sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Chegando ao fim do poço?

Sempre quando aparece um novo escândalo, o argumento governista para desviar o foco é o de que o malfeito aparece porque “agora a Polícia Federal investiga”. Como de hábito, os “cumpanheiros” vão para o ataque em uníssono, ora desqualificando tudo que foi realizado por governos anteriores, ora procurando desacreditar o trabalho da imprensa independente, dita como “golpista”. A tática costumeira é de que a melhor defesa é o ataque.  
Agora, com o escândalo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado Federa - criada para apurar irregularidades na Refinaria de Pasadena, nos EUA, ficou patente o jogo de cena de parlamentares e do governo. Na realidade eles demonstraram que nunca quiseram apurar nada! Daí o desprezo às Leis, aos princípios Republicanos, à Democracia e ao Estado de Direito, para não deixar que o malfeito respingue na candidata-presidente Dilma Rousseff.
Qualquer um que assistiu pelo menos uma sessão desta CPI na TV não terá duvida da farsa montada para impedir a investigação. Por isto, até a oposição decidiu se ausentar e não participar da CPI. O que não se imaginava é que o teatro da armação de perguntas e respostas seria dirigido diretamente do Palácio do Planalto, conforme apurado pelo jornal "O Estado de São Paulo", em complemento à reportagem da revista "VEJA" do último final de semana.

Pelo que foi apurado até aqui, a estratégia de ensaiar os investigados para que não incorressem em riscos de contradições nos depoimentos de atuais e ex-dirigentes da Petrobras, partiu do próprio gabinete da presidente. Ou seja, da Secretaria das Relações Institucionais, comandada pelo ministro Ricardo Berzoine, ex-presidente do PT. Lembremos que Berzoine foi parte do “estado maior dos aloprados”, pegos no malfeito de dossiês falsos contra José Serra.

Participaram da trama atual da CPI, dois assessores diretos de Berzoine, Luiz Azevedo (Secretário-Executivo das Relações Institucionais) e Paulo Argenta (Subchefe de Assuntos Parlamentares), além do chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Sobral Barrocas e da liderança do PT no Senado, em conluio com o redator da CPI, o senador José Pimentel (PT-CE), e do senador Delcídio Amaral (PT-MS).

A sensação que fica é que vale-tudo para esconder da nação o balcão de negócios que fizeram do governo e da Petrobras. Somente com as negociatas da Refinaria de Pasadena, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o prejuízo à empresa e ao país chegou a quase US$ 800 milhões. Em 2006, por ocasião do fechamento dos negócios, a presidente Dilma Rousseff respondia pela presidência do Conselho de Administração da Companhia.

E isto é só uma pedra de gelo no oceano. O iceberg, entretanto, parece monstruoso, ENORME, tamanha a capacidade do governo de gerar escândalos e jogá-los para debaixo do tapete.

A última piada é a criação de uma Comissão de Sindicância do próprio Senado Federal para apurar o conluio das perguntas e respostas combinadas, conforme anunciado pelo presidente daquela casa, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Certamente a função da Comissão de Sindicância será também de não apurar NADA!

Quando pensamos que a política já chegou ao fim do poço, observamos que sempre há um jeito de continuar cavando o terreno fétido e podre, porque esse fundo parece sem fim.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Calando o que quer dizer o mercado

Diz a sabedoria popular que “a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”. Foi assim mais uma vez no caso recente da analista de mercado do Banco Santander, que acabou demitida após alertas aos grandes correntistas daquela instituição financeira para os riscos da presidente Dilma Rousseff “se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas”. O argumento usado foi que “o câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam a alta e o índice da Bovespa cairia”. 

É patente que a analista demitida não disse nada de novo do que diz o mercado. Ele sempre é regulado pelas diretrizes e resultados da política econômica dos governos. O motivo da demissão, entretanto, é que o governo petista há tempo vem se sentido incomodado com as análises frias e cruas dos analistas, o que serve para demonstrar o seu perfil autoritário, como se o governo pudesse controlar os princípios que regem a movimentação do mercado.

Na última quarta-feira durante sabatina aos candidatos à presidência da República, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a presidente Dilma Rousseff demonstrou mais uma vez esse perfil e sua aversão às críticas. Ela enfatizou que as “expectativas pessimistas bloqueiam soluções e realizações”. Porém, não são os analistas de mercados, ou a imprensa, os responsáveis pelos insucessos do governo, mas os próprios agentes econômicos, escolhidos diretamente pela presidente.

Lastimável, mas o governo petista sempre procura atribuir a culpa de qualquer insucesso ao passado, à oposição ou à imprensa. Jamais aceita que o resultado possa ser conseqüência de uma política errada. Não havendo uma reflexão para dentro e o reconhecimento do erro (ou da incompetência?) fica difícil encontrar uma porta de saída e a solução para correção de rumo dos problemas.

E na área econômica não são poucos os indicadores desfavoráveis, que depõem contra a eficiência do governo. É lógico que eles servem como parâmetros de influência nos rumos do mercado.

Nesta semana, o Tesouro Nacional informou que no mês de junho as contas do governo apresentaram os piores resultados, desde o ano 2000. O déficit primário (sem contar o pagamento de juros) ficou em R$ 1,95 bilhão. No primeiro semestre, o superávit primário foi de apenas R$ 17,24 bilhões, valor este muito aquém do suficiente a alcançar a meta prometida pelo próprio governo para 2014, fixada em R$ 99,0 bilhões, ou 1,9 % do Produto Interno Bruto (PIB).

Também influenciam o mercado a previsão pífia de crescimento do PIB, estimada em 0,9% para 2014; a chamada “contabilidade criativa”, utilizada pelo governo para fazer superávit primário e o fechamento das contas; o aumento da inflação, com tendência de crescimento em percentuais muito além do centro da meta; a contenção da inflação com o represamento dos preços da energia elétrica e dos combustíveis; a desorganização, com aumento acelerado dos gastos públicos, entre tantos outros fatores desfavoráveis ao governo.


No entanto, nada assusta mais ao PT e aos seus aliados do que a possibilidade de perder o poder. Por isto esta pressão sobre o mercado. Por isto a demissão da analista, que acabou sendo a culpada pelas previsões sombrias. Realmente, a corda só arrebenta do lado mais fraco...