sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Histórias da academia

Breno é irmão mais moço de Bruno Garcshagen - o mais brilhante intelectual das últimas gerações de Cachoeiro de Itapemirim - e sobrinho do escritor Sérgio Garschagen, nosso expoente do jornalismo e professor universitário em Brasília. Também é sobrinho de Don Garschagen, outro ilustríssimo cachoeirense, dos mais reconhecidos tradutores brasileiros e editor-chefe da Enciclopédia Barsa do Brasil.
Então, para aqueles que não conhecem nossa história, vale dizer que Breno Garschagen vem de uma família de intelectuais dos que melhor expressam a cultura da cidade fora das nossas fronteiras.
Só que Breno, por impulso e teimosia, abdicou do caminho das letras em contraste com a família, optando pela educação física. Entretanto, ao fazer esta escolha, Breno não renunciou ao desejo de estar só, pensando, deixando que seu pensamento fluísse... Assim, a carreira de professor de educação física muitas vezes o irrita, pela relação contínua com pessoas e a impossibilidade de ficar sozinho.
Na academia “Movimento” na qual é sócio, além de avaliar os clientes, depois tem que monitorá-los e corrigi-los diariamente nos exercícios. Tem, ainda, que aguentar os chatos, os “reclamões” e os implicantes como este que lhe escreve que sempre estão a importunar suas idéias. No Colégio, onde leciona, tem as algazarras e perturbações das crianças e dos pré-adolescentes.
Porém, o ápice das irritações de Breno chega à época das festas juninas, quando é convocado a marcar quadrilha. Já nos ensaios ele começa a ouvir os alaridos da festa, a correria das crianças, a música alta e os rojões; começa a pensar na confusão de gente andando para lá e para cá, nos falatórios e nos tumultos das barraquinhas. É quando ele lamenta por ter na função o ensaio e marcação da quadrilha.  Aí tudo vira uma irritação pura!
Nesses momentos, Breno vai para a academia e malha sozinho, para amenizar o estresse e encarar o ensaio do outro dia. Mas, no dia oficial da apresentação da quadrilha a malhação é dobrada, tamanha a carga de adrenalina antecipada.
Na academia, como Breno também cuida da administração, esse estresse é rotineiramente aflorado. Certa vez, algum tempo após abastecer o bebedouro com copos descartáveis, gritei para testar o seu estresse: - Breno! Acabaram os copos! Ele, então, com a face corada e os braços levantados, deu umas balançadas nas mãos e no corpo, como que acertando os passos de alguma dança marroquina, e saiu esbravejando: - Não é possível seu Wagner!  Não houve um só que não desse uma boa risada!
Recentemente, porém, Breno tem dado os seus primeiros passos estressados na literatura. Para que nenhum leitor possa pensar que estou divagando, copio na íntegra um de seus ensaios: ATENÇÃO! Peço pelo amor de Deus e encarecidamente que não jogue papel de qualquer espécie no vaso sanitário, ou seja, na privada. Assinado: Direção executiva e judiciária da academia.
Em outro aviso ele diz: ATENÇÃO! Comunicamos aos alunos que devido ao feriado, fecharemos o estúdio na quinta-feira dia 23/06/2001 (sic) e retornaremos na segunda-feira dia, dia (sic) 27/06/2011, por motivos de forças ocultas. Obrigado: A direção executiva do estúdio, legislativa e judiciária.
Quiçá as mesmas forças ocultas que motivaram o alongamento do feriado (e que feriado!), venham fazer de Breno um novo intelectual da família. Mas que não venham torná-lo um estressado do legislativo ou do judiciário, porque senão, não valerá perdermos nosso personal na academia.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Caro Wagner,

    obrigado pela generosa e imerecida referência.

    Na verdade, o Breno é o verdadeiro intelectual da família, só que esconde essa sua condição numa rudeza wit bastante peculiar a uma certa elite inglesa.

    Abraços fraternos,
    Bruno Garschagen

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