O ex-presidente da República, e atual presidente do Senado Federal, José Sarney há algum tempo vem trabalhando para limpar a sua imagem em uma nova biografia. Não é à toa que não tem deixado sem resposta, dizendo-se sempre “injustiçado”, todas as críticas e reportagens, quando não lhes são favoráveis.
Recentemente, vimos o vocalista da banda Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, durante o “Rock in Rio”, protestar contra a censura imposta pela justiça ao jornal “O Estado de São Paulo”, por ação do filho de Sarney, Fernando Sarney, quando flagrado pela Polícia Federal na operação Boi Barrica, desviando recursos públicos de obras do Governo Federal.
Prontamente, Sarney lançou nota dizendo-se injustiçado e “que se tivesse sido consultado pelo advogado não teria aceito” a ação contra o jornal. Mas o fato é que “O Estadão” foi censurado e impedido de veicular qualquer reportagem sobre as falcatruas do Fernando, bem como de divulgar as ligações telefônicas entre o pai e o filho. E Sarney não moveu nada para mudar tudo isto!
Não é de hoje que a família Sarney fica em evidência por suspeições em corrupção. Lembro que Roseane Sarney teve a candidatura a presidente da República inviabilizada, depois que a Polícia Federal flagrou em seu escritório montanhas de reais de empreiteiros, vivinhos, quando no governo do Maranhão.
Foi inclusive por este episódio, que Sarney rompeu com o governo de FHC e aderiu à candidatura de Lula da Silva à presidência da República, criticando duramente a ação da Polícia Federal.
Nosso ex-presidente sempre tem uma defesa para os atos suspeitos, sejam dos amigos ou da família. Vê-se, pelos seus atos, no entanto, que em sua vida pública e na de seu clã, não há exemplos de dignidade. Por isto Sarney não é nenhum arauto da liberdade, da ética, da cultura e das artes, como tenta impor; também não é “um dos políticos mais censurados da história da República”, como diz ser.
Pelo contrário, Sarney sempre esteve do lado do poder, independente de qualquer princípio ideológico. Na época da ditadura militar foi um dos principais defensores daquele “governo” de exceções; só pulou fora do barco quando viu que a abertura política do Brasil, por pura pressão da sociedade, era irremediável, sem retorno.
Na realidade, José Sarney se projetou na política graças aos militares, que o indicaram para o governo do Maranhão (1966 a 1971). Também, enriqueceu na política, formando um verdadeiro império da comunicação no seu estado. E ganhou poder com a política, como poucos, sempre agindo nos bastidores em benefício próprio e dos seus apadrinhados.
É por esta razão, que um grupo de promotores do Ministério Público Federal ora estuda como recorrer da decisão do Superior Tribunal Federal (STF), que anulou as provas contra o clã do Sarney, na operação Boi Barrica. Pela decisão, o STF atropelou seu próprio regimento, anulando provas autorizadas pela justiça. Logicamente, pela força da influência e poder de José Sarney.
Há pouco tempo vimos o ex-presidente Lula da Silva dizer que Sarney é “injustiçado”; que “Sarney não pode ser visto como um cidadão comum”. Então, pelos exemplos de nepotismo, pelos atos secretos do Senado e por todo mal que ele causa, acho que Dinho Ouro Preto prestou um serviço melhor ao Brasil, ao falar de Sarney e reclamar da censura diante de milhares de pessoas, no “Rock in Rio”.
Particularmente, prefiro a crítica de um artista à defesa de “Honoráveis Bandidos” – livro do jornalista Palmério Dória que relata a trajetória de José Sarney – haja vista que ela é sempre mais sincera e verdadeira.
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