sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Histórias da academia

Gueto fazendo alongamento
Chama-se Gleydson o aspirante a personal trainer da academia. Se eu não tivesse a curiosidade de perguntar-lhe o nome não o saberia, pois todos o conhecem por Gueto. Segundo ele, foi a irmãzinha quem começou a chamá-lo assim, quando crianças. Foi pegando... Acabou ficando.
Douglas, um dos sócios da academia, brincando com Gueto, disse-lhe que eu teria sido um excelente trapezista, nos idos da minha juventude. Então, no mesmo tom de brincadeira, respondi-lhe que sim, acrescentando que havia sido o primeiro trapezista no mundo a saltar de óculos, em resposta à pergunta de Gueto, que se mostrara curioso e interessado, esperando a confirmação.
Lógico que “o primeiro trapezista de óculos” era para mostrá-lo que tudo não passava de brincadeira. Porém, de vez em quando, Gueto chegava perto de mim, falando: - É seu Wagner, o senhor o primeiro trapezista de óculos... Até que um dia, vendo que ele estava levando a coisa muito a sério, para fazê-lo entender a brincadeira, emendei: - Também fui o primeiro motoqueiro no mundo a andar no globo da morte de óculos.
Só que mais uma vez, porque me mostrei sério, ele não entendeu a brincadeira. Então, passou a comentar com os amigos da faculdade do aluno de óculos que corria sete quilômetros em quarenta minutos; que tinha sido trapezista; que andava no globo da morte...
Por coincidência, a namorada de Gueto, Roberta, estudava com minha filha Fernanda em um cursinho preparatório. Ambos foram apresentados em uma festa pela Roberta. Gueto não perdeu tempo: - Fernanda, eu tenho uma admiração enorme por seu pai! O primeiro trapezista... O primeiro... Gueto fez que todos caíssem na risada.
Recentemente, com a ida de Dr. Luiz Daniel - nosso brilhante cirurgião cardíaco, que me deu um colorido novo com uma cirurgia há alguns anos – para a academia, Gueto perguntou-me se realmente ele operava recém-natos. Veio-me, então, a ideia de testá-lo, para ver se realmente estava esperto, haja vista que durante os alongamentos, Gueto sempre dizia que não cairia mais em uma nova história.
Expliquei que Dr. Daniel operava crianças com até um quilo, descrevendo-lhe os microvasos e artérias, o uso do microscópio e as dificuldades cirúrgicas. Disse-lhe, também, que Dr. Daniel era um craque em transplante, o que até aqui é pura verdade. Completei o relato explicando-lhe que o treinamento era feito em pequenos ratinhos, no laboratório; que transplantava o coração de um no outro, e vice e versa; que necessitava de bomba extracorpórea, etc.
Ele ficou simplesmente fascinado. Não teve jeito! Um dos ratinhos, para não decepcioná-lo, ganhou vida: o remédio para evitar a rejeição, ministrado em doses de décimos de miligramas; os cuidados meticulosos de enfermagem; as plataformas de exercícios; a alimentação balanceada... O outro havia morrido no décimo quarto dia.
A cada dia eu era obrigado a dar notícias do sobrevivente: melhorou... piorou... Falava-lhe dos cuidados da equipe, dos detalhes do laboratório e da assepsia. Até que o ratinho acabou morrendo no septuagésimo sétimo dia, por falta de não ter mais nada que acrescentar. O lado bom foi que o ratinho bateu o recorde de sobrevivência.
Gueto, então, tristonho, perguntou ao Dr. Daniel sobre a morte do ratinho, que lhe informou sobre a suspeição de ter faltado água para sua sobrevivência durante o feriado prolongado de sete de setembro, atribuindo a culpa ao descuido de seus tratadores.
Creio que Gueto deve ter ficado decepcionado, quando Dr. Odilon, cirurgião da equipe, contou-lhe que o causo era apenas uma brincadeira. Assim, acabamos perdendo a oportunidade de dizer-lhe que o ratinho tinha ressuscitado.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Histórias da academia

Breno é irmão mais moço de Bruno Garcshagen - o mais brilhante intelectual das últimas gerações de Cachoeiro de Itapemirim - e sobrinho do escritor Sérgio Garschagen, nosso expoente do jornalismo e professor universitário em Brasília. Também é sobrinho de Don Garschagen, outro ilustríssimo cachoeirense, dos mais reconhecidos tradutores brasileiros e editor-chefe da Enciclopédia Barsa do Brasil.
Então, para aqueles que não conhecem nossa história, vale dizer que Breno Garschagen vem de uma família de intelectuais dos que melhor expressam a cultura da cidade fora das nossas fronteiras.
