sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Ninguém está além do bem e do mal


Entre os pilares que sustentam a democracia estão a liberdade de expressão, a proteção aos direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias e a oportunidade de cada indivíduo se organizar e participar da vida econômica, política e cultural da sua nação. A democracia é um sistema plural, nunca intolerante, pois esta “é em si uma forma de violência e um obstáculo ao desenvolvimento do espírito democrático”, da forma como bem disse Mahatma Gandhi.

Todo sistema autoritário, seja ele de direita ou de esquerda, é por si próprio intolerante. A história da humanidade até hoje não nos deu exemplo da compatibilidade do autoritarismo com a Democracia. Não precisamos ir longe, basta um breve retrospecto à Europa do século passado e observar as tragédias do fascismo e do comunismo. Ambos os sistemas, entretanto, preconizavam em seus ideários mudanças profundas na organização da sociedade, ditas "para o bem da humanidade”.

Os sistemas autoritários se sustentam na coerção da liberdade de pensamento e na manipulação da opinião pública, em moldes iguais ou similares aos usados na Alemanha nazista por Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler. São convicções ditadas como verdades absolutas. Aqueles que não as aceitam são invariavelmente alijados e tratados como inimigos.

O objetivo é a hegemonia do poder, independente das circunstâncias. Mais perto de nós temos os exemplos do “socialismo bolivariano”, ou “socialismo do século XXI”, implantado por Hugo Chávez na Venezuela. Temos também os modelos análogos que ora vigem na Argentina, Equador e Bolívia. Não vamos entrar no mérito da ditadura comunista cubana.

Todos estes países na última década criaram seus mitos, ou líderes populistas, e aqui incluímos o Brasil, porque estes líderes populistas jamais poderão ser assemelhados aos verdadeiros estadistas, pela própria intolerância que carregam no bojo de suas ideias.

Vale aqui uma indagação: Qual das lideranças sul americanas poderá ser comparado a um estadista do porte de Nelson Mandela? Mandela é o símbolo da união entre os povos contra o apartheid, pois promoveu a igualdade entre os negros e os brancos, bem como a tolerância entre as classes sociais de seu país. Neste sentido, disseminou a união da sociedade sul africana, em detrimento do ódio que imperava.

Outro feito que diferencia Nelson Mandela como estadista é o fato de ter exercido o mandato de presidente de seu país, sem a intenção de se perpetuar no cargo. Pelo contrário, fez questão de promover eleições livres, sem impor a seus patriotas os seus sucessores.

O verdadeiro estadista não promove a política fisiológica, o sectarismo e o oportunismo, nem vislumbra a manutenção do poder a qualquer preço, pelo próprio espírito democrático do qual se referiu Mahatma Gandhi.

Infelizmente, aqui na América do Sul não temos na atual safra de líderes um estadista, ou líder com este espírito nobre. Por esta razão, são raríssimos os momentos altos da nossa política, tal qual a afirmação da presidente Dilma Rousseff, no ano passado, que prefere “o barulho da imprensa livre ao silêncio da ditadura”. O próprio partido do governo, o PT - principalmente as alas mais radicais -, por contraditórios, têm dado exemplos inequívocos e notórios de intolerância e desrespeito ao Estado de Direito e à Democracia.

Não são poucos os ataques à imprensa independente, à oposição democrática e às instituições Republicanas do país, que deveriam ser respeitadas, tais como o Supremo Tribunal Federal, e seu emérito presidente, o ministro Joaquim Barbosa.

Mas, não percamos a esperança de acreditar na Democracia, pois só assim poderemos continuar lutando por um país melhor e mais justo, com menor espaço para a intolerância dos ditadores.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Como ficará o Brasil dos grandes eventos?


No último mês de junho, em plena Copa das Confederações, o Brasil expôs ao mundo a anarquia de vândalos mascarados, batizados com o nome de Black-blokcs, enfrentando a polícia em quebra-quebras nas principais cidades do país. As manifestações pacíficas e ordeiras, legitimadas pelo clamor popular de melhoria dos serviços públicos e de melhor utilização dos recursos, acabaram em segundo plano e aos poucos foram sumindo, minguando.

Agora, ao final do Campeonato Brasileiro, na partida de futebol entre o Atlético Paranaense e o Vasco da Gama, na cidade catarinense de Joinville, voltamos a mostrar em todo planeta cenas deprimentes de agressão. Dezenas de “torcedores” de um lado e do outro, em pleno pé guerra se esbofeteando - uma agressividade desumana. Três deles acabaram em coma, após espancados de forma covarde e brutal, sem o mínimo de piedade.

Há poucos dias os principais sites e jornais do mundo já haviam destacado o insucesso no lançamento da última peça de sustentação da cobertura do Itaquerão, em São Paulo, palco da abertura da Copa do Mundo. Não foram poucas as críticas da imprensa internacional, inclusive questionando a preparação do Brasil para a realização de grandes eventos.

Ainda no último mês de julho, durante a 38ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ), com a presença do Papa Francisco, vários eventos tiveram que ser transferidos do local programado - montado em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro -, para a praia de Copacabana. A lama formada pelas chuvas inviabilizara a utilização do local, feito com terra batida e sem sistema de drenagem. Mais uma obra acabada às pressas, sem o planejamento adequado.

Outros fatos recentes também ganharam as manchetes do mundo. Lembremos do último arrastão na praia de Ipanema; do estupro da turista americana dentro de um Van; dos bandidos em bando fugindo da polícia no complexo do Alemão, entre tantos outros eventos, que têm marcado nosso país pela criminalidade e violência.

