempre os próprios “aloprados”, ora com dólares na cueca, ora com a mão posta na botija, os que protagonizam os grandes escândalos do governo. Afinal, as investigações e os processos quando existem não terminam sempre em nada?
Não havendo nada, não há nada a comentar. Não façamos ilações e análises de questões resolvidas. Tudo corre na mais perfeita ordem; de pendência, apenas algumas emendas parlamentares.
Os casos polêmicos foram todos extirpados e nenhuma ação ou membro do governo precisa de blindagem. Os “cumpanheiros” e os aliados estão plenamente vigilantes e ora cumprem fielmente a função parlamentar de apoiar incondicionalmente o governo. Qualquer coisa fora disto é intriga da oposição desvairada, que não respeita os princípios republicanos e o governo democrático.
Por estas razões também não irei comentar a declaração do ministro da Defesa e ex-ministro do nosso Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, acerca dos documentos secretos produzidos durante a ditadura militar. Como diz o próprio ministro: Não há documentos. Nós já levantamos os documentos todos e não tem. Os documentos já desapareceram...”
Se não há documentos, esqueçamos esse ponto negro e obscuro da nossa história. Passemos simplesmente uma borracha e vamos apagar esse passado.
Por que eu, um brasileiro pobre mortal, deveria insistir em opinar e polemizar o tema? O ministro já não disse que “os documentos foram consumidos à época. Então não tem nada, não tem problema nenhum em relação a essa época”. Se não há problema algum com relação ao período da ditadura militar, não há o que se investigar; tudo é simples os documentos já evaporaram!
Outra questão que poderia ser o artigo da semana é a do sigilo das licitações para as obras da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Mas este tema é sigiloso e já foi esclarecido plenamente pela presidenta Dilma. Agora, ele pode ser resumido na seguinte afirmativa: o Regime Diferenciado de Contratação das obras será muito vantajoso para o país.
Assim mostraremos ao mundo que podemos fazer obras muito boas e baratas, e com valores subfaturados.  (E sem maiores comentários, pois eles são desnecessários).
Aqui, como disse o ex-presidente Lula da Silva “a saúde está perfeita”. Não faremos nunca como na Grécia, onde agora a população reage ao leite que no passado foi derramado...