sexta-feira, 25 de julho de 2014

Nadando contra a correnteza

A última pesquisa de intenção de votos encomendada pela TV Globo e o jornal “O Estado de São Paulo” ao Ibope, confirmou mais uma vez, de forma inequívoca, que a Copa do Mundo não influenciou em nada na expectativa de voto dos brasileiros, considerando as próximas eleições presidenciais. Pesquisa anterior realizada pelo Instituto Sensus, para a revista “ISTO É”, logo após a derrota do Brasil para a Alemanha, já apontava a tendência nessa direção.

Segundo os cientistas políticos, a variável que mais influencia a população é a expectativa da condição financeira. Ou seja, se a pessoa tem a percepção de que melhorou de vida, pelo consumo maior de bens e serviço, e de que é melhor a perspectiva de emprego e segurança, ela tende fortemente a ser conservadora e apoiar a continuidade do governo. Em suma, o indivíduo, em particular, não quer correr o risco da perda.

Isto justificaria a eleição de Fernando Henrique Cardoso em sucessão ao ex-presidente Itamar Franco, após a implantação do Plano Real, como também a sua reeleição, por manter a estabilidade econômica e instituir uma política de recuperação e de aumento real do salário mínimo. Quanto ao governo de Lula da Silva, observa-se que a sua primeira vitória ocorreu em um período de crise, enquanto a reeleição é atribuída à continuidade e ao aprimoramento das políticas sociais desenvolvidas no governo anterior.

Outro ponto importante é que o governo de Lula da Silva foi beneficiado pelo crescimento do mundo, sobretudo da China. Em pouco tempo os preços das nossas commodities agrícolas e minerais se multiplicaram. Assim, “como nunca antes na história deste país”, nossas exportações aumentaram em valor, (não proporcionais à quantidade), que refletiram favoravelmente no resultado da balança comercial e na acumulação das reservas cambiais do Brasil.

A considerar o resultado das últimas pesquisas qualitativas e as explicações dos cientistas políticos, não obstante a criação de considerável quantidade de emprego nos três primeiros anos do governo, a presidente Dilma Rousseff encontrará grandes dificuldades para a sua reeleição, por uma série de motivos alinhados as atividades econômicas.

O principal deles é o que mede a expectativa do indivíduo quanto ao seu poder de compra e o das pessoas que vivem em seu entorno. Há quatro anos as pesquisas do Ibope apontavam que 72% dos brasileiros achavam que a situação havia melhorado, enquanto atualmente este indicador é de 42%, com tendência de queda. Quanto à oportunidade de emprego, em 2010 a percentagem das pessoas que achavam que a situação iria melhorar era de 56%, enquanto agora é de 36%.

As mesmas pesquisas apontam para uma queda considerável na avaliação dos serviços públicos, no mesmo período. Na saúde pública 37% da população achavam que os serviços estavam melhorando, contra atuais 16%; na segurança pública 30% aprovavam, contra atuais 18%; na educação só um entre cada quatro brasileiros atualmente acha a qualidade irá melhorar.

O ponto mais crítico, no entanto, é a avaliação do governo de Dilma Rousseff, com 33% da população considerando o governo como ruim ou péssimo. Temos ainda como fatores desfavoráveis a perspectiva de crescimento econômico abaixo de 1% e a sensação de carestia, dada pela alta da inflação.


Entretanto, uma coisa é certa. O governo tem a máquina e o dinheiro público na mão e não medirá escrúpulo se for para ganhar as eleições.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Balanço final

Foi acachapante a goleada sofrida por nossa seleção na última terça-feira no Mineirão. A derrota já parecia anunciada desde a primeira fase, como na partida contra o México. Nas oitavas, conseguimos passar pelo Chile no apagar das luzes. Depois o choro e a instabilidade emocional da equipe deram mostras de que algo não andava bem. Talvez o peso da Copa no Brasil e uma ansiedade exacerbada pela “obrigação” de vencer. Ou mesmo alguma deficiência na preparação, devido à escassez de tempo.

Contra a Colômbia, nas quartas de final, a equipe melhorou muito pouco. Mesmo assim, ninguém da comissão técnica falou de problemas. A questão do momento passou a ser a entrada de Zuñiga sobre Neymar. Ninguém, nem mesmo a imprensa, falou de outra coisa! Enquanto isto, a Alemanha ia se preparando, estudando nossos defeitos, equilibrando ainda mais seu brilhante futebol de equipe.

Do nosso lado, sobressaia-se a impressão que os jogadores já esperavam a entrega do título, trancados na Granja Comary. Então, quando apareceram na entrada do campo do Mineirão, cada um deles parecia assustado, como se naquele momento caísse na realidade. Deu no que deu! A Alemanha dando um show de bola, mostrando um futebol objetivo e moderno, com tática. Só nos restou a saída humilha. Enfim, a pior derrota entre todas na história das Copas do Mundo em nosso próprio país!

Claro que a derrota não tira o brilho da Copa do Mundo no Brasil. Temos que destacar o espetáculo dos estádios lotados, da qualidade das partidas jogadas e da hospitalidade do nosso povo, que soube receber de forma altiva os visitantes. Também devemos nos orgulhar pelo trabalho da nossa polícia, tanto na questão da venda de ingressos por cambistas - que inclusive chegou a um alto executivo da empresa Match, parceira da FIFA - como por sufocar a mobilização inicial dos baderneiros nas ruas.