Só que Breno, por impulso e teimosia, abdicou do caminho das letras em contraste com a família, optando pela educação física. Entretanto, ao fazer esta escolha, Breno não renunciou ao desejo de estar só, pensando, deixando que seu pensamento fluísse... Assim, a carreira de professor de educação física muitas vezes o irrita, pela relação contínua com pessoas e a impossibilidade de ficar sozinho.
Na academia “Movimento” na qual é sócio, além de avaliar os clientes, depois tem que monitorá-los e corrigi-los diariamente nos exercícios. Tem, ainda, que aguentar os chatos, os “reclamões” e os implicantes como este que lhe escreve que sempre estão a importunar suas idéias. No Colégio, onde leciona, tem as algazarras e perturbações das crianças e dos pré-adolescentes.
Porém, o ápice das irritações de Breno chega à época das festas juninas, quando é convocado a marcar quadrilha. Já nos ensaios ele começa a ouvir os alaridos da festa, a correria das crianças, a música alta e os rojões; começa a pensar na confusão de gente andando para lá e para cá, nos falatórios e nos tumultos das barraquinhas. É quando ele lamenta por ter na função o ensaio e marcação da quadrilha.  Aí tudo vira uma irritação pura!
Nesses momentos, Breno vai para a academia e malha sozinho, para amenizar o estresse e encarar o ensaio do outro dia. Mas, no dia oficial da apresentação da quadrilha a malhação é dobrada, tamanha a carga de adrenalina antecipada.
Na academia, como Breno também cuida da administração, esse estresse é rotineiramente aflorado. Certa vez, algum tempo após abastecer o bebedouro com copos descartáveis, gritei para testar o seu estresse: - Breno! Acabaram os copos! Ele, então, com a face corada e os braços levantados, deu umas balançadas nas mãos e no corpo, como que acertando os passos de alguma dança marroquina, e saiu esbravejando: - Não é possível seu Wagner!  Não houve um só que não desse uma boa risada!
Recentemente, porém, Breno tem dado os seus primeiros passos estressados na literatura. Para que nenhum leitor possa pensar que estou divagando, copio na íntegra um de seus ensaios: ATENÇÃO! Peço pelo amor de Deus e encarecidamente que não jogue papel de qualquer espécie no vaso sanitário, ou seja, na privada. Assinado: Direção executiva e judiciária da academia.
Em outro aviso ele diz: ATENÇÃO! Comunicamos aos alunos que devido ao feriado, fecharemos o estúdio na quinta-feira dia 23/06/2001 (sic) e retornaremos na segunda-feira dia, dia (sic) 27/06/2011, por motivos de forças ocultas. Obrigado: A direção executiva do estúdio, legislativa e judiciária.
Quiçá as mesmas forças ocultas que motivaram o alongamento do feriado (e que feriado!), venham fazer de Breno um novo intelectual da família. Mas que não venham torná-lo um estressado do legislativo ou do judiciário, porque senão, não valerá perdermos nosso personal na academia.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Indicação para uma mudança séria

De nada adiantou a pressão de lideranças petistas ligadas a José Dirceu, réu no MENSALÃO do PT, para que a presidente Dilma Rousseff indicasse um novo Dias Tofolli para o Supremo Tribunal Federal (STF). A presidente foi pontual, indicando o jurista catarinense Teori Zavascki, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), para ocupar a vaga deixada pelo ministro Cezar Peluso no STF, por aposentadoria compulsória.
Este é um gesto oportuno, que tranquiliza os brasileiros, pois demonstra que a presidente não dará continuidade ao ciclo de aparelhamento do STF, iniciado pelo ex-presidente Lula da Silva. As indicações da presidente vêm obedecendo aos pré -requisitos para o cargo. Teoti Zavascki, por exemplo, além de ministro do STJ, foi desembargador no Tribunal Regional Federal, em Porto Alegre; é professor de direito na Universidade de Brasília e escritor de assuntos jurídicos - um profissional com todos os méritos para o cargo.
Esta indicação é mais um ponto alto da presidente Dilma, por não se mostrar suscetível à pressão; por observar a importância daquela instituição. Nas nomeações anteriores, de Rosa Maria Weber e Luiz Fux, a presidente já havia seguido aos mesmos critérios.
Outro ponto alto da presidente foi a exoneração de sete ministros de Estado, herdados do governo de seu antecessor Lula da Silva, por suspeições escandalosas de corrupção, conforme fartas denúncias divulgadas pela imprensa. Entretanto, depois das demissões, os ex-ministros continuam impunes, sem prestar contas de seus atos à nação. É o preço que ora pagamos pela falta de oposição ao governo.
