sexta-feira, 30 de maio de 2014

Como está tudo bem?

O Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (CEBELA) divulgou esta semana vários indicadores que constarão do “Mapa da Violência 2014 – Os jovens no Brasil”, a ser publicado nos próximos dias. Entre esses indicadores, temos que em 2012 o número absoluto de homicídios em nosso país foi de 56.337. Isto resulta em uma taxa de 29 homicídios para cada 100 mil habitantes, no ano considerado.

Esta taxa é a mais alta desde 1980, quando os dados começaram a ser apurados pelo CEBELA, com base no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde (MS). No curso deste período (entre 1980 e 2013) a taxa de homicídios aumentou em 43,5%.

Segundo o coordenador da pesquisa, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisze, ao analisar a série histórica, “houve uma queda e posteriormente uma estabilização na taxa de homicídios”, entre 2003 e 2007. Ele atribui este fato ao Estatuto do Desarmamento, aprovado em dezembro de 2003. Depois de 2007, entretanto, a taxa de homicídios tem sido sempre crescente. Julio Jacobo ressalta o aumento de 7%, verificado entre 2011 e 2012, classificando-o como “pesado”.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa máxima aceitável é de até 10 homicídios para cada 100 mil habitantes. Lógico que quanto menor melhor. Mas, na contramão dos indicadores que deveríamos buscar, acabamos o ano de 2012 com 190% acima do nível preconizado pela ONU. Nossos números demonstram uma epidemia, que nas três últimas décadas contabiliza 1,2 milhão de homicídios.

Em sua análise, o sociólogo Julio Jacobo enfatiza que “nossas taxas são 50 a 100 vezes maiores do que a de países como o Japão”. Diz também que “isto marca o quanto ainda temos que percorrer para chegar a uma taxa minimamente civilizada”. Mas, o que temos feito depois da Lei nº 10.826 (Estatuto do Desarmamento), a nível nacional, para reverter esse quadro?

A realidade é que o poder público no Brasil tem se mostrado incapaz de enfrentar esta epidemia. Não basta apenas pensar na melhoria da segurança pública. Temos que superar também as deficiências dos outros setores, tais quais as da educação, da saúde, do emprego de qualidade, da habitação, entre outras.

Contudo, não podemos deixar de olhar para o comportamento dos nossos políticos e autoridades, nos três níveis de governo, sem isentar cada um dos poderes, seja o Executivo, o Legislativo ou o Judiciário.

A sensação de corrupção, de impunidade e de injustiça também é causa para o aumento da violência, e consequentemente para o aumento na quantidade de homicídios. Quiçá não estejam aí as razões da pouca eficiência do nosso país quando se trata de desenvolvimento das políticas públicas?


Um bom exemplo é o programa Bolsa Família, com muita capilaridade na captação de votos, mas com pouquíssima eficiência quando tratamos de inclusão social. Neste bojo, fica ainda o discurso criativo de sucesso, que ignora de forma sistêmica nossa triste realidade, como se vivêssemos no melhor dos mundos.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Só não enxerga quem não quer

Dissimulado, o presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), retardou por mais uma semana a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito - CPMI, para investigar os escândalos que rondam a Petrobras. Foi feita assim a vontade do Palácio do Planalto, que tudo tem feito para que nada seja investigado; que a sujeira, mais uma vez, seja jogada para debaixo do tapete.

O governo petista teme a instalação da CPMI devido à dissidência da Câmara dos Deputados. Prefere, então, a Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI do Senado Federal, já batizada de “CPI chapa branca”, porque no Senado está tudo sob controle, prontinho para acabar em pizza. O relator, José Pimentel (PT-CE), e o presidente, Vital do Rêgo (PMDB-PB), foram escolhidos a dedo. A oposição ficou sem número e sem voz.

Mas, segundo afirmação do juiz federal Sergio Fernando Moro, da Justiça Federal do Paraná, há “uma organização criminosa no seio da estatal”. Esta organização trabalhava em sintonia com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal durante a Operação Lava Jato, junto com o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, solto esta semana depois de uma decisão monocrática do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal – STF.

O ex-diretor Paulo Roberto Costa era indicado dos senadores Renan Calheiros e Delcídio do Amaral (PT-GO). Depois que Paulo Roberto foi pego em casa com milhares de dólares, euros e reais, e, posteriormente, familiares seus foram flagrados pala PF destruindo provas, ambos passaram a fugir dessa paternidade.

Ninguém é ingênuo ao ponto de achar normal a guarda de dinheiro (milhões) dentro casa. Também não pode ser normal o prejuízo bilionário na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Há, ainda, outros fatos sob suspeição: as centenas de aditivos que elevaram o custo da refinaria Abreu Lima em Pernambuco, de US$ 2,0 bilhões para US$ 18,0 bilhões; as obras bilionárias do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, no município de Itaboraí; denúncias de corrupção de altos funcionários na locação de plataformas marítimas da empresa SBM Offshore, da Holanda.

Outro fato alarmante é o endividamento da Companhia nos últimos anos. Segundo relatório do Bank of America Merril Lynch “a dívida da Petrobras cresceu rapidamente”, de forma que ela é hoje a empresa mais endividada do mundo. Em agosto de 2013, conforme balanço apresentado pela estatal, o montante da dívida chegava a R$ 176,3 bilhões.