Pena é que a segurança destes dias, nem a rapidez e eficácia das investigações contra os cambistas se repitam no cotidiano de nossas cidades. Se assim fosse, diminuiria a violência e a corrupção, que se tornaram pragas em nossa vida social e política.

Todavia, o que foi positivo na Copa do Mundo não apaga os erros, que não foram poucos na etapa de preparação, a começar pelo cumprimento dos cadernos de encargos. Não vamos nem falar da questão da desoneração fiscal concedida à FIFA.

Nesta questão, o chamado legado, que incluía as obras de infraestrutura para aparelhar as cidades sedes (modernização dos aeroportos e portos, melhoria dos sistemas de transportes públicos e do acesso às arenas esportivas, etc...) mais da metade não foi concluída. Outras tiveram de ser canceladas. Das obras entregues, muitas ainda estão incompletas, como é o caso dos aeroportos com instalações provisórias e os “puxadinhos”. Todo brasileiro que viaja sabe disso, além de vivenciar os problemas.

Também não se pode apagar da memória os dez operários mortos na construção dos estádios, pela forma apressada e atabalhoada para a conclusão das obras. O próprio Itaquerão, palco da primeira partida, encontra-se ainda inacabado.

Para completar, na última semana vimos a queda de um viaduto em Belo Horizonte, que também era obra de mobilidade inacabada da Copa. Lá ficaram as vidas da motorista Hanna Cristina, de apenas 24anos, deixando uma filha com um ano, e de Charles Frederico, que buscava a esposa no trabalho, além de dezenas de vítimas.


Em suma, a derrota humilhante para a Alemanha mostrou de forma patente que o futebol brasileiro precisa ser repensado. De igual forma, o Brasil também necessita com urgência de mudanças, tamanha é a soma de problemas que se acumula nos últimos anos.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Bem e com credibilidade a Colômbia dá um show bola e segue avançando

Hoje, dia 4 de julho, começam os jogos das quartas de final da Copa do Mundo. Logo mais, às 17 horas, nossa seleção comandada por Felipão enfrentará a dura Colômbia na Arena Castelão, em Fortaleza. Até aqui a Colômbia vem fazendo a melhor campanha entre as 32 seleções que entraram na disputa da Copa. Tem cem por cento de aproveitamento e o artilheiro da competição: James Rodriguez. Dá para sentir a pedreira e a tensão que encontraremos pela frente.

Além do bom futebol, a Colômbia tem dado um show de bola em seu modelo de gestão pública, desde o governo de Álvaro Uribe (2002-2010). Neste ano o Produto Interno Bruto (PIB) colombiano ultrapassará ao da Argentina, depois superar ao da Venezuela, o que elevará nosso vizinho do norte à segunda economia entre os países da América do Sul, ou à terceira da América Latina, só perdendo para Brasil e o México.

A população da Colômbia é de quase 48 milhões de habitantes – 29ª do mundo, segunda da América do Sul e terceira da América Latina (AL). Como o PIB, a população da Colômbia só é menor do que a do Brasil e do México, na AL. A densidade populacional é de 42 habitantes por quilômetro quadrado, enquanto no Brasil é de 23,5 habitantes.

Nos últimos anos, a média do crescimento do PIB colombiano é bem próxima de 5%. Para este ano a previsão é de crescimento de 5,3%, enquanto no Brasil o mercado aponta para uma previsão de apenas 1,3% (desde a proclamação da República, em 1889, o governo de Dilma Rousseff só cresceu mais que os de Floriano Peixoto, durante a República Velha, e de Collor de Mello).

O sucesso da Colômbia deve-se a uma política econômica moderna e responsável, com disciplina monetária e fiscal. Daí uma inflação controlada, inferior a 2,5% ao ano, baixas taxas de juros pelo controle das dívidas interna e externa e dos gastos públicos. Isto tem permitido atrair novos investimentos e modernizar a infraestrutura do país, além de viabilizar a melhoria continuada de setores essenciais, tais como os da saúde e da educação.

Os avanços da política econômica em base estruturada (sem política heterodoxa e controle do câmbio), permitiram também à Colômbia estabelecer acordos de livre comércio com o Chile, Canadá, Estados Unidos e Peru, e conquistar novos mercados pela melhoria da produtividade da produção agrícola e industrial.

Outro avanço importante foi a redução da criminalidade. Em um período de apenas 10 anos a taxa de homicídios foi reduzida a menos da metade, com enfrentamento ao narcotráfico e à guerrilha, promovidos pela Forças Armadas Revolucionárias (FARC). Há 50 anos a FARC luta para enfraquecer e tomar o governo, no mais duradouro conflito de nosso continente. Mas, nos últimos anos essa rebelião da esquerda vem ficando cada vez mais isolada.

Os principais parceiros do Mercosul – Argentina, Brasil e Venezuela –, ao contrário da Colômbia, priorizam a ineficiência do Estado com suas políticas econômicas heterodoxas e gestões populistas. Por isto, esses países vão cultivando o déficit crescente, a inflação ascendente e a estagnação do futuro, o que certamente comprometerá a qualidade de vida das gerações futuras.


Então, só nos resta torcer para que nossos irmãos colombianos continuem avançando em seus indicadores econômicos e sociais, mas que no futebol hoje eles tropecem frente a nossa Seleção Brasileira, para que possamos continuar rumo ao hexa.