O candidato petista, Fernando Haddad (PT-SP),
agora pousa de democrata como se fosse o exclusivo guardião da democracia.
Porém, no primeiro turno, não foram poucas as vezes em que o candidato defendeu
publicamente o controle social da mídia (censura) - uma das bandeiras mais
frenéticas do PT – e o projeto de controle ideológico dos órgãos da Justiça e das
instituições desafetos. O modelo é inspirado na república bolivariana (que o
leitor permita-me iniciar por minúsculas) da Venezuela, que levou aquele país a
maior crise da história, com centenas de mortos e o mesmo tanto de presos
políticos.
Não à toa, o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso (PSDB-SP) e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim
Barbosa (PSB-DF), tal como muitos outros democratas, se negaram a compor a
chamada “Frente Democrática”, conforme pretensão do PT para enfrentar o
candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ). O principal motivo é que o PT sempre tratou com
insolência seus opostos, assim como jamais aceitou qualquer opinião divergente.
E quem tem personalidade, quando vilipendiado não esquece a humilhação de seus
algozes.
Durante os treze anos em que o PT governou o
Brasil, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, embora tenha legado ao seu
sucessor - o ex-presidente Lula da Silva (PT-SP) - um país muito melhor
estruturado e organizado, sempre foi tratado como inimigo pelos petistas. Daí
que tenha se sentido preterido por nunca ter sido convidado a participar de
solenidades alguma no Planalto, como ex-presidente da República, não obstante
ter realizado uma sucessão do mais alto nível, com total transparência, como em
nenhum outro momento de nossa história.
Mesmo assim, o governo de Fernando Henrique
Cardoso foi impiedosamente massacrado como “herança maldita”, de forma a
desacreditá-lo ante a opinião pública. Outra crueldade foi a criação de um
falso dossiê sobre os cartões coorporativos, na tentativa de incriminar a ex
primeira dama, D. Ruth Cardoso, que, aliás, foi quem introduziu no país o programa
Comunidade Solidária, precursor do Bolsa Família. Por “coincidência”, era a
ex-presidente Dilma Rousseff (PT-MG) a ministra-chefe da Casa Civil na ocasião
em que forjaram essa trama.
Já o ministro Joaquim Barbosa, que presidia o
STF por ocasião do MENSALÃO (2012-2014), sofreu os mais pesados impropérios,
bem similares aos lançados atualmente contra o Juiz Sérgio Mouro, pela firme atuação
no PETROLÃO. É fato, portanto, que o PT faz de cada um de seus desafetos o pior
inimigo, principalmente quando flagrado em malfeitos.
O último exemplo é o de Ciro Gomes, que após
anos de convivência com a trupe petista viu ruir nesta eleição a possibilidade
de se coligar com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), por intervenção direta
do cacique que se encontra preso na Polícia Federal de Curitiba. Desta forma,
Ciro Gomes sentiu na pele a destruição de seu projeto político e acabou
sozinho. Então, no segundo turno, preferiu viajar para a Europa a continuar na
campanha política de maneira intensiva.
Contundentemente, o PT só aceita a sua
hegemonia. Quando ameaçado, infla-se de ódio por falta de grandeza para aceitar
opiniões divergentes. Democracia para o PT é simplesmente
um instrumento para a tomada do poder, da forma como tão bem descreveu recentemente
o ex-ministro José Dirceu (PT-SP), em entrevista ao jornal “El País”. Por isto,
não dá para acreditar no discurso de Fernando Haddad, pois seu partido jamais
foi guardião da nossa democracia.