sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Miopia do poder a qualquer preço


Depois de abandonar a base de apoio ao governo e assumir a candidatura à presidência da República, não tem faltado rótulos pejorativos para definir Eduardo Campos (PSB-PE). Talvez o mais leve deles seja o de “traidor”, haja vista que a cúpula e a militância petista não se conformam com o advento de uma terceira via saída das próprias hastes do governo.
A filiação de Marina da Silva ao PSB, unindo-se a Eduardo Campos, contribuiu ainda mais para esse acirramento de ânimos. Marina era uma das maiores estrelas petista até ser preterida no ministério do Meio Ambiente. Decidiu, então, alçar vôo próprio, por discordar das novas práticas políticas do antigo partido.  Assim, despontou-se como uma liderança emergente, após obter quase 20 milhões de votos nas eleições de 2010.
A candidatura de Eduardo Campos e a união à Marina Silva, entretanto, além de legítimas são salutares à democracia. Uma eleição plebiscitária, nos moldes pretendidos pelo governo, seria um retrocesso, pela desproporção de forças entre a situação e a oposição. Também limitaria as possibilidades de escolha do eleitor, o que assemelharia a eleição presidencial no Brasil à dos nossos vizinhos venezuelanos.
Sem dúvidas de que a democracia aqui está muito mais consolidada. Temos liberdade de expressão e a imprensa livre, não obstante as imperfeições que permeiam nossas instituições, nos três âmbitos dos poderes.
O grande problema do Partido dos Trabalhadores (PT) é a presunção da eterna hegemonia. Nessa escalada, todos que discordam ou venha discordar de suas práticas políticas são tratados como inimigos. Não importa se no passado tenham dado o sangue em benefício da constituição e do crescimento do partido, conforme hoje é exemplo a própria Marina Silva.
Por incoerência, os aliados - partidários do fisiologismo da velha política do toma lá dá cá e do atraso - são tratados da melhor forma possível, com direito inclusive de transitar em tapetes vermelhos. Estão aí: José Sarney, Fernando Collor de Mello, Renan Calheiros, Paulo Maluf, Delfin Neto e Jader Barbalho, entre dezenas e dezenas de outros políticos.
Isto são fatos que apequenam ainda mais a nossa política e comprometem o futuro.
Aliás, a própria presidente Dilma Rousseff, preocupada com a reeleição, tem deixado de dar bons exemplos na construção de uma política maiúscula. Recentemente vimos uma série de reuniões com a cúpula de seu partido e o marqueteiro João Santana serem realizadas em recintos públicos, o que é um ato nada republicano. 
A importância e o decoro do cargo também são quebrados em inaugurações de casas populares inacabadas e de bicos de água em praça pública. A presidente, em seus atos, vai dando razão ao que dizem seus principais opositores, representados por Aécio Neves e Eduardo Campos, este último unido à Marina Silva. Em muitos aspectos realmente o Brasil está “retrocedendo” e sendo “negligenciado”.
A perda da credibilidade alcançada pelo país no exterior; o inchaço e a inoperância da máquina pública, para manter aliados; a fragilização dos fundamentos da economia; o descaso com a qualidade da educação; a politização da saúde, entre tantos outros fatos comprovam essa realidade. 
Mesmo assim, a presidente afirma que seus opositores “têm de estudar muito e ver quais são os problemas do Brasil”. Por sua vez, talvez seja a vaidade do cargo, ou a própria arrogância, que não permite que ela os veja.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Trabalhando com amor e competência

O mês de outubro começou bem florescente, todo enfeitado de rosa. Foi muito sábia a iniciativa de chamar a atenção das mulheres para a necessidade de prevenir o câncer de mama. Ótimo, então, que Outubro Rosa tenha adquirido tal abrangência, com o amparo da mídia e repercussão em toda sociedade, porque assim o evento se consolida. Todos sabem que o diagnóstico tardio é um complicador na cura da doença.

Em nosso meio, temos observado que o evento também é de grande importância na promoção da solidariedade entre as pessoas. Portadores de câncer, familiares, voluntários, médicos e equipe multidisciplinar do Hospital dão verdadeiro exemplo de altruísmo na realização da campanha. E todos trabalhando com muita vontade, dedicação e amor, o que fica bastante patente.

O Outubro Rosa também contribui com a melhoria na qualidade de vida das pessoas, tanto das que estão em tratamento, como daquelas que já passaram por essa fase. Sempre é bom lembrar que hoje o câncer não é mais um tabu. Cada vez os tratamentos estão mais eficazes, com o surgimento de novas drogas e profissionais melhor preparados. Daí a diminuição dos indicadores de morbidade e mortalidade. 

Na região sul do Espírito Santo é o Hospital Evangélico de Cachoeiro de Itapemirim (HECI) o pioneiro no tratamento do câncer. Há quase 15 anos o HECI dispõe de um serviço completo, com oncologia clínica, cirúrgica e radioterapia.

Segundo um auditor do SUS de Brasília, em visita realizada para avaliação, o HECI tem hoje “um dos melhores serviços de oncologia do Brasil”, por utilizar as melhores drogas atualmente comercializadas no mundo, pela qualidade curricular dos profissionais médicos, pela humanização e pouca fila de espera.

A Unidade de Oncologia Clínica é coordenada pelo Dr. José Zago Pulido, a Cirúrgica por Dr. Anderson Zerbone (auxiliado pelos Drs. Paulo Brunoro e Tiago Dutra) e a Radioterapia por Dr. Paulo César Canary (professor da UFRJ) e Dr. Carlos Eduardo Almeida (professor da UERJ).

