Foi apenas o
governo federal anunciar a pretensão de privatizar a Eletrobras, que o valor
desse gigante conglomerado elétrico estatal brasileiro saltou de 19,5 bilhões
para R$ 29,0 bilhões, em um único dia, quando em poucas horas as ações
Ordinárias Nominativas (ON) da companhia aumentaram em quase 50%. No meio de
tantas notícias ruins, principalmente na área política, esta sem dúvida é muito
boa, pois ao animar o mercado o governo também potencializa a retomada do
desenvolvimento.
Nos últimos anos
a Eletrobras foi abatida por problemas similares aos que se sucederam na
Petrobras. Destacam-se, entre eles, o aparelhamento da companhia por pessoal
não qualificado, governança sem sintonia com as práticas de mercado, por
interferências políticas, e superfaturamento de obras e serviços, como tem
apontado a Operação Lava Jato. A redução nos preços da energia, em 2013, para
favorecer a reeleição da então presidente-candidata Dilma Rousseff (PT-RS), por
exemplo, causou prejuízos bilionários.
Hoje a Eletrobras
é a quarta empresa brasileira de capital aberto mais endividada do País, com um
passivo que ao final de segundo trimestre chegou ao montante de R$ 38,4 bilhões.
Sua dívida só não é maior que a da Petrobras (R$295,3 bilhões), Vale (R$ 73,2 bilhões)
e OI (R$ 44,5 bilhões), como divulgado pela consultoria Economática.
De acordo com o
ministro das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, “as dívidas e ônus do
passado se avolumaram e exigem uma mudança de rota para não comprometer o
futuro da empresa”. O ministro informou, ainda, que a proposta apresentada
nasceu de um “profundo diagnóstico sobre o processo de recuperação em curso da
Empresa”. Tal processo, no entanto, não é nada animador, pois a companhia
perdeu o poder de competitividade pela descapitalização e sucateamento.
Mesmo assim, determinados
grupos já começam a esboçar as primeiras reações. Ninguém quer perder seu
quinhão! Contudo, não cabe ao governo continuar gerindo empresas de geração e
distribuição de energia. A competência é fiscalizá-las, bem como induzir a
realização dos investimentos na área de forma planejada. Para isto já existe a
Agência Nacional de Energia Elétrica, a ANEEL. Basta que ela cumpra suas
funções com competência e sem amarras políticas.
Outros 57
projetos de privatizações e concessões ora encontram-se em curso no Programa de
Parcerias de Investimentos (PPI). Entre eles, além da Eletrobras, onze grupos
de linhas de transmissão de energia elétrica, 14 aeroportos, 15 terminais
portuários, várias rodovias e empresas públicas, como as Companhias Docas do
Espírito Santo, Companhia de Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais
(Coseng), Ceasa-MG, etc.
Embora falte ao
governo atual idoneidade para a condução desse processo, não há dúvida de que ele
é salutar ao País. Tanto as concessões como as privatizações são meios para o
governo obter novos recursos, a fim de cobrir o rombo fiscal. No entanto, o
principal é evitar a continuidade da sangria do Estado, pela ineficiência e
corrupção, que sempre acaba no colo dos brasileiros, que ficam obrigados a pagar
a conta.
Por óbvio, o
governo tem que centralizar a atenção nas áreas de sua responsabilidade, que
são a educação, a saúde e a segurança pública, que hoje vivenciam verdadeira
calamidade.