Para a Copa do Mundo temos a certeza de que todos os estádios estarão prontos. Não cabe questionarmos agora, em prol do sucesso, se este ou aquele será subutilizado no futuro. Por lamentável, basta a certeza de que grande parte das obras de infraestrutura não será entregue a tempo, conforme compromisso firmado em cadernos de encargos. Muitas obras inclusive já foram canceladas.

Diante deste Brasil real, bem diferente do Brasil colorido e rico como nos querem fazer crer os nossos políticos, resta-nos correr contra o tempo para organizar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Temos, pelos menos, que minimizar os possíveis problemas, principalmente com relação à segurança pública, que talvez venha a ser o de maior risco.

Várias manifestações, prematuramente, estão sendo anunciadas. Até mesmo o grupo da minoria LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros). Mal sorteado o local dos jogos, já programou a realização de protestos, contra os países que não têm a mesma cultura permissiva que o Brasil. Lembremos apenas que nossa política externa sempre foi orientada pela alta determinação dos povos.

Em vez de protesto, deveríamos estar preocupados em mostrar o que temos de melhor ao mundo. Só assim recuperaremos no futuro a elevada soma de recursos que ora estão sendo gastos. Nesta altura, não adianta mais pensar que estes recursos deveriam ser aplicados em educação, saúde ou em qualquer outra área prioritária. O que já foi feito não tem retrocesso!

Cabe agora às autoridades o dever de esclarecer aos brasileiros a importância destes eventos, para consolidar uma imagem mais positiva do nosso país. Se tal fato não acontecer em tempo apropriado, no futuro poderemos lamentar por mais estas oportunidades perdidas.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Compromisso com o futuro?


A Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou na última terça-feira o resultado do exame do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), relativo ao ano de 2012. O PISA é realizado a cada três anos, e consiste na aplicação de provas que avaliam a capacidade de interpretação da leitura e conhecimentos de matemática e ciências, para os alunos com idade de 15 anos.

Nesta edição o Brasil ficou na 58ª posição, entre 65 países analisados. Na anterior, realizada em 2009, ocupávamos a 53ª posição, comparando o mesmo conjunto de países. Mesmo assim, o Brasil avançou um ponto, resultante da melhoria na avaliação de Matemática, cuja nota saltou de 389 para 391 pontos. Em Ciências foram mantidos os mesmos 405 pontos, enquanto em Leitura houve uma piora de avaliação: de 411 para 410.

Desde que o Brasil passou a participar deste programa, no ano 2000, este foi o pior triênio da avaliação brasileira, o que demonstra que quando se trata de melhoria na qualidade da educação continuamos a patinar, não obstante ao aumento dos recursos aplicados no período e ao que é anunciado pelos governos.

Segundo Marcelle Ribeiro Andreas Schleicher, vice-diretor de Educação da OCDE, em entrevista ao “O Globo”, nosso país “foi bem sucedido em levar mais crianças à escola... Houve também aumento dos investimentos em Educação e progresso na atração dos melhores professores para salas de aula desafiadoras. Mas ainda há muito a fazer. A situação econômica das crianças ainda é um poderoso condutor do sucesso escolar do país”.

Um dos pontos apontados como problema do baixo rendimento dos nossos alunos, ainda é o montante dos recursos financeiros aplicados. Aqui gastamos R$ 64 mil por aluno do ensino básico, dos seis aos 15 anos, o que representa menos de um terço do que gastam os países desenvolvidos, que também foram avaliados pelo PISA. Estes gastam em torno de R$ 200 mil por aluno, durante esta mesma faixa etária.

Outro ponto é que nem tudo na Educação será resolvido com o aumento dos recursos financeiros. “Para avançar mais, o país terá que promover reformas profundas”, da forma como diz Priscila Cruz, diretora-executiva da ONG “Todos pela Educação”. Estas reformas, entretanto, sempre são retardadas pela gestão eminentemente política do sistema, em todos os níveis. Exemplo claro é a nomeação de secretários e ministros sem especialização e vivência na área.

Mas a questão que inicialmente tem que ser enfrentada é a qualidade das escolas e dos professores, pois como diz Andreas Schleicher “crianças mais pobres precisam ter acesso às melhores escolas”, de maneira que compreendam “que o aprendizado vai mudar a vida delas, no futuro”. É isto o que incentiva as crianças e faz diferença, evitando a evasão escolar.

Infelizmente, a Educação no Brasil continua ainda negligenciada. Os bons professores - aqueles que se esforçam em classe para valorizar o aluno - têm a mesma remuneração de professores medíocres, inclusive muitas vezes ainda são marginalizados. Temos o hábito de não valorizar a meritocracia - a eficiência - e nos acostumamos a passar a régua por baixo. Nem mesmo sabemos valorizar as melhores escolas. 

Neste sentido Schleicher nos dá uma aula em sua entrevista ao “O Globo”, ao citar como exemplo os países asiáticos, principalmente pelo alto valor que eles dão à Educação. Um caso exemplar é a China, que tem um contingente enorme de crianças pobres, mas que consegue atrair para suas escolas “professores muito qualificados”.

Com muito esforço, seguindo os exemplos de países bem sucedidos, tal como os asiáticos, o Brasil poderá se igualar aos países desenvolvidos em 2030, conforme opinião dos especialistas. Caso contrário, continuaremos susceptíveis aos discursos dos oportunistas e comprometendo o nosso futuro. Não se muda um país com mágica, mas com comprometimento, dedicação e trabalho.