Mantém, ainda, parceria com a Casa de Apoio aos Portadores de Câncer (GACCI), presidida por, Wanda Bravim, e com o Centro de Pesquisas Clínicas em Oncologia (CPCO), coordenado pelo Dr. José Antônio Aleixo, professor e pesquisador aposentado pela Universidade Federal de Pelotas, atualmente residente em nossa cidade.
Poucos sabem, mas já foram realizadas pelo HECI, em parceria com o CPCO, mais de dez pesquisas clínicas na área da oncologia. De câncer de mama, próstata, pulmão... Inclusive a do quimioterápico AFATINIB, atualmente em uso, após aprovado pelo U.S. Food and Drug Asministration, órgão de controle governamental dos EUA.

Outra profissional que merece singular destaque é Dra. Sabina Bandeira Aleixo, não só pela competência profissional, mas também pela colaboração voluntária nos eventos e programas sociais realizados pelo HECI e o GACCI, em conjunto.

Neste Outubro Rosa, Dra. Sabina lançou o livro “Receitas de Sucesso”, no qual coordenou uma série de depoimentos de pacientes, que compõem o que ela chamou de “histórias reais dos desafios na luta contra o câncer”. Lindíssimo trabalho! À altura do quem tem feito Mirella Janotti e Leoni Margarida, pelo Brasil afora...

Dra. Sabina diz-se, com esse trabalho, “uma privilegiada por saber nos bastidores o que pensam os pacientes e poder promover esse encontro”, contribuindo, de forma efetiva, para melhoria da auto-estima de cada um deles.

Lembremos que o câncer não escolhe idade, nível social e de escolaridade, nem raça. Então: Viva o Outubro Rosa! Viva a vida! E que o Novembro Azul seja o mesmo sucesso. Os homens, tal como as mulheres, também merecem.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Sinal amarelo; quase vermelho

O governo amargou esta semana o pior resultado do déficit primário, desde o mês de agosto de 2001. O déficit primário é a diferença entre a arrecadação e os gastos dos municípios, estados e união, sem considerar as despesas com o pagamento de juros da dívida pública. O montante alcançou R$ 432 milhões em agosto, conforme anunciado pelo Banco Central - BC. Somado o pagamento de juros, chega-se a um déficit nominal de R$ 22,3 bilhões.
Segundo Raul Veloso, especialista em contas públicas, “os resultados positivos vêm se diluindo desde 2008. As metas de superávit primário saíram de 3,1% do PIB, foram ajustadas para 2,3% do PIB, no primeiro semestre, chegaram em agosto a 1,73% do PIB e poderão diminuir para 1,3% do PIB até dezembro”, conforme entrevista concedida ao jornal “ O Estado de São Paulo”.
A situação é preocupante, porque ela demonstra um descontrole dos gastos dos governos, em um momento em que o BC vem aumentando as taxas de juros, para controlar a inflação, o que acelera o crescimento da dívida pública.
Somente com o pagamento de juros da dívida, nos oitos primeiros meses deste ano, o governo já desembolsou a vultosa quantia de R$ 109 bilhões. No mesmo período do ano passado, o desembolso havia sido de R$ 73 bilhões.
A redução no superávit primário também aumenta a dívida bruta, que no mês passado chegou a R$ 2.749 trilhões, o que corresponde a 59,1 do PIB, pelos cálculos do governo (contestados pelos organismos internacionais). Mesmo assim, esse valor é muito maior que o percentual aceitável para os países em desenvolvimentos como o Brasil, que é de 45 % do PIB.
O que complica ainda mais esta situação é o baixo índice de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), bem como a diminuição da capacidade de investimentos do país.  Contudo, o governo brasileiro continua a rechaçar qualquer crítica, mesmo quando ela é baseada em seus próprios dados. Mas a realidade é que o sinal está amarelo há algum tempo.
O argumento é de que a dívida líquida, que é a diferença entre a dívida bruta e as reservas cambiais acumuladas, está caindo. Porém, esse argumento não se sustenta, pois desde 2003, ano da ascensão do PT ao governo, o dólar desvalorizou em 33%, enquanto a inflação, medida pelo IPCA, chegou a 84%. Não é à toa que o saldo da balança comercial vem paulatinamente evaporando; sumindo...
Os dados divulgados pelo BC e o Tesouro Nacional também provocaram esta semana o rebaixamento na avaliação dos títulos nacionais, pela agência de classificação de risco Moody’s - de “positiva”, para “estável”. Entretanto, esta mesma agência já notificou, que se o aumento do déficit das contas públicas persistir, o Brasil perderá a classificação do grau de investimento.
Isto será péssimo para o país, pois implicará na diminuição dos investimentos externos, o que tornará imperativa a utilização das reservas acumuladas nos últimos anos ou aumentar nossa dívida externa, para equilibrar o balanço de pagamentos.
Outro ponto muito questionado pelas agências de classificação de risco e organismos internacionais são os chamados “truques contábeis”, utilizados pelo governo para aumentar o superávit primário. A agência Moody’s diz ser este ponto uma “deterioração na qualidade de divulgação das contas do governo”, o que não é nada bom para a imagem do Brasil no mundo. Lembremos que em 2012 foram feitas manobras contábeis no valor de R$ 19 bilhões, para o fechamento das contas.
O que mais preocupa neste cenário é o próximo ano, pelo período eleitoral. É nessa época que o governo abre as torneiras, para fazer frente a novas obras e serviços, aumentar as propagandas e saciar os aliados em troca de apoio político. Prudência nos gastos e no controle da dívida não faria mal algum. Persistindo, o sinal estará imperativamente vermelho.