sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Pizza com sabor de hipocrisia


O retorno aos trabalhos da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), que “apura” as relações do contraventor Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários, foi simplesmente VERGONHOSO. A maioria – diga-se, a base do governo – praticamente encerrou os trabalhos ao prorrogar a CPMI por 48 dias, o que impedirá novos depoimentos e a quebra de sigilos da empreiteira Delta, ou das empresas de fachada ligadas ao esquema.
A verdade é que o Planalto e a base aliada não queriam que fosse apurado mais nada. A oposição, por sua vez, fragilizada tanto na Câmara dos Deputados como no Senado, não conseguiu o número de assinaturas necessárias para prorrogar os trabalhos por mais seis meses. Assim, essa CPMI acabará em uma VERGONHOSA PIZZA, temperada com dissimulação e cinismo, e com sabor de hipocrisia.
O próprio relator, Odair Cunha (PT-MG), não esconde que já tem o relatório da CPMI concluído. Fatalmente, seu relatório estará centrado nos oposicionistas ao governo, com destaque para o já desmoralizado ex-senador Demóstenes Torres e o governador de Goiás, Marcondes Perillo (PSDB-GO). Pode ser que ele ainda tenha a cara de pau para elogiar seu correligionário de partido, Agnelo Queiroz (PT-DF), governador do Distrito Federal.
Vale lembrar que essa CPMI só foi criada pela tentativa da cúpula petista, encabeçada por Lula da Silva, José Dirceu e Rui Falcão, de melar o julgamento do MENSALÃO.
Na edição do último dia de maio deste diário “Aqui Notícias”, veiculamos o artigo intitulado “Dissimulação Escancarada”, quando falamos dessa estratégia petista. Os alvos escolhidos foram Roberto Gurgel, procurador geral da República, a oposição e a imprensa independente. Isso sim, uma tentativa de golpe, sem dignidade e escrúpulo.
Todos sabem que a empreiteira Delta, até estourar o escândalo de Demóstenes Torres, era a principal executora das obras do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, menina dos olhos da presidente Dilma Rousseff.  Por que não investigar as ligações da Delta com as empresas de fachadas que irrigaram o esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira com milhões de recursos?
Diz o ditado e a sapiência popular: “Quem não deve não teme”.
A empreiteira Delta tinha bilhões de contratos com o governo, realizando obras de norte a sul do Brasil. Segundo o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), “as investigações indicam que Cachoeira é parte da organização criminosa e a cabeça do esquema é a empreiteira Delta”. Há fortes suspeitas, inclusive, de que Carlinhos Cachoeira seja sócio de Fernando Cavendish, principal acionista da Delta.
É esse mesmo Cavendish amigo íntimo do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), também blindado pela base do governo.
Por todas essas razões, temos que concordar com o que disse o senador Pedro Taques (PDT-MT), em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”: “Estamos jogando o lixo para debaixo do tapete e o lixo está fedendo”. Talvez, por isto, a decisão de encerrar a CPMI tenha se dado somente agora, depois do calor das urnas e na véspera de um feriado. Assim a repercussão é menor.
Fica aqui, no entanto, o consolo de que avançamos no âmbito do Judiciário, com o julgamento do MENSALÃO. Mas, quando a questão é política parece que estamos sempre fadados ao retrocesso.

6 comentários:

  1. Como é triste, além de vergonhosa, nossa situação política! É claro que muitos outros CURRAIS eleitorais pelo mundo apresentam as mesmas mazelas... mas, a oito anos acreditávamos, ao menos a maioria - incluo-me, estar fazendo história e mudando o rumo. Doce ilusão, amarga realidade: dolorida decepção. E agora resta somente uma tigela de desilusão e uma ou outra pitada de esperança para temperar esta pizza da democracia; afinal, esta não pode ir antes da alma.

    Sr. Wagner, mais uma vez, parabéns!

    Abração,
    Rodrigo Davel

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  2. Caro Rodrigo,
    Infelizmente a mudança é muito lenta. No Brasil o patrimonialismo continua prevalecendo sobre os interesses coletivos. Felizmente, ainda temos um país democrático e podemos mudar.

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  3. Wagner, esperança é a última que morre mas temos uma paródia de um ditado popular que tem sido uma realidade para os poucos que tentam persistir fiéis e confiantes aos princípios da ética e moral no senário político do nosso país: "água mole em pedra dura, tanto bate... até que acaba a água!".

    Forte abraço!

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    1. Caro Fábio,
      Concordo plenamente contigo:´"água mole em pedra dura tanto bate até que fura".
      Veja que a promotoria pública de São Paulo está em cima do caso de Celso Daniel. Se tivéssemos menos i´mpunidade já saberíamos com certeza quem são os mandantes.

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  4. A CPI já apurou tudo que tinha para apurar. Quem estava envolvido já foi desmascarado. Não adiantar ficar acusando ninguém sem provas.

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    1. É... Não estou acusando ninguém. Contra fatos não há como constestar. Em síntese: Só não vê quem não quer!

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