É na segunda metade do século XVIII, quando o pensamento iluminista pulsa intensamente no círculo da intelectualidade européia, que toma corpo na Grã-Bretanha o movimento antiescravista. O marco histórico é 1787, quando o abolicionista Thomas Clarkson tem o apoio do jovem William Wilberforce para liderar a causa no Parlamento; no mesmo ano é constituído em Londres um Comitê para a Abolição do Tráfico de Escravos.
O comércio de escravos era uma atividade das mais vigorosas e lucrativas. Somente no século XVIII, comerciantes ingleses despejaram nas colônias britânicas da América cerca de 3 milhões de africanos. Diante da força do comércio e da cultura escravista, a resistência foi de tal ordem que somente em 1807 o tráfico é extinto, após progressivas batalhas no parlamento. A abolição mesmo só aconteceria em 1833, depois de muitas leis protelatórias.
Para a consecução do fim do tráfico e do escravismo, seus articuladores fizeram propagar em todo território britânico a situação desumana e o sofrimento impostos aos cativos. Pela solidariedade, passam a condenar as leis que sustentavam o sistema e que reduziam o homem à condição de coisa, unindo ingleses, escoceses, galeses e irlandeses.
Várias ações são então organizadas: boicotes ao consumo de mercadorias produzidas com mão de obra escrava; confecção e distribuição de panfletos antiescravistas; propagandas em jornais; pressão sistemática junto às autoridades - uma mobilização inédita, que envolveu as igrejas e conquistou a opinião e o apoio públicos.
Proibido internamente, o fim do comércio escravista passa a ser uma política de Estado, fundamentada em fins humanitários. A diplomacia britânica inicia, nestes moldes, um período de pressão sobre outras nações para a extinção do tráfico em seus territórios, entre elas Portugal. Contudo, essa pressão guarda em seu bojo muitos fins econômicos.
Para sustentar essa pressão, a Inglaterra – maior potência da época - vale-se do poderio bélico da sua frota, como apoio tácito de seu corpo diplomático, que passa a ser mais impositivo e aguerrido na defesa dos interesses “humanitários”.
Quando o Brasil declara a independência de Portugal (1822) recebe como herança a dependência dos produtos e da “proteção” inglesas - o Brasil era terceiro melhor mercado dos ingleses. No entanto, a Inglaterra não deixa de pressionar o Brasil pela extinção do tráfico, enquanto mediava com Portugal o reconhecimento da nossa independência.
Essa pressão ocorre, sobretudo, devido ao aumento nos preços do açúcar produzido nas ilhas britânicas das Antilhas – organizada em plantations -, após o fim do tráfico de africanos pela Grã-Bretanha, o que tornou o açúcar produzido no Brasil e em Cuba com mão de obra escrava, mais competitivo no mercado internacional.
O reconhecimento da nossa independência por Portugal se dá em 1825. Um ano depois, embora gestões da diplomacia brasileira para ganhar tempo, o Brasil é pressionado a firmar tratado para a extinção do trafico de escravos com a Grã-Bretanha, que passa vigorar em 1830. Porém, esse tratado e todos os outros firmados posteriormente só foram cumpridos em 1855, quando o Brasil finalmente encerra a importação escravista.
Por contraditório, o Brasil se liberta de Portugal, mas fica submisso à pressão da Grã-Bretanha; mantém assim um sistema atrasado e desumano, em troca da liberdade. E nem tudo se finda em 13 de maio de 1888, quando a princesa Isabel proclama o fim da escravidão no Brasil.
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