É por este endividamento que articulistas do jornal Financial Times atribuem ao intervencionismo do governo brasileiro estar transformando a Petrobras “numa bomba relógio que pode explodir a qualquer tempo”. Há inclusive analistas que apontam a possibilidade de falência, caso mantida a progressão do endividamento. Não é à toa, portanto, que as ações da companhia tenham caído de valor (hoje valem menos que a metade que há alguns anos), causando imensos prejuízos aos acionistas.

Pode-se concluir que a caixa preta da Petrobras na era petista teria muito a ser investigada. Diretores, funcionários, empresas, doleiros e políticos. De políticos se chegaria a muito que os deputados André Vargas (ex PT-PR), Cândido Vacarezza (PT-SP) e Luiz Argolo (SDD-BA), os que apareceram até agora nas investigações da PF, envolvidos com o doleiro Alberto Yousseff.


Hoje o governo petista e seus aliados articulam pelo silêncio, esperando a chegada da Copa do Mundo. Aproveitam, ainda, para massacrar o brasileiro de propagandas: BNDES, Petrobras, Caixa Econômica, Banco do Brasil, etc... Tudo tem que parecer perfeito e em ordem. E como estamos no período pré- eleitoral tudo de mau é culpa da imprensa e da oposição golpistas.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

“A Copa das Copas”

Faltando trinta e quatro dias para o início da Copa do Mundo, continuamos às voltas com o término das obras de várias arenas esportivas e seus entorno. Muita coisa acabou ficando para última hora, o que tem impedindo a realização dos eventos testes da forma programada. O fato mais grave, no entanto, é o trabalho apressado, de forma atabalhoada, que já levou a vida de nove trabalhadores em acidentes que poderiam ser plenamente evitados.

Segundo o Secretário Geral da Fedéretion Internationale de Football Association - FIFA, Gérôme Valcke, em entrevista recente, a proposta inicial era a de que a Copa do Brasil fosse realizada com apenas oito estádios (exigência mínima da FIFA), de modo a encurtar as distâncias As autoridades brasileiras, entretanto, optaram por doze (requisito máximo), para contemplar cada uma das regiões do país.

Em 2007, quando a FIFA ratificou o Brasil como sede da Copa, o país parecia navegar em céu de brigadeiro, pelo crescimento do mundo. O preço das nossas commodities encontrava-se lá em cima, nas nuvens. O então presidente Lula da Silva gabava-se de ter “acabado com a dívida externa” e “exterminado a pobreza”. Podíamos, então, por sua ótica, construir mais estádios, mesmo que alguns deles pudessem ficar ociosos, pois “o Brasil agora é um país desenvolvido” (sic), conforme suas palavras.

Nesse tempo, o ex-presidente não se acanhava em dar conselhos ao mundo, sem qualquer modéstia. Em seus discursos muitas vezes gabava-se de ensinar os principais líderes a governar. Isto inclusive ensejou a ironia de Barack Obama de chamá-lo de “o cara”, fato que até hoje é comemorado pela trupe petista.

Mas, voltando à Copa, além dos estádios, o Brasil se comprometia a criar em um período de pouco mais de seis anos toda infraestrutura, desde a modernização dos aeroportos, aos investimentos na melhoria da mobilidade urbana das cidades sedes. Não faltou espaço até mesmo para a construção de um trem bala, que ligaria as cidades de Campinas e São Paulo ao Rio de Janeiro.

E tudo foi firmado em contrato com cadernos de encargos, onde até mesmo a estrutura das Fan Fest’s – telões, palcos para shows e acomodações para a imprensa fora dos estádios -, com custo aproximado de R$ 40 milhões para cada um dos locais do evento, ficava a cargo dos governos. Caberia à FIFA a organização dos estádios e o resultado financeiro da venda dos ingressos, do direito de transmissão e das cotas de patrocínio, em resumo. Até mesmo o pagamento de impostos foi liberado.

Faltando agora poucos dias para a competição, temos a certeza de que raras cidades estarão prontas da forma prometida, quer em função dos atrasos, ou pelo próprio cancelamento de muitas obras, por inexeqüíveis. Ficamos, então, obrigados a ouvir o Sr. Valcker dizer na Suíça que “viveu um inferno”, durante a preparação do Brasil, quando ele e o presidente da FIFA, o Sr Joseph Blatter, não se cansaram de lastimar ao mundo pelos problemas aqui encontrados.

Não podemos nadar contra o tempo e consertar o que deixou de ser feito. É impossível, portanto, realizarmos “a Copa das Copas” da forma como disse a presidente Dilma Rousseff. Lá fora nossa imagem já está arranhada, quer pelo que foi mostrado até agora pela direção da FIFA, ou pela mídia internacional, que sempre destaca a violência, conforme ocorrida nos quebra-quebras durante a Copa das Confederações.

Por derradeiro, resta-nos, então, que os governos federal, estadual e municipal das cidades sedes, promovam a segurança necessária, impedindo a ação de bandidos e vândalos, para que possamos melhorar, pelo menos um pouco, nossa imagem diante do mundo. E que tenhamos também uma Copa de confraternização e humanizada.