O melhor conceito que se pode ter de um bom governo é o de saber distinguir e priorizar aquilo que é mais importante e essencial para a população de um município, para o estado ou o país. Estamos hoje às vésperas de uma Copa do Mundo e das Olimpíadas que serão realizadas em 2016 no Rio de Janeiro. Duas das prioridades do Governo Federal e dos estados que estão envolvidos na organização desses eventos.
É importante, então, questionarmos se valera à pena para o Brasil, não só pela visibilidade que têm e do retorno que poderá trazer em publicidade e turismo. Mas, também, se realmente compensa gastar bilhões e bilhões de recursos, enquanto carecemos de investimentos em saúde, educação, segurança pública e infraestrutura, entre outras áreas prioritárias, para as quais sempre há deficiência de recursos.
Lógico que não podemos retroceder as decisões tomadas diante do mundo. Mas, analisar essas decisões de governo é uma questão de dever do cidadão, do cumprimento de sua cidadania. O que não devemos é ficarmos omissos.
Nesta semana o portal da revista “VEJA” publicou uma série de matérias muito esclarecedoras sobre os estádios que estão sendo construídos para a Copa do Mundo. A primeira delas titulada “prepara o bolso: os elefantes brancos estão à solta no país”, de Giancarlo Lepiani. Valerá à pena aos leitores conferirem essas matérias, que são riquíssimas, pela clareza e importância das informações.
O primeiro ponto que chama a atenção é o problema do custo de manutenção e preservação dos estádios. Muito alto e que consumirá, durante a vida útil prevista para cada uma das arenas, durante décadas, mais que o dobro do montante utilizado na construção. Estima-se um valor entre 27 e 33 bilhões de dólares.
Outro problema é com relação à utilização dessas arenas. Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal têm campeonatos com inexpressiva média de público. Depois da Copa do Mundo fatalmente esses estádios ficarão ociosos, mas consumindo recursos públicos que poderiam ser muito melhor aplicados se colocados, por exemplo, na manutenção dos hospitais públicos nas cidades onde estão localizados.
Também, em cidades como Recife e Fortaleza, a utilização das novas arenas pelos clubes locais sairá mais caro que o uso dos estádios próprios, o que poderá inviabilizar todo esforço realizado sejam essas arenas privatizadas ou não.
Porém, metade das arenas construídas não deve ser privatizada, pela baixíssima perspectiva de retorno. Somente as construções das maiores cidades são atrativas, pela possibilidade do uso em grandes eventos, além das partidas de futebol. Neste grupo está o Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Salvador.
Nas Copas do Mundo dos Estados Unidos, França e África do Sul, da forma como muito bem mostra a “VEJA”, foram utilizados somente nove estádios. Por certeza, como diz a matéria, “é de costume no país, culpa da política, que sobrepujou o bom senso e colocou o gasto perdulário de dinheiro público em segundo plano. Houve esforço de sobra para contemplar aliados e atender a interesses muito distantes do futebol.
Quanto às obras estruturais, necessárias à mobilização urbana, que deveria ser o maior legado desses eventos, conforme o caderno de encargos assumidos, excetuando o Rio de Janeiro e Belo Horizonte, muitos projetos já foram cancelados, quer por falta de recursos, licitação fraudulenta, ou tempo hábil para conclusão. Na questão dos aeroportos, que chega a ser vergonhosa para o país, poderemos ter a continuidade da construção dos já famosos “puxadinhos”.
A única certeza que fica é a de que até lá teremos o Bolsa Família e todas as arenas construídas. E, por certo, como teremos pão e circo, nossa população se sentirá satisfeita com a saúde, educação, segurança pública e infraestrutura que temos. Infelizmente, esta é a nossa realidade.
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