Foi acachapante a goleada sofrida por nossa seleção na última
terça-feira no Mineirão. A derrota já parecia anunciada desde a primeira fase,
como na partida contra o México. Nas oitavas, conseguimos passar pelo Chile no
apagar das luzes. Depois o choro e a instabilidade emocional da equipe deram
mostras de que algo não andava bem. Talvez o peso da Copa no Brasil e uma
ansiedade exacerbada pela “obrigação” de vencer. Ou mesmo alguma deficiência na
preparação, devido à escassez de tempo.
Contra a Colômbia, nas quartas de final, a equipe melhorou
muito pouco. Mesmo assim, ninguém da comissão técnica falou de problemas. A
questão do momento passou a ser a entrada de Zuñiga sobre Neymar. Ninguém, nem
mesmo a imprensa, falou de outra coisa! Enquanto isto, a Alemanha ia se
preparando, estudando nossos defeitos, equilibrando ainda mais seu brilhante
futebol de equipe.
Do nosso lado, sobressaia-se a impressão que os jogadores já
esperavam a entrega do título, trancados na Granja Comary. Então, quando
apareceram na entrada do campo do Mineirão, cada um deles parecia assustado,
como se naquele momento caísse na realidade. Deu no que deu! A Alemanha dando
um show de bola, mostrando um futebol objetivo e moderno, com tática. Só nos
restou a saída humilha. Enfim, a pior derrota entre todas na história das Copas
do Mundo em nosso próprio país!
Claro que a derrota não tira o brilho da Copa do Mundo no
Brasil. Temos que destacar o espetáculo dos estádios lotados, da qualidade das
partidas jogadas e da hospitalidade do nosso povo, que soube receber de forma
altiva os visitantes. Também devemos nos orgulhar pelo trabalho da nossa
polícia, tanto na questão da venda de ingressos por cambistas - que inclusive
chegou a um alto executivo da empresa Match, parceira da FIFA - como por sufocar
a mobilização inicial dos baderneiros nas ruas.
Pena é que a segurança destes dias, nem a rapidez e eficácia
das investigações contra os cambistas se repitam no cotidiano de nossas
cidades. Se assim fosse, diminuiria a violência e a corrupção, que se tornaram
pragas em nossa vida social e política.
Todavia, o que foi positivo na Copa do Mundo não apaga os
erros, que não foram poucos na etapa de preparação, a começar pelo cumprimento
dos cadernos de encargos. Não vamos nem falar da questão da desoneração fiscal
concedida à FIFA.
Nesta questão, o chamado legado, que incluía as obras de
infraestrutura para aparelhar as cidades sedes (modernização dos aeroportos e
portos, melhoria dos sistemas de transportes públicos e do acesso às arenas
esportivas, etc...) mais da metade não foi concluída. Outras tiveram de ser
canceladas. Das obras entregues, muitas ainda estão incompletas, como é o caso
dos aeroportos com instalações provisórias e os “puxadinhos”. Todo brasileiro
que viaja sabe disso, além de vivenciar os problemas.
Também não se pode apagar da memória os dez operários mortos
na construção dos estádios, pela forma apressada e atabalhoada para a conclusão
das obras. O próprio Itaquerão, palco da primeira partida, encontra-se ainda
inacabado.
Para completar, na última semana vimos a queda de um viaduto
em Belo Horizonte, que também era obra de mobilidade inacabada da Copa. Lá
ficaram as vidas da motorista Hanna Cristina, de apenas 24anos, deixando uma
filha com um ano, e de Charles Frederico, que buscava a esposa no trabalho,
além de dezenas de vítimas.
Em suma, a derrota humilhante para a Alemanha mostrou de
forma patente que o futebol brasileiro precisa ser repensado. De igual forma, o
Brasil também necessita com urgência de mudanças, tamanha é a soma de problemas
que se acumula nos últimos anos.
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