Após mais de sete anos de convivência com as autoridades
brasileiras, o presidente e o secretário-geral da Federação Internacional de
Futebol Associado (FIFA), Joseph S. Blatte e Jérôme Valcke, já entenderam o que
é o “jeitinho brasileiro”. Tanto é assim, que na iminência de não verem
cumpridas as promessas firmadas, ambos partiram para a política do morde e
assopra, de modo a evitar maiores desgastes.
Deve-se lembrar que o próprio Blatter, após visitar os
principais estádios de futebol brasileiro, em abril de 2007, alertou o então
presidente Lula e seu ministro dos Esportes, Orlando Silva, que nenhuma das
arenas vistoriadas tinha condições de sediar a Copa. Na ocasião também
abordaram os graves problemas de mobilidade urbana e de infraestrutura, bem
como a necessidade de obras, que ficariam como legados para a população das
cidades sedes.
A princípio o ex-presidente da Confederação Brasileira de
Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, prometera que as reformas e construções das
arenas seriam de responsabilidade da iniciativa privada. As demais obras
caberiam às cidades sedes e aos estados, com o apoio financeiro do governo
federal.
Antes, porém, o ministro Orlando Silva, com o aval de seu
chefe, já havia prometido o seguinte: “O Brasil fará o que for preciso para que
a Copa seja realizada no Brasil”. Depois o próprio Blatter demonstrou otimismo
na saída de uma reunião com Lula da Silva, diante da empolgação do
ex-presidente em realizar este evento.
Hoje, faltando 118 dias para o jogo inaugural entre o Brasil
e a Croácia, das seis arenas restantes, que deveriam ser entregues até o final
de 2013, apenas uma foi concluída. As arenas da Baixada (Coritiba) e a do
Corinthians (São Paulo) só ficarão prontas em abril. Quanto à mobilidade urbana
e a infraestrutura, diversas obras foram canceladas e poucas serão entregues a
tempo.
Recentemente, o coordenador técnico da seleção brasileira,
Carlos Alberto Parreira, em entrevista à CBN Esportes, afirmou ter havido “um
descaso total”. Lembrou ainda que vários aeroportos “só serão licitados a
partir de março, três meses antes”, e que isto é uma “brincadeira, pois fomos
indicados há sete anos e só agora vão licitar em março, às vésperas da Copa do
Mundo”.
No afã de mostrar ao mundo um país sem problemas, e ofertar
um espetáculo - ou um circo? - à população brasileira, fica evidente que o
governo petista não avaliou corretamente os encargos assumidos para realizar a
Copa do Mundo. “O descaso total”, que se refere Parreira, não é uma ilação, mas
a realidade nua de nosso fracasso no atual estágio da preparação.
A realidade é que estamos muito longe de um país de primeiro
mundo, da forma como nos querem fazer crer o governo, inclusive a própria
presidente Dilma Rousseff. Entretanto, continuamos com um dos piores
indicadores de educação, quando comparados ao mundo; uma saúde pública com
problemas de toda ordem. E a criminalidade e a segurança pública? O que dizer
então da infraestrutura e da mobilidade urbana? E de questão simples, como a
limpeza urbana das nossas cidades?
A presidente afirma que faremos “a Copa das Copas”, se
abstendo de mencionar qualquer problema, pelo menos publicamente. Em certos
casos ainda reluta em negá-los. Entretanto, é reconhecendo as deficiências o
primeiro caminho que temos para enfrentá-las.
O que tem ficado para o mundo das declarações de Blatter e de
Jérôme Valke, com relação aos atrasos do Brasil para a Copa do Mundo, é a
amostra da nossa incompetência. Perdemos, portanto, mais uma oportunidade. Quem
sabe, então, não seria necessário “um chute no traseiro” das autoridades
brasileiras, da forma como disse Jérôme Valke no início de março de 2012, para
despertá-las de seus fracassos.