Nenhuma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi aberta para investigar as suspeições apontadas, porque o rolo compressor do governo no Congresso Nacional, não deixou que a oposição reunisse o número de assinaturas necessárias. Vale lembrar que os partidos de oposição têm uma base inferior a 18% do parlamento.
Por isto, a CPI mista que “investiga” a relação do contraventor Carlinhos Cachoeira com os políticos e empresários, deixará de fora qualquer investigação mais profunda das relações do governo federal e aliados com a Construtora Delta, maior empreiteira do PAC. Se essa CPI mista fizesse um trabalho sério, certamente teríamos um novo MENSALÃO           , multiplicado por muitos algarismos.
A pretensão da CPI mista do Carlinhos Cachoeira, aberta com o aval de Lula da Silva e da cúpula dos dirigentes petistas, era criar um fato para tentar apagar o MENSALÃO. Diante do insucesso, o foco da CPI passou a ser, quase que exclusivamente, o governador de Goiás, Marcondes Perillo, do PSDB.    
Diante de tanta dissimulação dos políticos e intensidade da corrupção em nosso país, é importantíssimo que o julgamento do MENSALÃO venha a contribuir com o aperfeiçoamento das nossas instituições, mostrando a todos que as mazelas praticadas pelos políticos, não mais ficarão impunes. Nesse contexto, o julgamento do MENSALÃO passa a ser o de maior importância na história do nosso país.
Portanto é imprescindível que tenhamos indicações responsáveis, tal qual a de Zavascki para o STF, para que nossas instituições sejam cada vez mais acreditadas.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Não há poder que dure para sempre


Classificado pela Procuradoria Geral da República (PGR) como “o maior escândalo de corrupção da história política do Brasil”, o MENSALÃO do PT é um fato inquestionável. O julgamento ora em curso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é apenas a ratificação disto, haja vista que o conjunto de provas juntadas pela PGR e pela Comissão Parlamentar de Inquéritos (CPI), que apurou o caso, é absolutamente consistente e robusto.
A apelação do ex-presidente Lula da Silva, no afã de limpar a imagem de seu governo para a história, e a insistência da cúpula do PT de que “o MENSALÃO não existiu”, que foi uma “farsa” da oposição e da imprensa, com o tempo vai sendo desmistificada. Certamente a verdade prevalecerá!
Lamentável é que o PT, na tentativa de apagar o MENSALÃO, através de sua cúpula partidária, sem a exclusão do ex-presidente Lula da Silva, tenha usado de métodos tão baixos para influir no processo. Não foram poucas as mentiras, calúnias e difamações atiradas no intuito de silenciar as instituições mais nobres da República. A fúria petista contra Renato Gurgel, Procurador Geral da República, é um bom exemplo disto.
Contudo, não bastaram a esses dirigentes os insucessos de tão ardilosas ofensivas. Agora o presidente da legenda, Rui Falcão, vem em público dizer que a condenação do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) pelo STF é mais um golpe da oposição “conservadora, suja e reacionária”.
Rui Falcão também não deixa de atacar a mídia e o Judiciário, ameaçando a todos para que “não mexam com o PT, porque quando é provocado ele cresce e reage”. Acusou ainda o STF de estar a serviço da oposição, em um jogo baixo de atacar, para se defender.
Assim, mais uma vez a atitude de Falcão chega bem próximo da irresponsabilidade e do ridículo - esse é um argumento que só se presta para alimentar os seus pares raivosos e inconseqüentes, pois não ecoa nas pessoas esclarecidas. Primeiro, porque o STF está a serviço da nação brasileira, e não do partido que ora ocupa o poder no Planalto; segundo, porque há ainda muitos brasileiros informados, que zelam pelo estado de direito e pela democracia.
A maioria do povo brasileiro também não deseja uma ditadura; nem um país com um partido único, sem oposição e sem liberdade de imprensa. Não queremos, em hipótese alguma, pessoas e justiça amordaçadas, nos moldes como deseja e se expressa Rui Falcão.
Não podemos nos esquecer que é graças à oposição que o MENSALÃO do PT chegou ao STF; que é pela imprensa livre que sete ministros de Estado tiveram que ser demitidos pela presidente Dilma Rousseff, por graves suspeitas de corrupção; que é pela democracia que temos ainda liberdade de pensamento e de expressão.
Em momento nenhum Rui Falcão reclama do andamento da CPMI que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira com os políticos e empresários; nem solicita a seus companheiros para que façam um trabalho com desvelo e celeridade. O problema é que Rui Falcão não tem compromisso com os valores mais nobres, que deveriam nortear nossa política e andam esquecidos pelos atuais dirigentes.
Mas, com o tempo, o próprio povo aprende a enxergar seus dirigentes e resolve dar a resposta nas urnas. A história mostra que não há poder que dure para sempre.